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Saúde

Envelhecer com saúde: O desafio do século XXI

por Cristina Maria Rabelais Duarte

O envelhecimento é inexorável e representa as consequências da passagem do tempo no corpo humano, em suas duas dimensões: física e psicológica. Entretanto, envelhecer não é sinônimo de adoecer, sendo possível chegar ao fim da vida com vitalidade e autonomia. Reconhecendo o envelhecimento saudável com um dos grandes temas do século XXI, a Organização Mundial da Saúde propôs pensá-lo, em 2012, como tema central do Dia Mundial da Saúde (7/4), data que marca, desde 1950, o convite anual feito a cidadãos, governos e lideranças mundiais, para concentrarem esforços sobre um desafio sanitário de impacto global.

No Brasil, o IBGE vem registrando ano a ano o envelhecimento da população. No último censo, realizado em 2010, a população maior de 60 anos contabilizava mais de 20 milhões de pessoas. Nossa esperança de vida, que era de 52 anos em 1960, aumentou expressivos 20 anos no início do século XXI e tem perspectivas de passar dos 80 anos em 2050. Se lembrarmos dos 42 anos vividos em média pelos brasileiros na década de 1920, este crescimento soa ainda mais impressionante.

Sob a ótica do desenvolvimento social, o envelhecimento das populações é, sem dúvida alguma, uma boa notícia, já que é resultado da melhoria nas condições gerais de vida e saúde das pessoas. Mas é necessário garantir que a boa saúde se estenda por toda a vida. Neste sentido, o envelhecimento populacional renova desafios e obriga os governos a incluírem novas prioridades sanitárias entre as já tradicionalmente voltadas para as populações mais jovens. Certamente, ainda temos muito que avançar no cuidado e assistência a nossa população mais jovem. A mortalidade infantil, por exemplo, encontra-se em patamar dos 18 por mil nascidos vivos e apresenta variações reveladoras dos diferenciais das condições de vida de cada região brasileira.

Por outro lado, ao se comparar a evolução da população mais velha, em relação aos jovens, percebe-se a importância do tema proposto pela OMS para a definição de políticas públicas pelas autoridades brasileiras. Se em 1950, havia apenas 5 idosos (maiores de 65 anos) para cada 100 jovens até 14 anos, no último censo de 2010 esta relação pulou para 30 idosos para cada 100 jovens. Atualmente, nada menos do que 1 em cada 10 brasileiros têm mais de 60 anos, justificando plenamente a preocupação não apenas das autoridades, mas também de cada um de nós com o envelhecimento saudável.

Na concepção da própria OMS, a saúde é definida como “um estado de completo bem estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doenças”. Um conceito difícil de ser aplicado no cotidiano de quem tem 60, 70 ou 80 anos. Entre os idosos, encontramos com frequência pessoas que apresentam doenças incapacitantes, gerando dependência cada vez maior do cuidado de terceiros. Mas também encontramos aquelas que se mantém ativas e autônomas até o fim da vida. Todos, entretanto, possuem demandas diferentes das existentes em outras fases da vida humana e requerem de governos e cidadãos ações para o enfrentamento da vulnerabilidade, crescente com o avançar da idade

O papel do Estado é fundamental na definição de políticas públicas multissetoriais (não apenas no setor saúde), que possam atender às demandas de idosos em todas as situações, das menos até as mais frágeis, como equipamentos urbanos adequados, um sistema de previdência social que possibilite o sustento na velhice, proteção social para os mais vulneráveis e desassistidos e um sistema de saúde preparado para lidar com situações características da idade.

Sociedade, família e organizações também devem participar na criação de ambientes e estilos de vida saudáveis. Diminuir a convivência ao longo da vida com fatores de risco para doenças crônico-degenerativas e criar ambientes de acolhimento e valorização da pessoa idosa são ações que caracterizam uma população sensibilizada, preparada para conviver e tirar o melhor proveito da velhice. Afinal, envelhecer com saúde é uma jornada destinada a toda sociedade e a todas as gerações. Sejam poucos ou muitos anos, que sejam produtivos e felizes.

Cristina Maria Rabelais Duarte é  Coordenadora do Curso de Especialização em Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Petrópolis. Doutora em Políticas Públicas e Saúde.

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