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O Cavaleiro Solitário (2013) – Faroeste sem gatilhos

O Western é um gênero completo. Acho que nenhum outro formato conseguiu  se solidificar tão bem com suas estruturas próprias sem que cada vez que se veja um filme ,se tenha a sensação de que se está vendo alguma coisa requentada. Os anti-heróis e seus parceiros tolos, as cenas nas tavernas, as mocinhas e donzelas frágeis, a relação com os indígenas, as batalhas de olhares e armas, tudo isso faz parte de um universo que ultrapassa o limite do cinema americano e chega a todo mundo. Não é a toa que Sérgio Leone com Clint Eastwood fez o que se chama “faroeste spaghetti” na Itália e que, no Brasil, tenhamos dado o nome de “filmes de bangue-bangue”. O filme da vez é O Cavaleiro Solitário (2013), de Gore Verbinski.

O filme é sobre o homem-da-lei John Reid (Armie Hammer), que volta para sua cidade e encontra-a nas mãos de bandidos. Segue na caçada deles com seu irmão e, em uma emboscada é deixado para morrer. Após conhecer o índio Tonto (Johnny Depp), resolve se mascarar e vingar a morte do seu ente querido.

O que se observa no filme é uma estrutura baseada em três pontos: relações de justiça e de afeto, humor atrapalhado que beira o nonsense e cenas de ação com explosões e trens descarrilhados. Tudo se desenvolve através dessa tríade e é impossível ver o filme por fora dessa lógica. A virtude é que nenhuma delas é usada em excesso e tomam conta da película de forma a oprimir o espectador com pieguices, humor fácil ou violência. O problema é que, ao oscilar o tempo todo entre uma coisa e outra, acaba que nenhuma delas se estabelece, se firma e, assim, precisa ficar o tempo todo se repetindo e repetindo.

Armie Hammer tem um personagem bastante incerto e complicado de desenvolver, na medida em que sua transformação se dá de um “homem justo que segue a lei” a um homem que não acredita em nada disso, se mascara e vira uma espécie de zorro americano. Johnny Depp parece, pela primeira vez, ser criticado veementemente pelas suas repetitivas interpretações que, apesar de sempre divertidas e de qualidade, não possuem mais qualquer criatividade. O problema das críticas ao ator é se pautarem no fato de que a referência é o capitão Jack Sparrow. Vejam bem, desde Edward Mãos de Tesoura, sem dúvida sua melhor atuação, suas personagens já continham em maior ou menor grau os mesmos trejeitos: algo de atrapalhado, com tendências homossexuais, ironias com expressões faciais pontuais que funcionam como um “aparte” à cena.

O Cavaleiro Solitário repete muita coisa e não repete nada. É morno e justamente por isso vem recebendo tantas críticas. Por outro lado, como um filme rasteiro, faz rir pelo personagem de Depp, claramente atormentado que vê espíritos e imortalidade em um ambiente absolutamente árido, e pelo cavalo de Reid que reaparece sempre para ajudar o novo cavaleiro que, estranhamente, não usa o gatilho para nada.

Não se pode ser insensato. O western sempre foi considerado um gênero menor e só ganhou um maior espaço quando foi absorvido pelo mundo cult. Não quero, aqui, repetir essas críticas porque não vejo sentido em reiterar uma lógica de que o novo, por ser novo com cara de velho, é necessariamente ruim. Vejam vocês e tirem suas próprias conclusões.

O filme está em cartaz no Cinemaxx Mercado Estação, com sessões às 13:20h / 16:10h / 19:05h / 21:50h. A classificação é 14 anos.

luizLuiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
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