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Aconteceu em Petrópolis

Aconteceu em Petrópolis: Breve história do rock n’ roll em Petrópolis nos anos 90

(Fotos: Mariana Rocha)

por Norton Ribeiro

Hoje acordei normalmente, um pouco mais aliviado em virtude da aproximação do recesso de julho, um descanso, não é mesmo? Afinal, professores precisam dessa pausa. No mais, a mesma insônia de sempre… Bem, para continuar o dia fui ver as notícias na internet e já imaginava que muitos estariam comentando sobre o Dia Mundial do Rock e, apesar de nosso país e nossa cidade terem questões sérias para serem debatidas (não que o rock e a música sejam desnecessários), algumas atitudes acabam nos causando grandes problemas quando são deixadas de lado, como uma eleição, por exemplo.  Entretanto, gostaria de deixar um registro sobre minhas memórias a respeito do que vi e vivi no microcosmo do rock n’ roll em nossa cidade, sobretudo nos anos 90.

Em 1991 comecei a aprender violão e, como quase todo adolescente, pretendia migrar para a guitarra, o que ocorreu rapidamente. Estudava no Colégio Estadual D. Pedro II e também, como quase todo adolescente, formei minha primeira banda de rock juntamente com os amigos Guido Martini, Rodrigo Xavier, Ricardo Emmel e Márcio Sátiro. Sabíamos muito pouco sobre os segredos musicais que, aliás, estudaremos para sempre, mas era uma grande diversão. Bem, mas minha intenção neste artigo é falar sobre as bandas e festivais da época e não minha biografia. Vamos a eles.

Na época ouvíamos basicamente rock americano e inglês, tínhamos certo preconceito com a música do Brasil, mesmo que fosse rock, no máximo um Barão Vermelho, um problema que foi acabando com o tempo. Porém, sabíamos que havia bandas importantes em Petrópolis como o Black Zé, a S.O.S., a Essfinge, o Marco Aureh, o Bira Rasta e queríamos nos integrar com o pessoal da música. Do nosso mundo rodeado por fitas cassete, capas e discos de vinil, passamos a frequentar espaços na cidade em que havia alguma música. Foi muito legal quando conheci a loja do Bill Valey, no Shopping Bauhaus, onde eu “babava” vendo as guitarras e os shows que rolavam à tarde. Na verdade, eram canjas e quem chegasse poderia tocar – claro que eu não me atrevia a entrar no meio do ninho de cobras, no bom sentido. No colégio, resolvemos nos meter em tudo que era projeto cultural para poder nos apresentar e ficamos bastante conhecidos em nosso mundo. Num desses shows, um desfile de moda na escola, tocamos junto com outra banda na qual estava o Ricardinho, hoje Rik Oliveira, da banda Tokaia, destruindo na guitarra, acho que com 12 anos. Embora iniciantes, fizemos sucesso com nossa galera. A banda chamava-se Badge, nome que escolhi ao ouvir uma música de Eric Clapton com mesmo título.

Depois disso, começamos a tocar em festinhas. Ensaiávamos mais do que tocávamos e gostávamos de ver outros músicos da cidade. Aos poucos, fui conhecendo amigos de outras bandas e entrando nesse mundo.

No ano de 1993, assisti no Centro de Cultura a um dos shows mais importantes e bem cuidados da época. Tratava-se do Blues Anthology, que continuava com o Rock Anthology. Fui com meu amigo Marcelo Buddy Guy e ficamos maravilhados no evento que contava a história do blues com suas músicas e performance teatral. A banda era composta de feras como Carlos Watkins, Carlos Lisboa, Cacá Beltrão, Cizo Cerqueira, dentre outros.

Em setembro de 1993, ocorreu um festival de bandas no Serrano F.C. que marcaria a todos tanto pela empolgação quanto pelos problemas enfrentados. As bandas que subiram a palco naquele sábado, dia 25, foram a Living Deadmen, Sexx Action, Leprechaun e Badge. Não lembro porque ficamos por último, mas comecei a perceber que muita coisa não ia bem. O tempo estava chuvoso, afastando o público, que basicamente eram nossos familiares. Precisávamos pagar o som, que foi cobrado em dólar, e lembro-me de correr pra pagar no dia determinado (senão seria outro preço – não existia plano Real, meus amigos), e o show só deu prejuízo. Como qualquer show de rock, tinha um pessoal muito louco na plateia que havia bebido muito e os diretores do clube estavam ficando estressados. Lembro-me do Alex Barizon dando mosh, aterrorizando as famílias que assistiam. Nós adorávamos. Não lembro muito bem do som da Living Deadmen; a Sexx Action tinha um som e visual poser, como chamávamos, maquiavam-se, faziam o cabelo, inspiravam-se na banda Poison; A Leprechaun estava fazendo uma mistura com o rap e hard core, bastante peso; a Badge era hard rock, éramos cover do Guns n’ Roses e muitos nos odiavam, mas neste dia tocamos Metalica e Deep Purple. No final, acenderam as luzes em nossa última música, o pessoal do Serrano queria expulsar todo mundo. Foi divertido.

