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Cultura & Lazer

Fôlego novo na pista

Foto: Rafael Porto

Para quem está na boate, quase sempre é uma surpresa. Às batidas que saem da pick-up do DJ, soma-se o som aveludado do saxofone, que se une ao ritmo em intervenções instrumentais ao vivo.

Parece novidade, mas não é. Músicos e DJs já vêm colaborando há algum tempo, mas a tendência ganhou força no último ano. Embora seja uma parceria inusitada, as apresentações do tipo já são populares na cena eletrônica do Rio de Janeiro.

O saxofonista e flautista petropolitano Breno Morais é um dos músicos que desenvolvem trabalhos colaborativos com DJs. Ele soma parcerias com Maurício Lage, Vitor Ventura (com quem forma o Beatthoven, juntamente com Rodney Morelli) e Papagaio, e investe atualmente no projeto Insertion, com o carioca Márcio Sants. O nome remete à inserção instrumental durante os sets ao vivo.

“O papel do instrumento é contribuir com o DJ para de certa forma ornamentar a música, entrar no ritmo e fazer a festa para quem está na pista. É uma dinâmica diferente de tocar com outros músicos, porque é preciso criar algo em cima de uma base que já existe. Mas o instrumento vem para humanizar a música eletrônica”, explica o músico, que toca os saxofones alto e tenor, além da flauta.

As live sessions, como são chamadas, passeiam por várias vertentes da música eletrônica, do nu disco ao deep house, passando por freqüências mais fortes e envolventes. É música para todos os ouvidos, já que flerta com o vintage e o rock.

Por isso, as apresentações não são exclusividade das boates. Com o intuito de transmitir a energia contagiante e vibrante da música, o duo se apresenta em comemorações diversas e até em eventos corporativos. “Na pista, é mais dançante. No lounge, é mais relax”, explica.

Morais, que traz uma vasta experiência na música instrumental, com passagem por coral, oficinas e trabalhos com música em teatro e TV, é mais conhecido em Petrópolis pelas rodas de chorinho do grupo Taruíra, que este ano completa 10 anos. Há dois, ele vem estudando house music após tocar com um DJ em uma festa de casamento e, desde então, já se apresentou com outros. “Estou gravando em casa, trabalhando com bases prontas e somando o sax a músicas diversas, antigas ou atuais, que o pessoal já conhece. Vou tentar lançar na internet uma por mês”, planeja o músico, que criou uma página no Soundcloud (www.soundcloud.com/brenomorais) para disponibilizar as faixas.

Embora outros tipos de instrumento tenham se mostrado uma boa combinação com a música eletrônica, o sopro ainda é maioria. Prova disso é o gaitista Marcelo Buddy, que ganha destaque nas apresentações com o DJ Matrix em Búzios.

Buddy também é novo na eletrônica. O petropolitano comanda a Oniblues Band e lança, em maio, um disco autoral. Mas em novembro do ano passado surgiu a oportunidade de se apresentar com o DJ em um lounge, e a parceria dura até hoje, com o projeto Electronic Harmonica. “Antes, eu não era fã de house music, deep house… Hoje, estudo em casa, o DJ me passa o set e eu vou ensaiando, sentindo a música e o tom e fazendo as inserções com a gaita. Às vezes rola uma energia. Se ficar poluído, descarto”, diz, explicando o processo.

A combinação do instrumento com música eletrônica é inédita, outro motivo para ser primordialmente experimental. Nas live sessions, Marcelo utiliza gaitas diatônicas em tons menores e conta com o improviso. “Pratico, mas sempre rola um freestyle na hora, e o pessoal curte muito”, conta.

O “pessoal” corresponde ao público dos lounges: classe alta, de cerca de 30 anos ou mais e muitos turistas e gringos que visitam a Região dos Lagos, onde a tendência é crescente. O próximo passo é atingir um novo alvo: os jovens que freqüentam as raves, que atraem até 50 mil pessoas a cada festa.

A expectativa é que os duos do tipo fiquem cada vez mais populares, e a boa receptividade do público é o principal motivo. Aos poucos, boates, lounges e até restaurantes dão mais espaço à novidade. Para o produtor e DJ petropolitano Maurício Lage, com quem Morais já se apresentou no Via Sete, no Leblon, o boom já aconteceu por lá. “Trabalho mais no Rio, e essa junção do eletrônico e do orgânico é certamente uma tendência, mas já houve um bom crescimento e agora deve acontecer uma seleção e estabilizar esse novo mercado”, analisa.

Os músicos vêem nesses trabalhos a oportunidade de experimentar e obter novas gigs, mas principalmente acrescentar um elemento que passa despercebido na música eletrônica: o lado humano. “Ver um instrumentista com um DJ muda muito a percepção das pessoas em relação à música. Elas recebem muito bem essa união de duas correntes, a analógica com a digital, e com isso a própria eletrônica ganha mais valor. Por isso, deve aumentar ainda mais”, considera Buddy.

Nos últimos seis meses, Breno Morais também viu esses trabalhos surgirem com freqüência cada vez maior. “A galera já está acostumada, e a tendência é crescer”, concorda. Fôlego é o que não falta.

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