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Aconteceu em Petrópolis

O prazer da música e poesia em Vinicius de Moraes

por Norton Ribeiro

Às vezes me pergunto: para que serve a arte, a poesia, a música, manifestações de um espírito, da vontade de dizer coisas? Que espécie de prazer é esse que não podemos tocar com as mãos, nem podemos degustar com a boca? Mas já que são prazeres, mexem com nossos sentidos, afinal eles servem para isso, para serem perturbados pelas sensações e nos ajudarem a perceber melhor quem somos e de que forma conduzimos nossa vida.

Acredito que o poetinha tenha conseguido transitar muito bem pela arte de forma geral e nos mostrou, como outros também o fizeram, um caminho para ver a vida “do lado de fora”, a fim de podermos entendê-la ou apenas experimentá-la. Vinicius nos deu ferramentas simples e eficientes, nos deu as palavras que tanto gostaríamos de dizer e essa foi sua diferença. Podemos repeti-las e aqueles que nos ouvem através dele são capazes de se alimentarem e contribuir com uma vida mais bela.

Há uns três anos, Vinicius tornou-se Ministro de Primeira Classe da carreira diplomática, trinta anos após sua morte. Embora conhecido pelos versos, o poeta trabalhava no Ministério das Relações Exteriores e seguia a carreira diplomática, apesar do governo militar (1964-1985) torcer o nariz para esta condição, já que não o considerava um exemplo de funcionário por frequentar a noite e ser visto constantemente cantando pelos bares com um bom copo de uísque (o melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado, dizia). Vinicius foi aposentado compulsoriamente em 1968.

Mas antes de ser diplomata, Vinicius era poeta. Boêmio, apaixonado pela vida e pelas mulheres, passou esse espírito a seus amigos e à Bossa Nova. Teve muitos parceiros musicais, alguns muito mais jovens do que ele, outros jovens há mais tempo, e era do tipo acolhedor. Memoráveis eram suas festas, reuniões com amigos para tocar e cantar. Muitas delas aconteceram aqui, em Petrópolis, onde recebia amigos em sua residência de verão que ficava na Casa do Barão de Mauá. As viniçadas, como os amigos chamavam, começavam no final da tarde, de uma sábado qualquer, na confeitaria Copacabana de onde partiam para encontrar o poeta.

De família tradicional e classe média alta, Vinicius tem origem burguesa, nascido na zona sul do Rio, em 1913. Estudou nos melhores colégios e formou-se em Direito em 1933. Sua vida poética começa na escola quando compõe suas primeiras músicas. Na década de 30, publica seu primeiro livro, O Caminho para a Distância (1933), seguido de Forma e Exegese (1935). A partir daí, muitos outros poemas são publicados e Vinicius circula entre os maiores intelectuais e escritores brasileiros como Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.

A carreira musical de Vinicius é praticamente iniciada em 1956 quando conhece Antonio Carlos Jobim, a quem convida para fazer a parte musical de sua peça Orfeu da Conceição, encenada no Teatro Municipal. A partir daí, a poesia de Vinícius extrapola os meios intelectuais e passa a ser cantada pelo povo tendo como veículo a Bossa Nova. Vinicius conferiu lirismo à música brasileira, além de ter criado uma poesia construída nos moldes do Romantismo e ao mesmo tempo sensual. Ele cantou a realidade, assim como teve momentos de misticismo com os Afro-Sambas. Jogou entre a alegria e a melancolia. Enfim, celebrou a vida e cantou o amor como ninguém.

Vinicius de Moraes, ainda continua parceiro de Tom Jobim numa esquina de Ipanema. Abriu as portas para unir a poesia e a música. Inaugurou uma era, deitou sua poesia entre o erudito e o popular, mostrando que as barreiras eram apenas invenções.

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