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Agenda cultural

Deus da Carnificina lota teatro no Festival de Inverno do Sesc

Não é qualquer peça que com apenas um cenário e quatro atores dialogando consegue prender a atenção do público, surpreender e ainda arrancar risadas, mas foi exatamente assim com “Deus da Carnificina”, peça estrelada por Deborah Evelyn, Paulo Betti, Julia Lemmertz e Orã Figueiredo que completa um ano em cartaz, no próximo mês.

A história gira em torno de dois casais que se reúnem para discutir as medidas que vão ser tomadas a respeito de uma briga entre seus filhos, onde Ferdinando, filho de Annette e Alan (Lemmertz e Betti) machuca a boca de Bruno, filho de Michel e Verônica (Figueiredo e Evelyn), quebrando dois dentes incisivos do mesmo, após ser chamado de “caguete”. A polidez inicial de pais preocupados com seus filhos, logo vai se tornando uma troca de insultos onde temas como a liberdade, individualismo e até crises conjugais vem à tona. Os personagens vão mergulhando em reflexões internas sobre suas vidas fazendo com que o propósito inicial da reunião vá ficando de lado.

Michel Hortiz é um vendedor dos mais variados acessórios (de panelas à descargas) e é mais modesto em seu modo de se vestir e de falar, já sua esposa Verônica  é escritora de livros e árdua defensora da cultura e da cortesia. Em contrapartida, Alan Reis é um advogado rico e bem sucedido que só se importa  com seu trabalho, enquanto sua esposa Annette tenta a todo momento se entender e chegar a uma solução com os pais de Bruno.

A cordialidade inicial vai perdendo espaço para assuntos banais e questões que levam os personagens (e por que não,  o público) à reflexão em meio a diálogos engraçados, porém como cada um vai se focando cada vez mais em seus próprios problemas, as discussões não acabam, pois todos se acham os donos da razão, as perguntas continuam sem respostas e o problema inicial permanece sem solução… Mas a vida é assim, né? Na busca do auto-conhecimento e de respostas que calem nossos anseios, acabamos nos esquecendo dos problemas que não nos afetam diretamente e os ignoramos, porque no fundo, todos nós somos egoístas.

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Após a peça, nossa repórter Nathália Pandeló fez uma rápida entrevista com os atores, onde eles comentam sobre o espetáculo, as diferenças entre trabalhar no teatro e em outros veículos e até mesmo sobre o que os tiram do sério. Confira abaixo:

AeP: Depois de 1 ano em cartaz, há um desgaste ou vocês conseguem se reinventar ?

Julia Lemmertz: Emílio (Emílio de Mello é o diretor da peça) é muito exigente, temos que estar muito ligados o tempo todo na ação, no que está acontecendo uns com os outros. Ele fala muito p/ gente não perder o todo da coisa, não ficar preocupado consigo e sim com o jogo, então é muito rico, deixa a gente preparado. Como são quatro personagens muito diferentes, cada um coloca coisas que atinja o outro, eles vão se revelando…

AeP: Vocês também trabalham muito com TV, teatro e cinema, mas com o teatro a dinâmica deve ser muito mais exigente, pois há um contato direto com o público. Como isso muda para vocês como atores, até no processo de preparação?

Deborah Evelyn: É completamente diferente, primeiro que teatro não tem raia, você mergulha na coisa durante dois meses. Já TV e cinema são muito maiores, não tem esse refinamento do trabalho de ficar dois meses ali estudando e ter o público vai mudando, não é sempre a mesma coisa, porque cada público faz a gente ser diferente. Essa peça às vezes tem público que faz a gente esperar p/ falar, porque ri muito.

AeP: Na peça, os personagens aos poucos vão perdendo a compostura. O que faz vocês perderem a compostura, descerem do salto?

Lemmertz: Bom, eu não desço do salto não, mas acho que normalmente o que me tira do sério é quando mexem com os meus filhos. Quando você vê uma injustiça, você vê seu filho sofrendo por alguma questão… Educação é uma coisa que me tira do sério, educar é muito difícil e ver como o mundo está se tornando. É muito assustador! A falta de tolerância é comum na vida de hoje, e o espetáculo toca nesse lugar.

Deborah: Mexer com a minha filha, aí realmente não há razão que me faça não perder a razão. O resto eu sempre me arrependo, eu sempre acho que não se acertam as coisas dessa maneira, na agressão…

Paulo Betti: É difícil ouvir uma opinião contrária a sua e conseguir assimilar com carinho, com afeto… Então tem muita coisa, a gente vive numa panela de pressão, a gente vive numa chapa quente, porque as condições são sempre muito adversas. Vivemos sob tensão e medo. A gente pode pisar num bueiro e explodir, se chacoalha o avião a gente pensa que vai morrer, a gente vive uma vida muito agitada…

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