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Crônicas

Petrópolis – Música ou Silêncio?

Foto: Mariana Rocha

Sempre pensei que os petropolitanos se dividissem em dois: os que preferem o Badofe, e os que preferem a Alimentação 2000; os que preferem ficar pelo centro, e os que preferem Itaipava, os que preferem o Toni’s, e os que preferem o Fuka’s. Claro que existem aqueles que burlam tudo isso e optam pelo Smash ou o Lukas, mas isso não invalida meu ponto.

Brincadeiras a parte, vejo que há uma polarização muito clara em nossa cidade: de um lado um grupo mais progressista, que quer que a cidade cresça, alce novos voos e desenvolva todos os seus potenciais eternamente encubados, e de outro um pessoal mais tradicionalista, geralmente de mais idade, que acha que a cidade deve ser preservada com suas qualidades principais e mais antigas, como o sossego, a paz, a tranquilidade. São, enfim, mais conservadores. Obviamente, esses dois lados não poderiam conviver pacificamente por muito tempo e, cada vez mais, começam a se enfrentar.

Um dos exemplos claros dessa polarização está o caso do Palco Solstício, na Praça da Liberdade. Para quem não conhece o caso, explico brevemente: A banda Tribo de Gonzaga se dispôs a tocar gratuitamente todos os dias do Carnaval na praça, uma vez que não haveria a festa na cidade por conta das enchentes. Eles conseguiram todas as autorizações necessárias, mas na hora em que foram montar o equipamento tiveram uma surpresa: a polícia apareceu proibindo que o evento acontecesse sem dar muitos motivos claros. Claro que a culpa não era da polícia, mas sim de quem deu a ordem para que tal fosse feito. O caso só foi resolvido porque uma advogada se dispôs a ir até o único Fórum de plantão e conseguir uma autorização. Até agora o caso parece meio turvo.

Com isso e a partir daí, moradores dos arredores da Praça da Liberdade se manifestaram contrários a qualquer evento musical naquele local, inclusive o já famoso e estabelecido Solstício do Som. Assim, fizeram um abaixo-assinado tentando impedir que tal acontecesse e foram até veículos de imprensa comunicar sua opinião. Eles têm seus direitos? Sim, mas os músicos e seu público também. (Já fizemos uma matéria sobre isso, saiba mais aqui.)

O caso “música ou silêncio” parece não ter fim na cidade. Os conservadores foram acostumados a ter privilégios durante muito tempo e não conseguem perceber que a cidade cresce, a cultura fervilha e a juventude é cada vez mais antenada, informada e ligada em seus direitos mais básicos. A cultura, mais que um direito, é um dever e a praça é um bem público que deve ser utilizado por todos quando quiserem e da maneira que quiserem, desde que cumpra com todas as leis vigentes na cidade. Creio que esses senhores e senhoras acham que moram em um principado e formam uma aristocracia local e que todo e qualquer tipo de coisa que os desagrade deve ser retirado de sua frente, quase como uma remoção violenta do que polui a paisagem.

No fundo, o que eles conseguiram foi apenas acirrar os ânimos e tentar impor uma lógica que parece absurda até mesmo para eles. O tiro, no entanto, saiu pela culatra: nunca se fez tanta música na cidade, nunca se respirou tanta cultura e nunca o ambiente foi tão propício para as novas ideias. A cidade cresce, avança, sorri e quem fica para trás perde a possibilidade de também crescer. Porém, usemos da fórmula deles para um protesto: um minuto de silêncio para os conservadores, e voltemos às canções.

luizLuiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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