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Crônicas

Ônibus: Quando a Única solução não é Fácil

Este texto é parcialmente ficcional, pois embora todos os fatos tenham realmente acontecido não estão disposto necessariamente na mesma sequencia apresentada. De qualquer forma, o panorama da questão é absolutamente verdadeiro.

Rio de Janeiro – Último feriado

Véspera de feriado. Consigo sair de um compromisso às 16 horas e chego ao Terminal Castelo por volta das 17 horas. Por conseguir sair mais cedo já começo a entrar em contato com meus amigos avisando que vou chegar antes do esperado na cidade. Ledo engano: só consigo comprar passagem para daqui uma hora. Ok, 18 horas, passagem comprada, agora é aguardar.

Desço, faço um lanche, entro numa loja de discos e livros e fico olhando um a um como se tivesse todo o tempo do mundo.

17:50, volto para o ponto e nada de ônibus. Olho para o fundo do terminal e lá está ele, da cor conhecida de sempre: o único monopólio de duas empresas que já vi. Eis que ele chega e com espanto descubro que o ônibus que ali está é o de 17 horas, ou seja, ele chegou até o embarque com 50 minutos de atrasos.

Então, literalmente, sento e espero. Sentei no chão e comecei a ler um livro que sempre carrego na mochila. Amigos passavam, compravam passagens e sumiam. Parece que para eles essa rotina é normal. Vejo, então, passar o 17:15, 17:30, 17:45, até que chega o meu – 18:00 – com seus 50 minutos de atraso. Embarco, subo a serra e demoro quase três horas no engarrafamento. Resultado, chego em casa quase 22 horas, desmarco tudo, janto, ligo a televisão e desisto de qualquer coisa que me faça pegar outro ônibus naquele dia.

Rio de Janeiro – Semana seguinte

Dessa vez resolvi ir para a rodoviária Novo Rio, uma vez que o Terminal Castelo me guardava más lembranças. Saí novamente por volta das 16 horas de um compromisso e rumei para a rodoviária. Com engarrafamentos, chego lá surpreendentemente 18 horas e só consigo passagem para 18:40, ou seja, estou ainda no mesmo prazo da semana passada.

Entretanto, esse ônibus não atrasa – pontualmente 5 minutos atrasado – nos recebe.

Eis que um rapaz que anota os horários escreve a frase: “Deus é Fiel”. Não sei se foi um recado de amor ou de ironia, de paz ou de deboche. Para quem trabalhou todo o dia, levou horas em engarrafamentos e está querendo ir para a casa por aproximadamente 3 horas, isso não é legal. Olho para o lado e vejo umbandistas com colar de contas e uma senhora que lê um livro espírita. Penso: este não é lugar para manifestações religiosas, todos, sem exceção devem ser respeitados em suas crenças – sejam os de origem africana, espírita, católica, protestante, inclusive eu, um ateu, mereço meu espaço. O ônibus, por ser um lugar de uso público, do diverso, não deve ser um lugar de manifestação de algo da ordem íntima, a fé.

Resolvo ignorar o aviso e entro no ônibus. De novo, mais de duas horas de viagem. De novo, algumas horas perdidas. De novo, chego em casa exausto e a televisão e os livros são meus melhores amigos. É…acho que algumas vezes, Deus, apesar de fiel, prega algumas peças na gente. Muitas vezes, a vida, apesar de Única não é Fácil.

luizLuiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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Um Comentário

  1. Trabalhe em petropolis ou mude-se para o rio e pare de reclamar. O transito só vai piorar…

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