Publicidade Concer: Resposta às chuvas em Petrópolis
Publicidade Concer: Resposta às chuvas em Petrópolis
Agenda culturalCinemaCultura & Lazer

Crítica: Jobs (2013)

Um conceito que se tornou praticamente um clichê contemporâneo, que serve para tudo e norteia as narrativas, que contam e contamos de nós, é o de superação. É até estranho que uma sociedade que valoriza tanto o trabalho, dentro da lógica do tempo, ao mesmo tempo coloque a superação em um patamar tão alto. É impossível ser uma pessoa normal, que teve uma ideia normal, agiu de forma controlada e eficiente, e simplesmente deu certo na vida. Nada: todos precisam dizer que passaram por muitas dificuldades, que tiveram de suar e dar o que tinham para chegar aonde chegaram e, se possível, até passar fome. Meu maior medo é que fizessem isso com a história de Steve Jobs, mas felizmente, apesar de se aproximar disso, Jobs não se utilizou desse recurso.

Jobs (2013), de Joshua Michael Stern, conta a história de Steve Jobs (Ashton Kutcher), idealizador e criador da Apple, desde os primeiros passos quando descobre que um amigo acoplava uma TV a um aparelho de computador, até suas dificuldades com os conselhos da empresa que insistiam em vetar seus projetos caros, malucos e completamente instáveis e inseguros. Apesar de dar um panorama bem grande da vida do empresário, se foca principalmente na sua juventude na empresa, portanto, assim que ele se estabelece, menos se há pra contar.

O que mais se destaca no filme, ao contrário da expectativa inicial que parecia ser o tema da superação das adversidades de Jobs, é o funcionamento interno de uma grande empresa. De um lado, nerds inteligentes, engenheiros, designers e boas ideias; do outro, o mundo da máquina financeira. Evidente que o último domina sobre o primeiro, mas quando este falha, todo o sistema do capital treme e Wall Street fica torcendo para que haja mais Steve Jobs no mundo. Apesar da personalidade peculiar de Jobs, algumas vezes um egoísta idiota, outras um visionário alucinado, o filme não pretende exaltar sua genialidade, nem sua capacidade de inventar a roda, como parece ser a opinião do senso comum. Pelo contrário, a interpretação segura, contida e até tímida de Kutcher, consegue dar um toque absolutamente realista à figura de Jobs que se adequa e se destaca sem roubar a cena.

Aparentemente essa característica translúcida da obra, que não faz odes nem à superação, nem ao trabalho, nem à tecnologia, nem ao gênio individual, é o que ela tem de mais profícuo, por isso, me parece que o papel de Joshua, em uma direção surpreendente, é atravessar a vida de Jobs sem querer contar sua morte, seu sofrimento e seus pesares, mas apontar para uma trajetória, como quem dá um passo atrás.

Ouso dizer que Jobs, por evitar cair na esparrela do sucesso, da superação do rapaz criativo, genial e rebelde, se tornou um filme forte, coeso, com substância, que faz jus à pessoa de Steve Jobs que, perfeccionista, ia gostar de ver seu nome em uma obra de tanto cuidado.

O filme está em cartaz no Cine Bauhaus, com sessões às 14h30, 17h00 e 19h30. A censura é 12 anos.

http://www.youtube.com/watch?v=Jby1d5Q31so

 

luizLuiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
Twitter: http://www.twitter.com/ziul

 

Botão Voltar ao topo
error: Favor não reproduzir o conteúdo do AeP sem autorização ([email protected]).