Publicidade Concer: Passarelas
Publicidade Concer: Passarelas
Entrevistas

“Petrópolis está crescendo e o mercado da gastronomia cresce junto”, diz a chef Lydia Gonzalez

Foto: Gustavo Kersten 

Lydia Gonzalez, de 30 anos, é petropolitana e trabalha no ramo da gastronomia. Apaixonada pela culinária brasileira, ela tem uma empresa de eventos, atua como consultora de restaurantes renomados na cidade e ministra um curso de ecogastronomia na Faculdade de Medicina. Além disso, ela dá aulas particulares e no Senac.

Em entrevista ao Acontece em Petrópolis, ela revelou que sonhava em ser médica, mas foi surpreendida pela paixão pela cozinha. A história profissional teve início dentro de casa, influenciada pelo pai, que era um amante da culinária, e pela avó, que era quituteira por profissão.

Portal AeP: Como e quando foi que você despertou o gosto pela gastronomia?

Lydia: Acho que essa paixão começou com meu pai. Ele amava comer bem e foi no seu colo que aprendi, desde pequena, a tomar gosto pelos sabores, comendo jiló com pimenta e muito azeite, ou a farofa torradinha regada com molho da deliciosa carne assada que perfumava a minha casa desde as 5 horas da manhã nos domingos que ele resolvia cozinhar. Depois disso, sem dúvida, quem transformou o gosto em comer pelo gosto em cozinhar foi minha avó, que me criou na cozinha. Quituteira por profissão, ela me distraía ensinando receitas ou me botando para enrolar e rechear canudinhos. E assim fui crescendo. Minhas amigas de infância lembram que era na minha casa que aprenderam a quebrar o primeiro ovo, a riscar o primeiro fósforo, a brincadeira lá passava sempre pela cozinha.

Portal AeP: E pela culinária brasileira?

Lydia: Para culinária brasileira eu despertei depois de ter entrado no curso de gastronomia. Tive um bom professor na área, que me mostrou bem por alto, é claro, a riqueza de nossa cultura. Daí para eu começar a querer viajar e ver de perto essa cozinha, provar seus sabores mais originais, aprender com os cozinheiros antigos as tradições locais, foi um pulo. Por conta dessas vivências e dos tão variados e intensos sabores de nossa cozinha me apaixonei de vez. Mas ainda não tinha despertado para a necessidade de trabalhar isso como a base de minha cozinha. Até que nesta temporada que passei trabalhando na Espanha tive o click. Pareceu-me óbvia e urgente a necessidade de valorizar o que temos, de resgatar nossas raízes, de trazer ao prato um pouco de nossa cultura tão massacrada ao longo de nossa história.

AeP: Era o que você pensava em ser quando crescesse?

Lydia: Não, eu queria ser médica! (risos) Acho que de uma forma ou outra minha vontade era cuidar. Agora, depois de muito, descobri que o alimento também é uma forma de cuidado, talvez a mais básica e primordial de todas elas.

AeP: Como você atua na área hoje?

Lydia: Tenho uma empresa de eventos e pratico em meus menus o conceito de cozinha de produto. Partindo de um ingrediente artesanal, orgânico, nativo ou preparo tradicional. Crio o prato e harmonizo o menu a fim de valorizá-lo. São eventos pequenos e  exclusivos. A ideia é levar um restaurante completo ao espaço do cliente, onde todo detalhe é cuidado com atenção para que a experiencia seja completa. Atuo também como consultora, levando minha experiência de 13 anos em diversas cozinhas para os negócios locais. Pousadas e restaurantes, independente do tamanho, podem melhorar muito seus resultados profissionalizando seus funcionários e criando procedimentos similares aos usados nas grandes cozinhas. Além disso, há mais ou menos dois anos, me comprometi com a educação. Acredito que é por aí que mudamos histórias! Hoje coordeno um curso de ecogastronomia, na Faculdade de Medicina de Petrópolis que me dá muitas alegrias, dou aulas particulares e nos cursos profissionalizantes do Senac.

AeP: Sempre ouvimos que Petrópolis não tem mercado para vários segmentos. Como você vê a cidade para a área gastronômica?

Lydia: Vejo um mercado aquecido e variado, cheio de possibilidades, com público e segmentos diversos e ainda muita demanda por ser atendida. Por outro lado, vejo equipes e gestões muito pouco treinadas e um descompromisso com a qualidade que deve mudar nos próximos anos. Petrópolis está crescendo e o mercado da gastronomia cresce junto. O público, cada vez mais entendido e viajado, aumenta seu grau de exigência e nós, profissionais da área, devemos nos adaptar a esta demanda por qualidade.

AeP: Quais as principais dificuldades que você encontrou até hoje na profissão?

Lydia: A exigência física e emocional é enorme. Só mesmo com muito amor!  Sofri um pouco de preconceito no início. Por não ter o típico perfil do chef, muita gente me olha desconfiada. Mas isso se resolve à beira do fogão. Hoje, o mercado da gastronomia se tornou um mercado de marketing e não mais de comida gostosa e de ideias originais. Senti um pouco para me adaptar a esta nova necessidade de exposição.

AeP: Por quais países passou enquanto estava se aperfeiçoando na área?

Lydia: Trabalhando, somente pelo Brasil e Espanha. Pelos outros todos, comendo, bebendo e sentindo muito. Considero importantíssima para minha formação toda esta vivência, como as passagens pela Itália, França, Alemanha, República Tcheca, Bélgica, Portugal, Holanda, África do Sul, Chile, Peru e Argentina. Foi assim que conheci uma riqueza de sabores e técnicas que, segundo dizia meu pai, serviram como uma bela pós-graduação para mim. Por onde ando vou comendo, sentindo, cheirando, perguntando, pedindo receitas. Meu primeiro passeio começa sempre pelo mercado local, que aliás, super recomendo mesmo para quem não liga tanto para comida. Os mercados são sempre cheios de histórias, de gente local, de belezas escondidas.

AeP: Como você vê a gastronomia nos próximos cinco anos?

Lydia: Vejo o Brasil cada vez mais no prato. Penso que o movimento é geral e que  nós vamos reaprender a gostar do que é nosso. Acho também que a tendência é de que os restaurantes melhorem consideravelmente seus serviços. O mercado exige cada vez mais profissionais e os  da área começam a entender que gastronomia é cultura, que o estudo é primordial. Então eu vejo com bons olhos, estou bastante otimista com relação ao futuro da gastronomia.

Botão Voltar ao topo
error: Favor não reproduzir o conteúdo do AeP sem autorização ([email protected]).