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Cinema

Coisa de cinema

Os atores e diretores do filme “5 vezes favela – agora por nós mesmos” andaram pelo tapete vermelho do Festival de Cannes, o mais tradicional e exigente da indústria cinematográfica. Sob a batuta de Cacá Diegues, cinco diretores comandaram histórias diferentes, mas com um ponto em comum: ao invés de policiais que sobem o morro (como mostrado em “Tropa de Elite”) ou o tráfico que ocorre por lá (o mundo o viu em “Cidade de Deus”), “5 vezes favela” tem como tema central o homem, a mulher e as famílias que moram nos conjuntos habitacionais, hoje marginalizados, vistos pelos olhos de quem presencia essa realidade: os próprios moradores.

Quem não tem o apoio de Cacá Diegues recorre a produções independentes. É o caso do estudante de Publicidade e roteirista Bruno Robson, 20 anos, que já participou de duas produções locais e se prepara para fazer o primeiro curta solo. E, embora seja novo na profissão, Bruno é realista. “Nesse ramo é necessário se destacar mesmo, ou pelo menos ter bastante dinheiro e pessoas conhecidas. Porém, a diferença é que em outros países, o apoio ao cinema é maior, logo, eu diria que o grande desafio do pessoal de cinema do Brasil é o próprio Brasil”, comenta.

Os desafios, embora inegáveis, não significam empecilhos. A ampliação da oferta de cursos, inclusive fora do eixo Rio-São Paulo, demonstra o otimismo do mercado. Uma de suas consequências é a popularização de festivais de cinema, hoje itinerantes e levados aos cantos mais remotos do país (apenas Acre e Roraima não sediam festivais). São 123 eventos realizados anualmente, além dos nove festivais de cinema brasileiro que acontecem no exterior. De acordo com pesquisa realizada pelo Fórum dos Festivais, o número de eventos aumenta 19,82% ao ano. Além dos tradicionais festivais de curtas-metragens, longas ou animações, os eventos reúnem agora produções feitas com câmeras de celulares, transformando todo proprietário de um telefone móvel um cineasta em potencial.

As boas notícias não se refletem na bilheteria. A venda de ingressos para filmes nacionais cresceu apenas 6,6% entre 2001 e 2008, de acordo com dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Fatores como o domínio do mercado pelo cinema hollywoodiano, o aumento no preço dos ingressos, da violência urbana e das verbas necessárias à publicidade contribuem para que o brasileiro não saia de casa para assistir a uma produção nacional, optando por adquirir DVDs piratas.

Entretanto o otimismo se reflete na indústria, que registrou, no mesmo período, um aumento de 163% em produções nacionais. Não apenas filmes brasileiros batem recordes de bilheteria todos os anos, como 2010 viu surgir o filme nacional mais caro de todos os tempos: “Lula – O Filho do Brasil” custou R$16 milhões, todos eles provenientes da iniciativa privada.

Uma indústria cinematográfica mais otimista é justificável. “Hoje o cinema tem mercado cativo e é apoiado por diversos mecanismos de incentivo. Conta ainda com renomadas instituições que formam profissionais para este setor todos os anos. Nesse cenário, talvez a única dificuldade seja que boas iniciativas precisem concorrer entre si para que sejam realizadas”, afirma Bárbara Piva, produtora cultural da Fábrica do Futuro. Os residentes do projeto, com sede em Cataguases (MG), trabalham com produção cultural e audiovisual, fotografia estática e em movimento, edição de áudio e vídeo, comunicação, design e programação web baseadas na pesquisa, experimentação, formação, criação, produção e difusão em ambientes presencias ou em espaços de aprendizado à distância.

As novas possibilidades abrem portas até para quem nunca pegou em uma câmera. ONGs como a Vídeo nas Aldeias fazem de índios verdadeiros documentaristas, que imortalizam sua cultura em filme. Já o festival Vídeo Índio Brasil leva produções indígenas e não-indígenas sobre o tema para 101 cidades brasileiras. São curta, média e longa-metragens que mostram, como nunca, a realidade dos descendentes dos primeiros brasileiros.

A seleção brasileira de novos cineastas pode incluir também membros de comunidades carentes. ONGs como a Nós do Cinema, fundada por Fernando Meirelles e Kátia Lund, levam projetos audiovisuais para locais onde câmeras e microfones vão apenas para reportar a violência que os assola. Assim, munidos dos instrumentos necessários, os novos diretores desenvolvem sua própria imagem, raramente exposta, escondida sob os estereótipos criados por quem vê de fora. Os pacientes tornam-se, desta forma, agentes. Além disso, recebem o conhecimento técnico para inserir-se no mercado de trabalho.

Se os equipamentos e oficinas chegam, inclusive, aos pontos mais remotos do país e formam os mais improváveis cineastas, profissionais de cinema no Brasil ainda buscam conquistar espaço.  Há quem aposte em levar a luta para o ciberespaço. Sites como o Porta Curtas, da Petrobras, e especializados em hospedagem de vídeos, como o YouTube, servem de vitrine para quem busca plataformas de exibição de seus trabalhos. Bruno Robson, que exibe em seu canal do YouTube os curtas que ajudou a desenvolver, acredita que plataformas online abrem portas. “Com a força da internet, podemos divulgar um curta-metragem na Alemanha e no Japão ao mesmo tempo. O que pode ser feito é isso: mostrar seu trabalho para o mundo, criar algo bom e divulgar”, diz.

Leis e programas de incentivo só têm a ajudar. A Lei Rouanet, criada em 1991, contribui com quase 44% dos recursos usados na realização de festivais. O vale-cultura, projeto de lei do atual governo, pretende facilitar o acesso da população de baixa renda a programas culturais e espetáculos, cedendo um cartão mensal de R$50 a trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos para ser gasto com cinema, teatro, CDs ou DVDs.

O bom momento econômico vivido pelo país e o consequente aumento de público, produções e investidores traz possibilidades. “O Brasil é um país com força e jovens talentosos, que só precisam de um apoio. O cinema brasileiro não é tão valorizado, mas temos que produzir cada vez mais, ir atrás de patrocínio, festivais, concursos, não ter medo de criar. Precisamos pedir ajuda, já que existem muitos meios que apoiam a causa”, diz Bruno. “Apesar de tudo, sou otimista”, conclui.

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