Em 1994, outros espaços foram se abrindo para aquela juventude. Na Concha Acústica do Museu Imperial, ocorria a noite do artista petropolitano, na qual nós e muitos outros se apresentaram. Houve um show bem legal no colégio Opção do qual participamos com a Angel Heart, banda de Gustavo Monsanto. Ainda nesse ano, em novembro, houve a reinauguração do Teatro Municipal, sob a direção de Breno Moroni. Foi uma grande festa com música, teatro e poesia nas escadarias do teatro. No dia das bandas, houve uma tromba d’água um pouco antes e o palco estava molhado. O choque elétrico era inevitável, não podíamos encostar um no outro.

Em janeiro de 1995, outro festival agitou o rock n’ roll na cidade. No Teatro Santa Cecília encontraram-se as bandas: Black Daniels (Dudu King na guitarra); New Underground (a Lou Marques era chamada de Lu Janis), bom rock n’ roll setentista, influenciados por Janis Joplin, com Jaime Veinho no baixo, Rusnei Serra e Eduardo Barenco na guitarra e Fernando Barenco na batera; a Badge, de rock n’ roll e blues, mostrou uma composição própria. A banda tinha mudado bastante: Norton e Rodrigo nas guitarras, Guido nos vocais, Gustavo Lambert na bateria, Fabio Carvalho na gaita e Adriano Gouvêa no baixo; Montana Blues, uma banda que me influenciou muito – a primeira vez que os vi foi no Café Concerto, na Rua 16 de Março, com o Bruno Sutter nos vocais. O Pestana deu uma canja e fiquei louco, e no festival do Santa Cecília ele já tinha assumido com a Sandra Vila-Real os vocais; Stefani Araújo na guitarra, no baixo não lembro se era o Felipe Rangel, grande músico, ou Rodolfo Araújo, e na batera o Marquinho; Bang Bang Rock, era a mesma galera do Sexx Action, com Cris Sex nos vocais e nosso amigo Marcelo Werneck na bateria; Argus, banda nascida num bar da 16 de Março quando estávamos preparando esse festival. Tinha Bruno Sutter no vocal, Sami na guitarra e o Werneck na bateria. Era um rock bem pesado, os caras amavam Uriah Heep e Black Sabbath. Quando estávamos eu, Stefani e Bruno Sutter colando os cartazes para esse show dias antes de madrugada, lembro-me do Bruno dizendo “Detesto blues, eu quero ser o Ozzy”. Esse foi um evento melhor organizado, conseguimos patrocínio e tal e nem tivemos que pagar nada.

Vários bares começaram a apostar no rock n’ roll da cidade, como a Gutti Choperia, que todos adoravam; o Feitiço da Lua, que depois virou bar GLS; o Cet Bar, no condomínio Taquara; o Chopp 1 e o Rala-Rala, um trailer na subida do morro do Gulf que foi soterrado há alguns anos por uma barreira num dia de sol. Uma vez estávamos tocando Rolling Stones com canja de Cizo Cerqueira e o Werneck na batera até que os funkeiros começaram a jogar pedra no telhado de zinco. Achamos que era tiro e cada um deu um pulo pra um lado. Felizmente nada de grave aconteceu, somente as “pedras rolaram”.

No Monte Líbano, fizemos outro festival de bandas – na verdade uma temporada, chamada “Quinta é dia de Rock”. Pestana colocava fogo nos copinhos de plástico, ajoelhava como Jimi Hendrix e gritava “Fire, Fire”. Era o máximo!

Houve um show importane no Centro de Cultura, acredito que em 1996, comandado por Cizo Cerqueira: o Three Line Harp. Eram três gaitas que formavam acordes em arranjos formados por Cizinho. Havia uma banda de apoio e nas gaitas estavam o próprio Cizo, Marcelo Buddy Guy e Rodrigo Jaguaribe. A proposta foi bem interesante.

