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Crítica: O Lobo de Wall Street (2013)

Algumas obras, de arte ou de entretenimento, não se ajustam a comentários em outros formatos, principalmente a tão escorregadia crítica que, entre a análise e o achismo, encontra apenas um pequeno passo de distância. Já a crônica, esse gênero quase anti-gênero, em alguns casos, pode ser de mais serventia. Por isso, ao criticar O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese pretendo usar uma espécie de gênero híbrido, em que a crônica possa abrir suas asas e fluir por entre a narrativa crítica.

Antes de mais nada, vamos a uma breve sinopse: o filme é sobre Belfort, (Leonardo DiCaprio) um financista que trabalha com ações da bolsa de valores. Assim, junta um grupo de amigos e começa a cometer, dentro de um universo em que o dinheiro é apenas um número no gráfico, diversos crimes que, de dentro de um escritório, parecem absolutamente inocentes – uma ação vendida para cá, outra comprada para lá. Pelo estresse, Belfort se torna viciado em drogas e em sexo e, aos poucos, se torna um idiota ambicioso e sem controle.

Dinheiro é uma merda? (Ora, ora, caso estivesse escrevendo uma crítica jamais usaria essa palavra.) Parece-me estranho e quase trágico ter que fazer essa pergunta, pois o dinheiro é, em si, nada. No entanto, O Lobo de Wall Street sugere, pelas entrelinhas da narrativa, quase que um discurso anti-dinheiro, anti-riqueza, como se ele apatetasse qualquer um que tivesse posse dele e tornasse o mundo um lugar pior por conta disso. Nada contra, pelo contrário, acho que o dinheiro muitas vezes pode se colocar entre um sonho e sua verdadeira realização. O que me parece cínico é que uma obra hollywoodiana, que só existe por conta desses excessos do dinheiro e, principalmente, de toda especulação que se dá em torno desse “falso” dinheiro que é o das bolsas de valores, se utilize do discurso de falar mal justamente daquilo que é seu motor. Hipócrita, não? E este é apenas um ponto.

Outro ponto é: o filme parece ter ainda maiores ambições do que ser apenas um grande filme sobre o mercado financeiro. Percebe-se nele a clara intenção de Scorsese em compor um clássico, dentre os muitos que ele já fez na vida. Acontece é que a fórmula se repete e o que se coloca como diferença já está gasto, vago e vazio e não consegue mais atingir potências como em Taxi Driver. Então, O Lobo de Wall Street cena a cena, se torna apenas um pastiche de filmes do passado e, Belfort, como personagem-indivíduo, é só uma versão bunda mole de Scarface ou um Gatsby sem amor e sem poesia.

Assim, a escolha das três horas – sempre cansativas, não importa a obra – imprimem uma necessidade latente de ser clássico e maior do que se é. Tudo aponta para um esforço para ser brilhante, para mostrar como se é possível contar tal história cheia de divisões, partes e reflexos aqui e acolá. No fim, muita coisa sobra e o filme se esfarela em frente aos nossos olhos. O que ainda tinha energia se dissolve como se nunca tivesse existido. As tensões caem, o clímax não vem e tudo, afinal, se frustra.

O Lobo de Wall Street, definitivamente, não é uma obra para prêmios, muito menos um Oscar.

O filme está em cartaz no Cinemaxx Mercado Estação, com sessões às 17h30. A censura é 16 anos.

http://www.youtube.com/watch?v=PoSCUsNQVtw

luizLuiz Antonio Ribeiro 28 anos, dramaturgo, letrista, crítico e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, mestrando em Memória Social na área de poesia brasileira e graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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