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Crônicas

Petrópolis, uma cidade (quase) sem povo

Em Petrópolis falta povo. Falta gente, falta vida. Não que nada disso deixe de existir na prática, mas o povo que é falta está na mentalidade do petropolitano. Aqui, nada tem menos valor que a rua. A rua é o lugar do outro, do interdito, da passagem, do tabu, do preconceito e, por isso, é algo que se deve evitar e fugir de todas as formas. O valor, em nossa cidade, está nos lugares fechados, planejados, programados, frios, hierarquizados e que encarceram o cidadão em nome de um serviço mais bem feito. Tanto é verdade que nossa cidade é a única que conheço que desvaloriza o uso de mesas nas ruas: bares e restaurantes não a utilizam e os moradores, como um todo, tem uma certa repugnância por sentar embaixo do sol e aproveitar o movimento da rua e as cores do céu. Sentar em uma cadeira do lado de fora, seja no D’angelo ou no Marowill é uma carta de que você é “menos”, tanto que esses dois bares possuem um lugar interno mais “chique” e, por conseguinte, “mais aconchegante e petropolitano”.

Essa paranoia petropolitana contra a rua chega a limites máximos quando se usa isso como modo de preconceito: existem meninas de rua e meninas de família. Nessa oposição clara, as “mulheres de família” são aquelas que não “ficam por aí”, que quando saem é para um lugar específico, geralmente de carro ou taxi (ônibus é algo muito popular) com seus trajes montados para uma noite feliz. Destino: geralmente uma boate em itaipava, ou uma pizzaria chique no centro, como a Liberatta e, se possível, um breve passeio para o Rio de Janeiro – Barra Shopping ou Outback, quando não os dois. Os homens, por outro lado, assim que viram “homens” ganham carros, ou vão trabalhar para comprar suas motos, para assim também evitar a rua. O carro, mesmo na rua, é um produto privado, que permite uma privacidade e marca muito bem a classe em que ele está inserido e o mantém fora do caos urbano.

O que está muito claro é: existe em nossa cidade uma classe que é não é povo, é consumidora tradicionalista de uma imagem. Vivem como se estivessem em um principado e evitam qualquer tipo de mediação social. Por viverem em uma pequena aristocracia não podem permitir zonas de contato, de mistura ou de miscigenação. O petropolitano clássico, nesse caso, tem um quê de purista, de fascista, que só vai às ruas para dar uma olhada na Bauernfest ou na Serra Seratta, afinal são festas de origem estrangeiras bem típicas de suas origens – por acaso os países do nazi-fascismo.

Mas esse não é o caso de todo petropolitano, obviamente. Existe muito povo na nossa cidade e ele vem crescendo cada vez mais. Observem agora o caso dos bares da  Nelson Sá Earp: um grupo de jovens e adultos que gostam de sair do trabalho e ir para um barzinho conversar com os amigos. Só que eles não querem ficar dentro de nada, não querem se encarcerar por portões ou mesas e cadeiras, eles querem simplesmente ficar na rua, muitas vezes com um copo de cerveja na mão a noite inteira, esquentando, pois mesmo sem dinheiro o que importa é participar, é estar, é viver. E assim, ser povo, estar disponível para a troca de diferenças, a interpenetração de modos de vida e opiniões. No entanto, os petropolitanos “clássicos”, aqueles lá de cima, tentam e tentarão evitar isso de todas as formas possíveis, desde uma batalha ideológica, cultural, tradicional, até uma batalha legal, através do direito e das leis que, como se sabe, são feitos para poucos.

luizLuiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
Twitter: http://www.twitter.com/ziul

As opiniões contidas não representam a opinião do site; a responsabilidade é do autor da publicação.

14 Comentários

  1. Sua análise faz sentido, o que não faz é sua tentativa de taxar de nazifascistas boa parte da população. Seu discurso é melodramático, bem de acordo com sua formação.
    Concordo que prevalece um grande individualismo da população.
    “Sim bora” petropolitanos, vamos sair do casulo.

  2. Acho que o autor tentou associar a ausência de opções ao seu seu gosto a uma repressão daqueles com outras preferências. Talvez o tipo de diversão que o autor deseja realmente tenha poucos adeptos nesta cidade, mas não quer dizer que não existam outras. Para o meu gosto não faltam atividades!

  3. Concordo com voce. Estou fora de Petropolis faz agora em Janeiro 13 anos, tenho saudades sim dos amigos, da familia mas da cidade em si nao tenho. Eu curti muito essa cidade nos anos 80,90, tinha muitos bares (16 de marco, Irmaos D’Angelo…) que ficavamos todos nas calcadas, ninguem queria saber de ficar em lugar fechado, era muito bom, curtiamos muito, iamos de um lado a outro da cidade, atras de festas, boates, bares….foi uma epoca muito boa, depois a cidade ja nao oferecia mais muitas opcoes, muitos lugares fecharam e ficou um saco. Estou p/ voltar p/ o Brasil e,fico pensando, como vai ser depois de 13 anos voltar p/ Petropolis que qdo sai dai ja nao tinha quase nada, imagino agora. Mas tenho que voltar, pois tenho minha casa e tbm minha familia e amigos. Deus queira que eu me acostume. Um abraco. gostei muito do que vc escreveu.