Em agosto de 1997, fizemos um show importante em nossa carreira, trazendo a proposta do acústico para a cidade. O show chamava-se Pelos Bares da Noite e mudamos o nome da banda para Velha Estação. Foi um repertório escolhido com carinho, com músicas de rock n’ roll nas quais o violão sobressaía, novos arranjos, com homenagens aos 20 anos sem Elvis Presley, 30 anos do Sgt. Peppers e 100 anos de Pixinguinha. Tocamos Carinhoso em blues. Tínhamos a Lu e a Glaucia Martins nos backing vocals e André Mendes no piano. O público não coube na sala Afonso Arinos.

Outro evento que reuniu uma galera da pesada – Rest in Peace, ACP, Velha Estação, Bandalheira – ocorreu no Mon Recoin e foi chamado de Manifestasom. Uma produção minha e de Arilson Ceschini que foi uma tentativa manifestar nossa arte e nos mantermos vivos, juntamente com o público, apesar das dificuldades.

No final dos anos 90, deixo um destaque para o bar do Dedinho, na João Xavier. Era o luar mais undergroud de Petrópolis e todo mundo adorava. O som começava no domingo, às 18hs, e não tinha hora pra acabar. Numa dessas noites, conheci o Fabiano Fiúza, um baterista nervoso que havia migrado do heavy metal, com quem dei uma canja. Nosso amigo Dedinho era uma figuraça que adorava rock n’ roll e nos recebia com grande entusiasmo. Estávamos realmente em casa. Chegamos a cogitar um grande festival, tipo Woodstock, no campo de futebol, mas não conseguíamos realizar todas as reuniões na segunda-feira na casa do Dedo, devido à ressaca do domingo.

Bem, amigos. Com certeza muita coisa ficou de fora deste artigo. Desculpem se esqueci alguém ou alguma situação, mas o fato é que Petrópolis tem muita gente boa tocando em vários estilos, compondo uma força que aumenta a cada fim de semana. Esta é uma pequena homenagem ao Dia Mundial do Rock.

13 Comentários

  1. Parabéns Norton pelas linhas bem colocadas e histórias que me fizeram relembrar muitos shows. Se juntarmos esse post com histórias de Jorge Amorim(Bozó), Gustavinho, Percy, Gus Monsanto, Ronnie Kid, Léo Carbonelli, Francis Drake, Carlos Lisboa, Ricardinho, Gabriel(Tokaia), Gargamel, Heitor Peres, entre os já citados por você… teremos um livro maravilhoso de memórias do rock petropolitano…e dos bons… Valeu!!

    1. Obrigado, amigo. Realmente é preciso uma pesquisa maior com depoimentos e coleta de arquivos pessoais. ainda existem muitos tesouros guardados na memória de cada um.

  2. Grande idéia, Norton, fazer essa restropectiva, muita coisa há, prá ser contada, sobre o movimento musical petropolitano! Valeu!

  3. Cara, eu viajei no tempo agora…parabéns mesmo! Valeeeeu

  4. Valeu Norton !!!
    Estou longe de Petrópolis bastante tempo ,
    Fico muito feliz de ter feito parte dessa história
    Sou fundador da Banda Essfinge a formação
    Era Márcio Lelis ,Marcus Simão ,GilsonWilbert
    E eu Fabiano Shumurani (gordo) ,
    Obrigado voltei no tempo agora !!!

  5. Nossaaaa, passou um filme da minha adolescência em minha mente lendo seu texto.
    Muito obrigadooo pela lembrança.
    Parabénsss e tudo de bom.

  6. seu texto foi um “achado”,
    merecia virar um pequeno documentário.
    já pensou na ídeia ?..rs
    obrigado…

  7. Sinto-me honrado pela lembranca,amigo e ex-aluno Norton. Coisas q jamais serao apagadas da memoria,historias de vidas,sementes plantadas e conquistas…e dizer q nao somos apenas mais um e sim parte dos q fizeram e fazem parte da Historia do ROCK de nossa cidade com mta honra…Abrc fraterno do amigo, Ate sempre…Vc e o cara,Valeu

  8. Norton, cheguei ao seu site procurando algum diretório das bandas atualmente atuando em Petrópolis. Estou procurando contatos para um evento que faremos em breve. Agradeceria se pudesse me ajudar nisso.

    abs

  9. Que retrospectiva maravilhosa!
    Fui fazer uma pesquisa porque queria relembrar sobre a banda Badge e achei essa matéria.
    Ficamos mais que nostálgicos ao relembrar e rever em nosso pensamento tantos momentos, pessoas e músicas.
    Retrospectiva impecável, muito obrigado!

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