Eis que você se prepara para assistir a um filme cujo trailer é normal, o cartaz é normal, os atores são ultrafamosos, o diretor é conhecido por filmes populares, mas aí ele começa a surpreender desde a primeira cena e isso vai se espalhando, se multiplicando, até que você, fascinado, aceita que o filme é o que é, deixa de esperar qualquer coisa dele e assume: Que filme! Essa é, sem dúvida, a sensação que se tem ao ver Terapia de Risco.
Terapia de Risco (2013), do renomadíssimo Steven Soderbergh (Sexo, Mentiras e Videotape; Onze Homens e um Segredo), é um thriller fascinante, com aspectos conspiratórios que envolvem poder, dinheiro, mercado financeiro e empresas farmacêuticas, que recaem sobre um homem que vê sua carreira e sua vida pessoal serem, de uma hora para outra, destruídas.
Explico: A trama conta a história de Emmy (Rooney Mara), uma jovem que recebe seu marido recém-saído da prisão. No entanto, suas constantes crises depressivas, leva-a diretamente ao doutor Jonathan Banks (Jude Law), cujos remédios causam um sonambulismo que faz com que a moça assassine o marido sem saber. A partir daí, a vida do doutor vira de cabeça para baixo, em uma insensata tentativa de descobrir o que realmente aconteceu no caso.
O que vê no começo do filme é um clima depressivo, denso, que reflete uma sociedade que está completamente organizada sobre estruturas estáveis entediadas, que já não pensam sobre si próprias. Entretanto, lá para o meio, quando tudo já parecia estar óbvio, Banks, interpretado por um Law muito parecido com o herói Tin-Tin, começa a perceber pequenos estranhos fatos envolvendo Emmy e Victoria (Zeta-Jones), e sai em busca de novas de explicações. A partir daí, a trama se acelera em um thriller investigativo de muitas viradas, explicações, tensões, até um caso inesperado de amor homossexual, que só Soderbergh, depois de Hitchcock, consegue dominar sem cair na obviedade do turning point pelo turning point.
E como um tsunami, o filme toma conta da atenção do espectador num ritmo alucinante que, aos poucos, começa a se arrefecer, com tudo tomando novamente seu lugar e aquilo que se mostrou obscuro, quase com um formato à lá Scooby Doo, se revela apenas como mais uma busca incansável de dinheiro e posição nesse nosso mundo. Soderbergh sabe que todo o nosso “a mais”, no fundo, se limita a só isso mesmo.
Terapia de Risco é uma das mais interessantes obras do ano e deve ser assistida por todos aqueles que gostam do cinema americano, que dá um pontapé em si próprio para ser algo a mais. O filme, espécie de thriller que sai de dentro de um universo da depressão para as colunas policiais, entra no hall dos grandes filmes de um diretor, que está em uma nova fase da sua carreira, e que parece bastante promissora.
O filme está em cartaz no Top Cine Hipershopping ABC, com sessões às 16h50 e 20h50. A classificação é 14 anos.
Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo e poeta, formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO – Univesidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente cursa Letras – Português/Literaturas.
