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Colunas

[Na Mente de um Strudel] Digitando…

por Rafael Studart

Os antigos povos escreviam usando passarinho, cobra, leão e alguns símbolos loucos. Cinco mil anos depois escrevemos usando cornetinha, dançarina de flamenco, hi-five (ou mãozinha rezando) e alguns símbolos loucos. É o kanji do ocidente. Hieróglifos do século XXI. Nossos queridos emojis que, muitas vezes, conseguem resumir em um bíceps contraído toda a força que queremos passar.

Confesso: adoro o macaco que não fala e seus amigos sábios. Mas comecei a me incomodar com seus primos mais ignorantes: os caracteres latinos. Ou melhor, o excesso deles.

Sinto que estamos preterindo a linguagem falada e priorizando a truncada. Meu caso: uma história de ficção com uma garota, no início do ano. O prefácio foi ao vivo, mas, depois de nos distanciarmos geograficamente, o restante foi todo caracterizado. Como não sou um Fernando Pessoa e nem ela uma Clarice Lispector, é óbvio que esse WhatsÁlogo foi todo cheio de percalços e falhas de interpretação. Teve um momento que não aguentei e resolvi esclarecer as coisas por “telefone”: um aplicativo que descobri no meu smartphone depois de quase dois anos. Já era tarde: o estrago estava feito. Queria poder ser bom de desenho, porque, talvez, com uma imagem, conseguisse resumir mil palavras de mal-entendidos.

No final, nossa história acabou em reticências, ou em três pontos finais, quem sabe?! A questão é que calamos as nossas bocas e demos voz aos nossos dedos e à autocorreção que assola nossos diálogos velozes. Não sei dizer exatamente quando, mas juro que houve um momento em que achei que poderia estar conversando com uma inteligência artificial de última geração. “Quem garante que é ela mesma que está do outro lado do chat?”, pensei. Respostas rápidas, monossilábicas que, volta e meia, resvalam na frieza e imediatismo, incentivadas por aquele “digitando… ” que já teimou em aparecer do outro lado. Escrevemos qualquer coisa pra justificar um desses e não passar hesitação.

Sem dúvida que é prático e barato, mas as mensagens devem ser reservadas a situações casuais, objetivas, corriqueiras. A menos, é claro, que você seja um ás da escrita e consiga passar todas as nuances do seu amor, carinho e afeto com duas dúzias de palavras e três emojis.

Curioso é que no passado preconizavam o uso exacerbado de videochats, tecnologia que já existe há tempos. Porém, algo dificultou essa disseminação, e não foi a simples vaidade de não querer aparecer com cara de sono em frente às câmeras pros nossos amores e amadas. Foi a covardia.

studartRafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7

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