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Coluna Literária

[Coluna literária] O Chamado do Cuco – Robert Galbraith

Um mundo que parece planejado para tudo dar certo. A sorte despontando desde os primeiros momentos da vida: uma adoção improvável, uma família com dinheiro, uma surpreendente genética rara que, trazendo uma beleza suprema, coloca uma mulher na ponta do mundo. Lula Landry é essa mulher: uma linda modelo, milionária, fazendo parte das melhores empresas de moda. No entanto, apesar de tudo parecer conspirar a favor, algumas coisas são sintomáticas, sistemáticas e, mais cedo ou mais tarde, vão cobrar seu preço. No meio disso, um mistério. Esta é a história de O Chamado do Cuco, de Robert Galbraith.

O Chamado do Cuco, escrito por J. K. Rowling – da série Harry Potter – sob pseudônimo, conta a história de Robin e Strike, uma secretária e um detetive particular que são convocados por John Bristow, irmão da vítima, para investigar o suicídio da modelo Lula Landry. John, sem acreditar que a jovem havia se matado, quer descobrir mais sobre o caso e, ao chamar o detetive se surpreende com a quantidade de mistérios que há por trás daquelas vidas como estranhas amizades, namoros e, inclusive, a busca por uma família verdadeira.

É interessante perceber os assassinos e as possíveis futuras vítimas nos livros de suspense, em que alguém é assassinado e o caminho do leitor é descobrir as pistas, pois o mistério, embora apresentado logo nos primeiros capítulos com a morte da vítima, só se coloca quando, em algum momento, se dá um estalo. Nesse instante, a dúvida que paira em nossa cabeça parece ser a mesma que a do investigador. A dúvida, então, desperta todo um outro caminho ainda não percorrido e, na obra, é descrita quase etereamente:

Será que essas mínimas lufadas de fuligem preta levaram um piparote de um rabo viscoso, ou não passavam de rajadas de gás criado pelas algas? Poderia haver algo à espreita, disfarçado, enterrado na lama, pelo qual outras redes se arrastaram em vão?

Não se sabe, o que se pode dizer, apenas, é que a vida organizada de Lula, em algum momento, caiu por terra: aparece um mundo de drogas, de más companhias, de namoros conturbados, perseguição de paparazzis. Rowling, ou Galbraith, coloca tal fato como uma “má função”, algo que dá errado em uma engenharia da vida e que se transforma em maldição:

Maldição, o que acometeu Lula Landry, e acometeria todos eles, ele e Rochelle inclusive. Às vezes a má função se transforma lentamente em maldição, como acontecia com a mãe de Bristow… Às vezes a má função se erguia e o encontrava do nada, como uma estrada de concreto abrindo seu crânio.

Apesar de o livro se chamar O Chamado do Cuco (The Cuckoo’s Calling, no original), o nome só vai aparecer lá para o meio do livro, sendo revelado apenas como um apelido de Lula Landry, dado por um estilista famoso, Guy Somé, sem qualquer motivo a não ser talvez o sentido da palavra em inglês que significa “maluco”.

O livro, apesar de em alguns momentos abusar da descrição e dos clichês das obras do gênero, sem conseguir obter o nível de clássicos como Agatha Christie e Simenon, concentra diversas questões do interesse do público leitor médio, que cresceu com Rowling e com sua saga Harry Potter: suspense, mistério, fetiche, sucesso, fama e o mundo do crime. Cumpre seu papel de investir em uma narrativa tradicional que visa atrair a atenção de uma geração cada vez mais dispersa pelas tecnologias.

luiz

Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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