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Saúde

Interiorizar a saúde

por Paulo Cesar Guimarães

A Medicina está passando por transformações e enfrentando problemas no Brasil. Os hospitais universitários públicos, que eram referências, hoje enfrentam dificuldades por falta de maior investimento do governo. Uns recebem reformas incipientes, e outros estão com emergências fechadas. Foi aventada pelas autoridades a construção de vários hospitais. Parece que inauguração tem mais valor que a manutenção. Primeiro, deviam ver os existentes antes de criar outros, para não caírem nos mesmos erros do passado.

Medicina se aprende nos hospitais, nos ambulatórios e nas urgências. Medicina não se aprende só no computador, nas aulas teóricas. Tem que examinar o paciente, ouvi-lo. Os congressos médicos e as ruas estão falando sobre a necessidade de valorização da saúde e contra a “importação” de médicos. Se eles vierem de fora, o exame Revalida é fundamental, porque os profissionais precisam estar preparados para exercer a função.

Na verdade, o Brasil tem um número grande de médicos. O que falta é uma política de saúde, com um plano de cargos, carreiras e salários (PCCS), para que o jovem médico saiba quanto vai ganhar hoje, amanhã e ao se aposentar, como ocorre em outras profissões. Precisamos de investimentos maiores na carreira médica.

Também trabalhei em áreas carentes, sem estrutura, e conheço as dificuldades de clinicar sem recursos. Por isso, não adianta apenas interiorizar médicos, tem que interiorizar a saúde. Um médico no interior precisa de um local razoável para consultas, contato com outras especialidades, outros profissionais da saúde e condições para transferência de um paciente grave.

É importante que o profissional continue a manter vínculos com centros de referência nas grandes cidades. Ele não pode ficar isolado, estagnado, precisa de atualização, além de pensar no futuro pessoal e do local onde esteja trabalhando.

Também é necessário investir na formação, na qualidade da educação e dos cursos médicos, sempre com o controle do MEC. Porém, não acredito que novos cursos sirvam para fixar profissionais nesses municípios. Na Faculdade de Medicina de Petrópolis/Fase já formamos mais de quatro mil médicos e a minoria ficou na cidade de Petrópolis.

Os jovens médicos têm que ter atrativos para se estabelecer em uma região diferente da sua, e a questão financeira, entre outros fatores, é importante. Com condições mínimas de trabalho, eles se interessarão pela mudança, deixando para trás o estresse das grandes cidades, com os congestionamentos no trânsito e a violência.

A Medicina é a nossa paixão. E a formação é exigente: são seis anos de graduação e dois ou três de Residência Médica. O médico tem que gostar muito do que faz e estar sempre se atualizando. A Medicina é a ciência das verdades passageiras. Quem estuda e exerce a profissão é porque gosta muito. Mas é preciso ter retorno, uma atenção especial. E nem sempre isso acontece em nosso país.

Paulo Cesar Guimarães é pediatra, professor e diretor da Faculdade de Medicina de Petrópolis/Fase.

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