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História

[História] A sexualidade controversa de Santos Dumont

Foto: reprodução

Não sei exatamente com qual objetivo este tema é trazido à tona, mas ocasionalmente, podemos ver em publicações de revistas, sites e até livros teóricos, estudos e biográficos da vida do aviador brasileiro, diversas insinuações sobre sua sexualidade. De certa forma, parece que tal fetichismo biográfico em torno de uma personalidade se torna, muitas vezes, uma busca incessante para revelar o óbvio grotesco ou, pior ainda, aquilo que é desimportante, no que tange qualquer possibilidade, primeiro, de se chegar a uma resposta e, por fim, de se achar relevância nela, caso ela seja revelada.

Desta forma, não foi com surpresa que me deparei com uma página da Wikipédia exclusivamente sobre a sexualidade de Santos Dumont. Esta página, por sua vez, nos encaminha para outros links de mais oito páginas que tratariam de temas envolvidos ao redor da questão. O mais curioso é que todas essas páginas tratam de colocar lentes de aumento em qualquer frase, carta ou citação dita por ele ou por outros para retirar dali, meio que a fórceps, o que seria a “revelação final da verdade”. Encontramos, neste espaço, algumas versões, mais ou menos parecidas em sua “in-oficialidade”.

A primeira versão é de uma espécie de “assexualidade” do aviador. Segundo um de seus primeiros biógrafos, Gondin da Fonseca, ele nunca sequer teve relações sexuais:

“Ele manteve-se virgem durante a vida inteira. Como o Infante D. Henrique. Como o Padre Antônio Vieira. Como Da Vinci, Carlyle, Ruskin e Amiel. Exibiu muitas amantes porque era moda, ao tempo, exibi-las. Procurava comprometer-se, ou comprometê-las. Mas não avançava sinal: não passava a vias de fato. Isto eu garanto.”

Ao contrário dessa versão, Luiz Mott colocou Santos Dumont, sem quaisquer indícios para isso, entre os 100 homossexuais VIPS do Brasil, corroborando a ideia de Paul Hoffman, autor do livro Asas da Loucura, que escreveu que o brasileiro possuía “timidez feminina sem o charme feminino”.

Chegou-se até a atribuir uma pretensa (e anacrônica) bissexualidade, por conta do livro Santos Dumont: ares nunca dantes navegados, de Orlando Senna, por conta da citação: “Amei homens e mulheres, sou macho e fêmea, no coração e na mente, não me foi dado o bem ou o mal de saber dividir categorias tão complementares”. No entanto, o próprio autor descarta essa possibilidade, uma vez que, sendo seu livro uma ficção, todas as palavras contidas nele são inventadas.

Por fim, temos a autobiografia de Yolanda Penteado, chamada Tudo em cor de rosa, que afirmava categoricamente que Alberto lhe “fazia a corte”:

“Seu Alberto, de fato, me fazia a corte, trazia-me bombons, flores, levava-me a passear. As pessoas que o conheciam melhor diziam que, quando ele me via, ficava elétrico.”

Dentre tantas versões, vivem aparecendo novas cartas e biografias e arquivos que, por mais escavados, não conseguem despentear uma história que não tem para onde ir. A sexualidade de Santos Dumont não era uma questão de “discrição”, como muitos atribuem, muito menos algo que ele deliberadamente mantinha em segredo. Creio que sua sexualidade, simplesmente, não era uma questão. Seus pensamentos, suas teses e seus papéis não se debruçavam sobre isso e, assim, nada há a dizer a não ser a especulação que nem deveria ser dita.

A verdade é que nunca saberemos a verdade. Além do mais, isto pouco importa. A importância de Santos Dumont está em seus feitos e em sua figura e na sua capacidade de, em um momento em que o país andava a carros de boi, colocar, definitivamente a carroça na frente dos bois, dando ao mundo todo o avião.

luizLuiz Antonio Ribeiro é formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO, mestrando em Memória Social na área de poesia brasileira e graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja, Flamengo e ócio criativo. Em geral, se arrepende do que escreve. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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