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Entrevistas

Petropolitano mostra ter senso de humor e é receptivo ao stand-up

Charles Chaplin já dizia que “a vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe”, principalmente se percebida por um olhar aguçado e diferenciado sobre o cotidiano, características estas do stand-up comedy, que vem ganhando cada vez mais força no Brasil.

Um comediante em pé no palco sem acessórios, cenários, personagens ou qualquer recurso teatral, assim é o humor de cara limpa que só nos Estado Unidos projetou nomes como: Eddie Murphy, Jim Carrey, Steve Martin, Chris Rock, Jerry Seinfeld e, que no Brasil, tiveram Chico Anysio e José Vasconcelos como pioneiros do gênero.

Eles abriram as portas para toda uma nova geração de comediantes e assim, surgiram grupos com o “Comédia em Pé”, no Rio de Janeiro e o “Clube da Comédia”, em São Paulo, onde humoristas como Rafinha Bastos, Marcelo Mansfield, Claudio Torres Gonzaga, Danilo Gentili, Marcela Leal, Oscar Filho, Paulo Carvalho, Diogo Portugal, Fábio Porchat e Fernando Caruso começaram a disseminar esse estilo de humor através de pequenas apresentações em bares e teatros.

Depois de receber Fábio Porchat, Marcos Veras, Paulo Gustavo, Fernando Ceylão, Sérgio Mallandro e tantos outros humoristas nos teatros petropolitanos, o bar e restaurante Nucrepe junto ao comediante Pedro Pan criaram o Comédia Nupalco, onde de quinze em quinze dias, aos domingos, acontecem apresentações de stand-up com convidados diferentes  “para começar bem a semana e terminá-la de bom humor”.

Desde que o Comédia Nupalco nasceu, passaram por lá: Ulisses Mattos, Anderson Gago, Leandro Teixeira, Fabio Vasconcelos, Léo Ramos, Júnior Chicó, Lucas Moreira, Raul Franco, Richard Rebelo e André Teixeira. Além de Rafael Studart, Paulo Carvalho e Paulo Vinnicius que falaram com o Acontece em Petrópolis sobre o stand-up e suas apresentações por aqui.

AeP: O povo petropolitano tem fama de ser conservador, porém vocês já estiveram em Petrópolis se apresentando no Nucrepe. Como foi a recepção do público?

Rafael: Sério que o povo de Petrópolis é assim? Não sabia! Então dei sorte, porque a galera que estava no Nucrepe foi ótima!

Paulo Vinnicius: É engraçado que em alguns lugares frios, dizem que as pessoas ficam mais frias. Faz algum sentido considerando que a baixa temperatura faz as pessoas ficarem mais reservadas e quietinhas em casa. Tive uma impressão de público frio na primeira vez que me apresentei em Curitiba, lá a dinâmica é diferente, o povo lá é incrível, as pessoas são muito educadas, mas realmente são  mais frios e menos calorosos. Há uma séria influência europeia na cultura de lá. Mas em Petrópolis, apesar da fama, o show fluiu de forma super bacana. Adorei me apresentar na cidade. O público respondeu de forma imediata às minhas piadas, e recebi bons feedbacks ao fim da apresentação.

Paulo Carvalho: A recepção foi ótima tanto no teatro quanto no bar. Já me apresentei em Petrópolis fazendo teatro e sempre tive uma boa acolhida por parte do público. Se você tem um bom trabalho para ser mostrado, a recepção será sempre boa. Petrópolis não foge à regra.

AeP:  Há algum tema em especial que não é muito bem recebido pelo público, que possa gerar algo “desconforto” nos mais conservadores, ou o público do stand-up geralmente está predisposto a dar risada não importando o assunto abordado?

Rafael: A predisposição vai de cada um. A gente espera que o cara que vai assistir a um show de comédia esteja a fim de rir. Às vezes não é bem assim. Cabe ao humorista tentar contornar isso. Quanto aos temas, sempre irão existir. Mas mais uma vez vai da habilidade, que poucos possuem, de saber falar a coisa errada do jeito certo.

Paulo Vinnicius: Sempre há temas mais polêmicos, e sempre existe alguém que não gosta de algumas piadas. Esse tipo de humor onde o comediante se apresenta de cara limpa ainda é muito recente e as pessoas ainda não se acostumaram em receber esse tipo de humor tão diretamente.  O falso moralismo é comum no Brasil. Então é comum que quando se toque em temas como tragédias, preconceitos e doenças, algumas pessoas queiram aparecer mais que o comediante e não pesquem o senso crítico da piada, acusando-nos de apologia, incitação ou até de preconceito. O texto autoral parece que é uma conversa, mas não é. É um roteiro com piadas atrás de piadas.  Uma vez vi o Rafinha Bastos falar algo muito simples e muito óbvio, mas que muita gente com um nível de educação bacana não percebeu: o que se expressa em uma piada não é 100% o que o comediante pensa, é uma piada. Com o tempo as coisas estão melhorando, o público está cada vez mais acostumado e já vai a um show de stand-up sabendo o que é, o que não ocorria antigamente.

