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Coluna Literária

[Especial 450 anos de Shakespeare] Escreveu ou não, eis a questão

Desde a morte de William Shakespeare, uma dúvida paira sobre o bardo até hoje. A questão vai além do existencialismo do “ser ou não ser”, passando para uma dúvida quase machadiana, na qual não há uma resposta definitiva, apenas hipóteses. Afinal, quem foi o autor por trás de grandes obras como Rei Lear, Hamlet e O mercador de Veneza?

Segundo o site Doubts about Will, nomes como: Charles Dickens, Mark Twain, Orson Welles, Charlie Chaplin, Sigmund Freud e Walt Whitman foram algumas das personalidades que questionaram a identidade do escritor.

De acordo com informações contidas no livro “A vida secreta dos grandes autores”, de Robert Schnakenberg, no dia 23 de abril de 1564, em Stratford-Upon-Avon, nasceu William Shakespeare. Filho de um próspero fabricante de luvas que já teve problemas com a lei por manter uma grande quantidade de estrume na frente da casa da família, além de ter sido processado por vender lã no mercado negro, John (o pai) viu seu status social declinar gradualmente a um ponto em que a sua requisição para um brasão da família foi rejeitada pelo College of Heralds.

Aos 18 anos, William se casou com Anne Hathaway, que tinha 26 anos, e teve filhos com ela e fora do casamento. Por volta de 1585, some do mapa, retornando aos registros históricos somente em 1592. Durante esta ausência, as especulações quanto ao que teria feito neste tempo são de que teria se ocupado como escrivão, jardineiro, cocheiro, marinheiro, tipógrafo, agiota, até monge franciscano. Porém, não passam de especulações.

Sem qualquer conhecimento educacional elevado, pois não há nenhum registro de que tenha frequentado instituições de ensino superior, William também tinha dificuldades em escrever o próprio sobrenome, tendo assinado como Shackper num depoimento, em 1612; Shakspear, numa escritura; Shakspere, numa hipoteca; Shackspere na primeira página de seu testamento e finalmente Shakespeare, na terceira página de seu último testamento, o qual, curiosamente, não mencionava livros, poesias, nem nada relacionado à literatura.

Estes fatos aliados ao teor de suas obras, que apresentam um vocabulário imenso de aproximadamente 29.000 palavras diferentes (quase cinco vezes maior que a grande versão do Rei Jaime em cima da Bíblia), além de conhecimento em direito, literatura clássica, filosofia, história antiga e moderna, até línguas estrangeiras (o latim, por exemplo, presente em Hamlet), corroboram para a dúvida de que o bardo talvez não seja o autor de tais tesouros da literatura.

Curiosamente, todos os registros sobre ele revelam que era um homem de negócios, um empresário de teatro e até ator em Londres. Shakespeare emprestava dinheiro a juros e processava para receber de volta, mas nunca entrou com um processo sobre uma publicação não-autorizada. Além disso, comprou ações de participação do Globe Theater, o que o ajudou a se tornar um homem rico.  Em 1612, supostamente no ápice de sua fama, uma corte de Londres o chamou de “um senhor de Stratford”. Os ortodoxos não veem nada de incomum sobre a falta de documentação de sua carreira, mas Shakespeare é o único suposto autor de seu tempo de quem não há evidência contemporânea de uma carreira na escrita. Ele morreu no dia de seu aniversário, em 1616, com 52 anos.

Dentre os “candidatos a Shakespeare”, destacam-se: Francis Bacon, Christopher Marlowe, William Stanley (6º Conde de Derby) e Eduardo de Vero (17º Conde de Oxford), que é o candidato mais popular atualmente.

No filme “Anônimo”, por exemplo, o diretor Roland Emmerich explora essa teoria em que Eduardo de Vero seria o verdadeiro autor das obras, pois era um homem muito inteligente, com um vasto conhecimento em várias áreas do saber, com talento para a poesia e a dramaturgia, porém, como naquela época havia uma grande tabu quanto aos nobres escreverem peças teatrais, ele não poderia assinar com seu verdadeiro nome. Além disso, o Conde também era próximo da Rainha Elizabeth I e sua vida na corte, tinha registros de suas viagens pela Itália incluindo locais e regiões citadas em algumas peças, além de ter sublinhado frases da Bíblia que mais tarde foram citadas nas peças de Shakespeare.

Já em 2005, uma matéria publicada na Reuters, por Mike Collett-White, dizia que os acadêmicos Brenda James e William Rubinstein afirmavam ter descoberto o “verdadeiro” William Shakespeare, e que este teria sido o político e diplomata Henry Neville. A britânica Brenda James conta que topou com Neville quando decodificava a dedicatória dos “Sonetos” de Shakespeare, o que a levou a identificá-lo como autor das peças. Ela ainda disse que um caderno escrito por Neville quando ele ficou encarcerado na Torre de Londres, por volta do ano 1602, contém anotações detalhadas que acabaram constando de “Henrique VIII”, encenada pela primeira vez alguns anos mais tarde. Para reforçar sua teoria, Henry Neville era ainda um homem culto que viajou pela Europa e era amigo íntimo do conde de Southampton, a quem se acredita ter sido uma das pessoas o qual foram dedicados alguns dos sonetos do autor.

Contudo, entre teorias e hipóteses, a única certeza é que se “ser grande é abraçar uma grande causa”, na literatura, William Shakespeare, seja lá quem ele tenha sido, definitivamente a abraçou.

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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