Publicidade Concer: Sustentabilidade e economia
Publicidade Concer: Sustentabilidade e economia
Especiais

“Perdi tudo, mas a minha família está bem”

No dia 12 de janeiro de 2011 grande parte do Vale do Cuiabá foi destruída pela correnteza das chuvas que atingiu a Região Serrana do estado do Rio de Janeiro.

A água não poupou a vida de muitas pessoas que viviam nas localidades das três cidades que sofreram com a tragédia. Para quem conseguiu se salvar, ela trouxe também muitos prejuízos materiais e emocionais.

Nathália de Mello Ramos tem 20 anos. No dia da tragédia muita coisa mudou na vida dela. A rotina de sair de casa e poder retornar foi tirada da jovem. Ela contou que estava dormindo, e por volta das três horas da manhã, a mãe dela foi acordá-la, pois ouviu os gritos dos vizinhos. “Eu acordei sem saber direito o que estava acontecendo. Só deu tempo de pegar a minha bolsa com meus documentos e sair. Chovia bastante, mas não imaginei que algo tão terrível poderia acontecer no bairro” contou.

Às quatro horas da manhã quando já estava na casa de um vizinho que mora acima de onde ficava a residência dela,  com a ajuda do clarão dos relâmpagos ela conseguiu ver a ponte, que atravessava todos os dias, ser partida e descer na enxurrada. “Foi terrível. Uma noite de terror não esquecerei jamais. Eu não consegui ficar olhando, tinha medo de ver a minha casa desabar também” revelou.

A forte correnteza trazia destroços de casas, carros, animais e também de pessoas. Uma madrugada que alterava a vida de muitas pessoas ao mesmo tempo. “Alguns instantes depois de ver a ponte caindo fui para dentro da casa do Paulo e só conseguia chorar. De repente a minha prima Paula veio e me contou o que eu não queria acreditar – A sua casa desabou e não restou nada – Eu não podia acreditar no que ela estava falando, afinal não era tanta chuva a ponto de levar a minha casa inteira, eu não tinha ideia da proporção da tragédia” afirma.

“Durante aquela madrugada a única coisa que eu ouvia era muito barulho, confusos, não dava para ver nada estava muito escuro só quando relampejava que dava par ver alguma coisa. Eram vozes misturadas, gritos de socorro, coisas que a gente só assiste em filmes de terror. Eu não acreditava no que estava acontecendo. Achei que  a qualquer momento iria acordar e ver que não era real.” comentou

Segundo Nathália o pior momento foi quando amanheceu. O raiar do dia trouxe imagens marcantes. “Às cinco da manhã eu vi o lugar onde era a minha casa. Não tinha mais nada lá. Um vazio, nem sequer o piso da casa restou. Eu me senti totalmente sem chão, afinal eu passei toda a minha vida naquele lugar. Eu não sabia o que fazer. Não dá para entender. Perdi tudo que eu tinha, pensei na hora, mas quando olhei para o lado e vi meus pais e meu irmão mais novo pensei: Perdi tudo, mas a minha família está bem. E o meu irmão também, inconformado com o que via, olhou para o meu pai e perguntou: – como vamos recomeçar? – e meu pai nem conseguiu responder”, contou.

O desespero tomou conta de todos que passavam pela localidade, mas as pessoas agradeciam a Deus por estarem vivas e lamentavam aos prantos, por amigos e entes queridos que faleceram. “A vó Florinda e o vô Dário foram embora. Não pude me despedir. Sinto saudades deles. Foi muito difícil ter que encarar a realidade, mas enfim a vida tem que seguir em frente. Um dia terei a oportunidade de estar com eles novamente, tenho certeza” disse.

“Eu aprendi a valorizar cada minuto com a minha família”

Seis meses após a tragédia e muitos aprendizados com tudo que aconteceu. “Eu aprendi a valorizar cada minuto com a minha família. Na noite de terça nós comemoramos o aniversário do meu pai. Estávamos em casa, jantamos juntos, rimos, conversamos e parecia um dia normal. Tínhamos tudo, e em algumas horas perdemos todos os nossos bens materiais. Nós estamos vivos e bem, vamos recomeçar. Objetos, o dinheiro pode comprar, não sei o que seria da minha vida se perdesse a minha família” revelou.

Atualmente Nathália e a família estão morando na casa de uma tia, que emprestou a residência, no Vale do Cuiabá mesmo. Ela está trabalhando e tentando recomeçar a vida de uma forma diferente. “Eu venho para o Cuiabá e não vejo mais graça porque ainda sinto vazio quando olho para o lugar onde era a minha casa, onde passei toda a minha infância e os melhores momentos da minha vida. Eu gostaria de ir embora. Só quero ter recordações boas de tudo que vivi no bairro. Agora eu mudei quero aproveitar cada momento como se fosse o último, porque na verdade, realmente pode ser.” finalizou.

Botão Voltar ao topo
error: Favor não reproduzir o conteúdo do AeP sem autorização ([email protected]).