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“O Impossível” permanece em cartaz até esta quinta-feira

O homem, na sua composição, é um ser incapaz de conceber o impossível. Toda a lógica do que é irrealizável ou inatingível serve somente como impulso para sua realização. É tal qual no poema “Das Utopias” de Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis… ora! / Não é motivo para não querê-las… / Que tristes os caminhos, se não fora/ A presença distante das estrelas!”. Ora, a utopia é esse motor rumo ao impossível que nos leva para próximo da realização das coisas no mundo.

Tudo, no entanto, se desarruma quando se trata de fenômenos naturais. “O Impossível” (Lo Imposible – 2012) de Juan Antonio Bayona, traz aos cinemas a história de uma família que segue de férias para Tailândia quando esta é devastada pelo tsunami de 2004. Baseada em fatos reais, a obra é a mais forte e chocante experiência, tanto cinematográfica quanto literária, sobre o evento e provavelmente a que mais busca tocar a sensação de desterramento, afogamento e desestruturação de um universo que até então parecia sagrado e estável.

Aquilo que até então era conforto, torna-se o lugar de tentativa desesperada de sobrevivência. A atriz Naomi Watts (Candidata ao Oscar de Melhor Atriz) e o ator Ewan McGregor, espécies de condutores sobreviventes da história, se perdem entre si, cada um ao lado de alguns de seus três filhos, e vagam, erram por esse território desértico e apocalíptico a fim de tentar reencontrar e reencenar sua família. A questão é que, em meios às mortes e aos doentes, as regras sociais já não são mais as mesmas, os regimes de exceção se colocam e aquilo que era afeto e companheirismo ganha tons de lei da selva. Sobreviver ganha status aristocráticos e é justamente nesse caminho que os desencontros e os sofrimentos recaem fisicamente sobre todos os corpos, inclusive os deles. A nova vida deve ser não a reconstrução da anterior, mas a manutenção dessa como instrumento político e subjetivo, quase que uma prova de força frente à natureza: “sou o homem que sobrevivi a tudo isto.”

“O Impossível”, excelente pedida para uma tarde no cinema, no entanto, não é para estômagos fracos, as cenas fortes, intensas, claustrofóbicas e de extrema violência do corpo são experienciadas sem muito conforto pelos espectadores que, apesar disso, não conseguem desgrudar os olhos dessa pequena família e, principalmente, dos meninos, as crianças que acabam de nascer e já têm que aprender a sobreviver (ou hiperviver?) como se sua pureza fosse o que resta depois de tanta tristeza e caos.

O filme fica em cartaz até esta quinta-feira (17), no Mercado Estação com sessão às 21h. Classificação: 14 anos.

Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo e poeta, formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO – Univesidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente cursa Letras – Português/Literaturas.

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