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Roda Cultural acontece todas as quintas na Praça Visconde de Mauá

Fotos: Julie Ladvocat

Quem passa pelos arredores do Centro de Cultura Raul de Leoni em uma quinta-feira à noite vê uma cena comum a quem transita pela Praça Visconde de Mauá: um aglomerado de jovens que elegeram um dos cartões postais da cidade – o Palácio Amarelo, onde funciona a Câmara Municipal – como seu ponto de encontro preferido. Às quintas-feiras, no entanto, o grupo é notavelmente maior. O motivo é a realização da “Roda Cultural do CdC”, que acontece semanalmente no local a partir das 19h.

O encontro reúne diferentes formas de arte, do grafite à poesia. O principal atrativo é, no entanto, a batalha de rimas de rap, uma competição que tem 8 MCs disputando a cada noite e, nesta quinta, terá a final do mês entre os vencedores das rodas realizadas semanalmente – os MCs Coxinha, Durango Kid, Frejat e Pará. O vencedor ganhará a produção instrumental, gravação e mixagem de uma música, além de uma tatuagem.

As batalhas são decididas através de um sorteio numerado, que define os inscritos que se enfrentarão. A melhor rima é definida pelo público, que faz barulho, vibra e aplaude durante a votação. O espaço e o público relativamente pequeno possibilitam que a disputa seja feita de forma acústica, sem a necessidade de amplificadores.

Dois MCs que se enfrentarão decidem no par ou ímpar quem começa. O ataque do primeiro round dura 45 segundos. Já o segundo tem um minuto e meio – metade do tempo para defesa e a outra metade para o ataque. O MC que começou a batalha tem outros 45 segundos para se defender. Os vencedores das quatro batalhas vão para a semifinal e, consequentemente, os dois ganhadores se enfrentam na final.

Apesar de ter se originado do sarau realizado na Praça D. Pedro II, o movimento da roda é recente. Surgiu no início de fevereiro de forma despretensiosa, quando os amigos Marcelo Moraes, Thiago Barcelos e Lucas Sixel – conhecidos como os MCs Durango Kid, Kablan e Caslu, respectivamente – criaram um evento no Facebook. “Sempre nos reuníamos em rodas pra rimar. Nos mobilizamos em um dia, pois queria gravar um vídeo promo do meu trabalho”, conta Moraes.

Deu certo. A divulgação feita exclusivamente no Facebook atraiu quase 50 pessoas em plena quarta-feira. Chegando à sua sétima semana, a roda cultural, agora realizada às quintas, tem público médio de mais de 70 pessoas. E o objetivo é que o evento cresça ainda mais. “Ocupamos a rua de forma independente e colaborativa, para trocar arte e fazer o que gostamos. Queremos lotar o gramado, mas o conceito é fazer sempre a roda na rua, seja com 50 ou 500 pessoas”, completa Durango.

A novidade atraiu a juventude petropolitana. “A cultura de rua ainda é muito marginalizada, mas a cidade com certeza tem um público de rap”, revela Kablan, acrescentando que a Nação Hip-Hop existe desde 2006 em Petrópolis. O coletivo promove eventos do gênero e disponibiliza faixas dos MCs da cidade em sua página do Soundcloud. Prova da multiplicidade de linguagens, a roda já contou com a participação dos músicos Pedro Maia, Gabriel Tauk e Guido Martini – os dois últimos mais conhecidos como integrantes da Tribo de Gonzaga -, além dos MCs Austin, de Angola, e Brian, da Argentina.

O público também é variado, composto de crianças a adultos, homens e mulheres. Elas, inclusive, participam das batalhas. “Não tem xingamento, porque o duelo é retórico, de ideias. O respeito ao oponente é a agressão bem feita”, explica Durango, que venceu a primeira batalha contra o MC Frejat.

Essa também é a percepção da estudante Thais Lima, a “Lora”. Apesar de ter crescido ouvindo rap, foi na Roda do CdC que ela estreou nas batalhas. A motivação veio da necessidade de se expressar e mostrar o cotidiano. “Gosto de ouvir a realidade, estou cansada de músicas de ficção, de contos de fadas, vida perfeita e final feliz. Na verdade não é assim, muito pelo contrário, e o rap traz isso, essa essência da realidade. Agradando ou não, nós queremos nos expressar”, explica.

No início não foi fácil. O maior desafio foi vencer a timidez. Depois de uma roda, Thais arriscou o primeiro free style, caracterizado por letras improvisadas, e foi incentivada pelos amigos, participando da primeira batalha três semanas depois. Em sua estreia, Thais chegou à semifinal, perdendo apenas no terceiro round. “Sempre gostei de rap, mas nunca me imaginei na cena. Conhecendo o pessoal do rap petropolitano, comecei a me envolver, só assistindo. Tinha muita vergonha, mas os meninos sempre me incentivavam”, lembra.

A primeira batalha foi contra uma amiga. Nessas horas, o ataque é feito com respeito, mas a disputa deixa a amizade de lado. “Quem tem a melhor rima, melhor contexto e intelecto no free ganha”, conta Thais, que rimou, “Você é minha amiga, mas agora deixa isso pra lá. Aqui é batalha e hoje sou eu quem vai ganhar”. No fim das contas, não ficam ressentimentos, independente de quem ganhe. “Acabamos a batalha e, antes da votação, já nos abraçamos”, completa.

Embora os meninos sejam maioria, as meninas são bem-vindas nas rodas. No entanto, elas disputam com eles de igual para igual e sem tratamento diferenciado. “Não tem muita mulher que rima, então geral bota fé e dá o maior incentivo, porque a presença feminina também deixa a parada mais bonita”, declara Thais. Quem passa pela roda, no entanto, pode estranhar. “O pessoal não vê com bons olhos, acha que é coisa de marginal. Mas a gente tenta mostrar que é cultura. Ninguém lá é discriminado e é livre para chegar e expor, seja ideias, trabalhos ou opiniões. É livre. A roda é de todos para todos”, completa.

Com tanta gente no gramado em frente ao Palácio Amarelo, Kablan, o mestre de cerimônias, aproveita para lembrar os freqüentadores da roda de colaborarem com a limpeza do espaço. “Levamos sacos e nossas próprias lixeiras e pedimos ao pessoal para colaborar, para não deixamos o gramado sujo. É importante educar e conscientizar”, explica Caslu. “A roda é uma transmissão de cultura, mas também de valores. Assim, mostramos que a juventude petropolitana é educada e não só faz coisas ruins, como às vezes é acusada”, conclui Durango.

Embora a disputa do mês chegue ao fim, a ideia é manter os encontros semanais. Para Moraes, “o maior barato de fazer a parada na rua é agregar”. Com público crescente e fiel e participação de artistas em geral, nesse quesito a Roda Cultural do CdC já é um sucesso.

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