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Esporte

Uso político da Copa do Mundo não é novidade no Brasil

O Portal Acontece em Petrópolis começa hoje uma série de matérias sobre o Mundial, no Brasil. A primeira reportagem revela a exploração política com a equipe do Brasil que inicia, em junho, a caminhada rumo ao hexacampeonato mundial. Outras reportagens, mas focadas no time de Felipão, serão publicadas até o fim do Mundial, marcada para o dia 13 de julho, no Maracanã.

por Roberto Márcio

A política e Copa do Mundo andaram de mãos juntas desde as suas primeiras edições. As recentes declarações de Joana Havelange sobre os supostos “roubos” e o apoio explícito de Ronaldo Nazário ao candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, após apoiar as ações do PT no Mundial, espantam a todos. Tanto Joana como Ronaldo fazem parte do COl, que organizou a Copa e revelam claramente o uso político de uma paixão de milhões de pessoas pelo mundo todo.

Nos primórdios da evolução política no país, Getúlio Vargas recebeu a delegação brasileira no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, que disputou a Copa do Mundo na Itália, em 1938. Este, aliás, foi o último realizado no velho continente. Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939, houve um hiato que durou 12 anos. A primeira Copa pós-guerra foi no Brasil, em 1950 e que, como antes, houve a exploração política de um país que aparecia para o mundo como emergente.

A conquistas das Copas (1958 e 1962) criaram um script que se repetiu em 2002, quando Fernando Henrique Cardoso fez uma grande farra para acolher os pentacampeões. Todavia, há uma eliminação que foi tão traumática que abriu o caminho para uma espécie de “militarização” das seleções seguintes: a de 1966. Depois disso, houve algumas tentativas de intervenção no selecionado, até que, contra tudo e contra todos, a futura CBF como a conhecemos (a CBD) chamou João Saldanha, um jornalista botafoguense que ganhou o apoio nacional – incluindo os coleguinhas jornalistas – ao cargo de treinador.

Saldanha era cobrado. E levar o Brasil ao tricampeonato na Copa de 1970, no México, era fundamental para a sua sobrevivência enquanto técnico. O detalhe é que o país já vivia a ditadura militar e João era ligado ao “partidão” (na época era apelido do partido Comunista Brasileiro) e o conflito ideológico foi levado para a seleção. Nas eliminatórias, o Brasil venceu todos os seus adversários, conseguindo uma média de quatro gols por jogo. Só que divergências que envolveram até a cúpula militar de Brasília empurrou o técnico para fora. A CBD chamou Mário Jorge Lobo Zagalo, campeão do mundo em 1958.

O tri no México era uma aposta certa. No auge do governo militar, o ditador Médici aproveitou a euforia da conquista brasileira no México para lançar o Ato Institucional número 5 – que previa prisão para quaisquer manifestantes ou “terroristas”. Dentro de campo, Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio, Everaldo cuidavam da defesa, enquanto que do meio-campo para frente só feras como Gerson, Rivelino, Jairzinho, Pelé, Tostão davam conta nas quatro linhas.

As Copas seguintes seguiram com a mesma exploração da imagem do selecionado com os governantes. Só não houve mais purpurina porque o Brasil perdeu em 1974 (terminou em quarto), 1978 (eliminado da final numa combinação de resultados que favoreceu os argentinos), 1982 (a derrota sentida até hoje após ser derrotado pela Itália de Paolo Rossi), 1986 (França tira os brasileiros da semifinal com direito a perda de penalidade por Zico) e 1990 (a Argentina tira onda ao vencer o Brasil por 1 a zero, com gol de Caniggia e frustra chegada à semifinal).

Em 1994, nos Estados Unidos, um Brasil recém assumido por FHC pôs fim a um jejum que se arrasta há mais de 20 anos e bateu a Itália na final, por pênaltis. Logo se associou o êxito da implementação do Plano Real aos tetracampeões mundiais. Uma jogada de marketing que só não teve continuidade porque, em 1998,  a goleada imposta pela França por 3 a 0 esfriou o ânimo dos políticos do poder na época. Isto, contudo, não impediu a reeleição de FHC para um segundo mandato.

Foi mesmo em 2002 que o presidente tucano recebeu, com pompas, a seleção do penta. A festa em Brasília teve direito até a cambalhota do então corintiano Vampeta.  Os Mundiais seguintes não fugiram ao roteiro. Ou seja, de Getúlio Vargas até a presidente Dilma Rousseff a exploração política faz parte do roteiro que os brasileiros se acostumaram, até porque coincide com as eleições presidenciais e, tirar uma casquinha todo mundo quer. Associar sua imagem com a de um time vitorioso, portanto, é um filme cujo roteiro irá seguir ainda por muitos anos.

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