  4. Acho que o título da crônica deveria ser: “Um autor (quase) sem informação”.
    Creio que o autor deveria aprofundar-se no conhecimento da cidade antes de proferir suas opiniões. O fato de não existirem mesas nas calçadas, não é uma opção da população, mas uma imposição do governo municipal, que não permite essa prática. Poucos são os locais permitidos. Também, deveria olhar para os parques Cremerie e de Itaipava, que, nos dias de sol, ficam super frequentados. Grande parte dos frequentadores das boates de Itaipava, são cariocas que vêm passar o fim de semana aqui. Dizer que o gosto pelas festas que fazem homenagem aos antepassados da maioria dos petropolitanos é gostar de países nazi-facistas, trata-se de uma equivocada teoria, pois as festas fazem alusão aos colonos estrangeiros, que viveram numa época bem anterior a essas fases daqueles países. Cada um tem uma opinião e gosto próprios, mas externá-los com o intuito de criar um esteriótipo para uma população alegre, simpática e que tem um passado histórico único, não é de bom tom, mesmo que seja apenas como forma de querer mostrar-se na mídia. Se buscar em sites ou nas próprias agências de turismo, informações sobre a cidade, o autor verá, dentre várias das características do povo petropolitano, a educação e a cortesia, além da forma acolhedora com que trata os que aqui chegam. Infelizmente, não ficamos sabendo de onde o autor é, ou há quanto tempo reside em Petrópolis (se é que reside), mas, pelo visto, parece não estar gostando da cidade. Será que ele já parou para pensar que o problema pode não estar na cidade, mas nele próprio?

  5. Ai, como o petropolitano se ofende com qualquer coisa (esses comentários)! Texto muito bom, indica mesmo algumas “peculiaridades” petropolitanas, cidade voltada para a soberba, para o turista, para o outro, nunca para seu povo de fato.

  6. Confesso que comecei a ler até com certa curiosidade.
    Mas de repente vi que não valia a pena.
    A quantidade de bobagens registradas nessa página é de doer.
    Frequento Petrópolis há mais de sessenta anos e não é nada disso que esse garoto diz.
    Morei em Petrópolis alguns anos e pretendo voltar para lá.
    Uma das cidades mais aprazíveis do Brasil, em todos os aspectos.
    Esse menino foi à Rua Sá Earp, tomou todas, deve ter desrespeitado alguém ouviu o que mereceu, sentou-se a frente do teclado e desandou a falar do que não sabe, do que nunca viveu. Lamento que esse espaço tenha sido aberto a ele e que a edição do AP tenha tido o desrespeito com os milhares de petropolitanos de todas as épocas e que ainda curtem a cidade.

  7. Uma visão muito preconceituosa e generalizadora, digna de repúdio. Minha família inteira (paterna e materna) é de origem alemã e NUNCA teve atitudes ou comportamentos como os descritos nesse texto. Relacionar essas famílias a fascistas e nazistas é, no mínimo, inaceitável. É um desrespeito e extrema falta de conhecimento. Não considero uma opinião, mas preconceito. Todas as pessoas das famílias alemãs que conheço são simples e sempre foram muito trabalhadoras, valorizam a família e os amigos verdadeiros. Assim, faltou ao autor pesquisar e entrevistar essas pessoas antes de compará-las gratuitamente a algo tão baixo e asqueroso. Uma grande pena esse texto, uma perda de tempo.

  8. Verdade,nos anos 80 e 90 tínhamos os bailes,serestas nos fins de semana e hoje os jovens não tem nada,não tem diversão.
    Eu,como gosto de um baile,naquele tempo tinham vários e até para escolher, os jovens de hoje tem o que?
    Só esses fanks indecentes,as meninas quase nuas envolvida pelas musicas.
    Petrópolis não tem diversão para jovens mais carentes,só para os que tem grana.

  9. O que me chamou a atenção, foi um site que tem como título a frase: Acontece em Petrópolis e logo abaixo a frase: o seu portal de notícias da Cidade Imperial ter um texto de tão baixo gosto em destaque. Desculpem-me, mas eu como petropolitana “clássica” não sou purista muito menos fascista e esse texto jamais me representaria. Outro fato é que, Bauernfest e Serra Serata tem cunho cultural e nada tem a ver com nazi-fascismo, basta pesquisar um pouco para notar isso com clareza. Sabe o que eu vejo acontecer e com muita frequência? É termos várias opções na programação cultural na cidade e as pessoas não comparecerem, é não ver a cultura com o um item primordial para o desenvolvimento de um destino e sim, como mera distração, é não valorizar nossas origens, seja ela negra, branca, índia, seja qual for…isso é o que eu vejo e considero o autor do texto equivocado em alguns momentos. Achei o texto muito agressivo. Se tivesse o intuito de colaborar de alguma forma para a melhoria dos serviços na cidade, seria ótimo, mas quem critica e não soluciona os questionamentos, precisa ter cuidado ao compartilhar uma ideia que não é unânime…#lastimável!

    1. Olá Raquel,

      o Acontece em Petrópolis dá liberdade para que as mais diversas opiniões possam ser compartilhadas, sem censura. E é por se tratar de uma crônica, portanto, o ponto de vista de uma pessoa, que colocamos a seguinte frase no final: “As opiniões contidas não representam a opinião do site; a responsabilidade é do autor da publicação.”

  10. Poucas vezes vi um texto tão ruim como este vindo de um “estudioso” em letras: é fraco argumentativamente e com um “cheiro” de hipocrisia.

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