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Django Livre, novo filme de Tarantino, está em cartaz

A antropofagia, no campo das artes, sempre foi um tema bastante traumático no Brasil. Tudo que recebemos de informação das culturas de fora nos parece pesado, demora a ser deglutido e o produto devolvido, ou seja, a reprodução em arte de nosso amálgama cultural é sempre ou excessivamente político-engajado, ou denso e hermético ou pueril e ingênuo. Não encontramos o equilíbrio.  Com os americanos, acontece o contrário: a supremacia cultural torna-os leves, violentos e felizes. A antropofagia lá é uma celebração. Pro bem e pro mal.

Faço essa introdução para falar do filme Django Livre (candidato ao Oscar de Melhor Filme em 2013), de Quentin Tarantino. O americano parece ser o diretor que mais consegue misturar suas referências: cinema, quadrinhos, literatura, oriente, televisão e fazer com uma celebração em sua arte que, dentro de Hollywood, exalta e ironiza o próprio gênero em que se insere. Ironia e exaltação que, andando lado a lado de mãos dadas, se revelam o melhor do cinema americano como também um expoente de um cinema crítico. Tudo isso, deglutindo culturas e referências: algo raro e algo a ser destacado.

“Django Livre” é um filme sobre um negro-escravo americano, (representado por Jamie Foxx) , que é resgatado por Dr. King Schultz (Christoph Waltz) para ajudá-lo na tarefa de caçador de recompensa. Ganhando a liberdade, é ajudado pelo doutor a tentar salvar sua esposa Broomhilda (Kerry Washington),  que é propriedade de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

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A obra parece completar uma espécie de trilogia da vingança montada por Tarantino, que começa com Kill Bill (volumes Um e Dois), passa por Bastardos Inglórios e se completa com “Django Livre”. Apesar de ser uma trilogia de quatro filmes, ou seja, uma trilogia meio torta, a comparação cabe, uma vez que se observa um caminho sequencial na lógica da vingança: primeiro das mulheres, depois dos judeus e agora dos negros.

Pode-se observar na formação da filmografia de Tarantino uma gradual politização e poetização e que, mesmo não abandonando sua mistura de referências pop, vai aos poucos refletindo uma questão política e social de seu país. Kill Bill joga a semente da opressão de uns sob os outros, pela evidência de uma estrutura social patriarcal-machista e violenta, passando por Bastardos Inglórios, que reposiciona a visão dos americanos sobre si próprios na segunda guerra, e agora, com Django Livre, a tentativa de redimir o papel do negro frente às estruturas estabelecidas.

Destaque no filme para a excelente atuação de Samuel L. Jackson, interpretando Stephen, um negro incorporado à família escravocrata e reprodutor da visão patriarcal vigente na época. Destaque também para a trilha sonora que enriquece o filme às vezes com citação aos filmes de cowboy, às vezes deslocando aquele velho oeste do sul americano para uma gangue de Nova Iorque.

Tanto se pode dizer do filme, mas o mais importante é também o mais simples: vale a pena. São tantas questões que se atravessam sem, no entanto, em momento algum parecerem pedantes, discursivas ou herméticas. O culto americano às armas está presente, assim como a violência gratuita e repentina comum nos filmes de Tarantino. É sempre  bem ver a redenção explosiva daqueles que ficam ali circundando os tempos e as sociedades, sabendo que a vez deles nunca há de chegar.

Para finalizar, uma pequena digressão: já perceberam que todo filme do Tarantino acaba por falta de personagem?

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Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo e poeta, formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO – Univesidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente cursa Letras – Português/Literaturas.

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