Paulo Carvalho: Geralmente os temas desconfortáveis são os mesmos para quase todas as plateias. Se o comediante usa um tema carregado no escatológico, de modo geral, as pessoas costumam reagir mal e com razão. Ainda mais se o show é num bar ou restaurante onde os espectadores estão comendo. O público brasileiro é muito radical em relação a certos assuntos. Religião, por exemplo, é sempre um tópico delicado. Futebol também. Depende então de cada comediante escolher o melhor caminho para colocar suas piadas sobre esses assuntos. Gostaria de frisar que a praga do politicamente correto tornou tudo mais difícil. Perdeu-se a capacidade de relativizar as coisas e as pessoas tomam determinados assuntos de forma muito pessoal. Isso é muito chato e reacionário. Nesse aspecto, acho que para alguns assuntos, as plateias estão bem fascistas mesmo. Porém, existem casos e casos. Não seria certo ou justo generalizar.

AeP: É possível viver só de stand-up?

Rafael: Sim, mas é muita batalha. Principalmente pra quem está começando agora, porque de 2005 pra cá houve uma certa vulgarização do termo stand-up. Mas já adianto que se você quiser fazer dinheiro com stand-up, não vá para o Rio.

Paulo Vinnicius: Sim, com certeza. Em São Paulo o mercado ferve, há 5 shows em lugares diferentes em uma única terça feira. Há um grande número de comediantes e o público vai mesmo aos shows. No Rio a cultura é um pouco diferente, aqui a coisa é um pouco mais difícil, mas acontece também. Por exemplo,  o carioca gosta de barzinhos de varanda para ver o movimento e o stand-up requer ambiente fechado, por questões de acústica e estrutura. Mas posso dizer que é como qualquer profissão, leva-se alguns anos estudando, mais alguns estagiando, depois se começa a ganhar um pouco melhor e daí, o crescimento depende mais de você mesmo e do seu empenho. No meu caso, além de shows, faço eventos corporativos e isso gera credibilidade e experiência ao artista.

Paulo Carvalho: Dá para viver de stand-up tanto quanto de qualquer outra profissão. Aqueles que são bons, trabalham mais e os que não o são, menos. Como sou ator e já era antes de me descobrir comediante de stand-up, faço os trabalhos que existem para os atores. Isso já tem quarenta anos. Não sei e não quero fazer outra coisa. Sou artista e lido bem com os benefícios e dificuldades da carreira.

AeP: Da onde vem as melhores sacadas para as piadas?

Rafael: É como um interruptor. Tem horas que o deixamos ligado, outras horas desligado. Ele costuma ficar mais ligado à medida que a gente vai se apresentando com frequência. Mas pra mim, a origem da maioria dos textos surge de uma simples conversa de bar ou de um olhar muito introspectivo sobre você mesmo.

Paulo Vinnicius: As sacadas acontecem em todo lugar. Quando vemos algo diferente ou identificamos uma expressão comum a todos, mas com um significado estranho, ou ainda algum acontecimento, enfim, anotamos o tema e depois sentamos para escrever. É pura transpiração. Já passei quatro horas sentado para escrever cinco minutos de texto e ainda assim, esse material seria testado em público para que eu pudesse eliminar as piadas fracas. Tenho algumas piadas baseadas em situações que ouvi pessoas comentarem numa mesa de bar e achei a estória sensacional. Apliquei um técnica para inverter expectativas e pronto, ali existe uma piada agora.

Paulo Carvalho: As melhores sacadas para piadas variam de comediante para comediante. De um modo geral, elas são fruto da observação do cotidiano. O stand-up é uma espécie de crônica sobre o dia a dia de cada um. Por outro lado, o comediante mais articulado, que tenha um maior conhecimento sobre o mundo que o cerca terá mais ferramentas para fazer as suas piadas. O fato de ser mais maduro também ajuda. De certa forma, o universo do jovem artista é um pouco limitado pela falta de experiência em lidar com certos aspectos da vida. Isso só se aprende vivendo. Não existe manual para isso.

AeP: Alguma “sacada” sobre Petrópolis?

Paulo Vinnicius: Tenho certeza que a Serra de Petrópolis era uma reta, mas devido ao frio, ela se encolheu e parece uma serra. Há cada vez mais pessoas morando em Petrópolis. Climinha frio, vinhozinho na temperatura ambiente, restaurantes a luz de velas. Não sei as pessoas estão buscando um lugar mais tranquilo ou uma economia na conta de luz.

Sobre os comediantes

 Não só um grande comediante como também um comediante grande, Paulo Vinnicius é fundador do grupo “Doida Comédia Stand Up” e, embora ainda se apresente com o grupo, investe em seu show solo “Rindo Alto Stand Up”. Saiba mais em:  www.paulovinnicius.com.br

Um professor de física, formado em informática é uma piada esperando um desfecho e, quem viu isso foi o Fernando Caruso. Foi então que Rafael Studart começou a falar sobre os erros que alguns de seus alunos cometiam e desde então, vem contando isso e outras coisas.

Um dos integrantes e fundadores do espetáculo Comédia em Pé, no Rio de Janeiro, Paulo Carvalho já participou de inúmeras novelas e seriados. Atualmente faz parte do elenco do programa “Os Caras de Pau”, da TV Globo.

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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