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Crônicas

Crônica: Lembranças de outros Carnavais

Sempre adorei Carnaval. Minhas primeiras lembranças são da matinê do Petrô em que, ainda muito pequeno, pedi para ir fantasiado de palhaço. Tenho até hoje a foto de mim no corredor da entrada do clube com minha fantasia menor que eu e que pinicava. Anos depois, decidi usar a mesma fantasia, mas tive nojo da maquiagem e preferi ir com outros personagens. Lembro que gastava tubos e tubos de serpentina e que dançava muito com meus pais as marchinhas que as bandinhas tocavam. Lembro, principalmente, de que Carnaval pra mim era uma eterna caça de pegar serpentinas que não abriram por completo e jogá-las novamente.

Aprendi desde cedo que carnaval era JOGO – uma brincadeira em que as regras eram diferentes e, por isso, melhores. Toda ordem, toda força de lei é violenta e o Carnaval consegue suspender essa violência por algum tempo (essa nova ordem também pode ser violenta, mas não tem a opressão da lei, do controle, dos dogmas).

Já na adolescência ia com meus pais para o Centro (ou pra “Vinida”, se preferirem). Geralmente, para um chope no D’Angelo. Gostava de brincar com os travestis que me chamavam de gracinha e cantavam o meu pai. Até hoje não sei se eram travestis ou heterossexuais brincando Carnaval – lembro que adorava não saber a diferença e não entender aquelas pessoas.

Aparece, então, uma coisa que nunca gostei: aquela maldita espuma que as crianças inconvenientes teimam em tacar nos outros. Sinto até hoje um ódio mortal de todas as vezes que tacaram aquele troço em mim e, junto com esse ódio, uma pequena vontade de roubar o brinquedinho dos fedelhos mal educados.

Ali no centro, comecei a sair no Bloco da Caverna com meus primos e tios. Era sensacional! Uma bagunça danada. Íamos para a concentração na Praça da Inconfidência, que durava mais que o bloco porque os atrasos eram infinitos, e era só cerveja. Eu ainda bebia pouco e observava mais, aprendia a ser a adulto, e aprendia a ser alguém. Gostava dessa coisa de ver os adultos virarem crianças e, na brincadeira, em um ano, até um cachorro da vizinhança ganhou uma roupa e desfilou com a gente. Só lamento nunca ter realizado o sonho de tocar na bateria do bloco.

Depois fui para o Rio de Janeiro e descobri um mundo de infinitas possibilidades carnavalescas, mas nunca deixei de brincar aqui, principalmente em datas alternativas como o Baile do Hawaí e o Baile do Preto e Branco. Lamento profundamente que o Sr. Prefeito resolva acabar com o Carnaval. Essas memórias que se produzem em mim, provavelmente são também a memória de muita gente. Petropolitano debocha do Carnaval da sua cidade porque ama glamour e aquela postura caviar irritante de quem mora em principado.

Para mim, nosso Carnaval sempre foi de mistura, festa e alegria. Tenho carinho por todos os momentos que pulei Carnaval na cidade. Infelizmente, agora o dinheiro de nossa alegria, vai para a saúde. Saúde? Saúde mesmo ou alegria de apenas alguns?


luizLuiz Antonio Ribeiro 28 anos, dramaturgo, letrista, crítico e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, mestrando em Memória Social na área de poesia brasileira e graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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