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Colunas

[Na mente de um Strudel] Shhhlêncio

por Rafael Studart

Do outro lado do Skype ela espera em silêncio, daqueles fresquinhos, em formação, ainda emitindo aquele som de diálogo que acabou de acabar, de reticência que vem depois das risadas.

Ele percebe esse silêncio que está nascendo e busca por alguma amenidade a ser dita. Seus neurônios começam a acelerar suas sinapses, tentando encontrar um assunto a ser puxado. Cada segundo parece uma década. Falta do que falar é algo imperdoável. É preciso continuar a conversa. Encerrar o papo não é uma opção!

Nota que já está há sete infinitos segundos sem trocar uma palavra: agora é ela quem vai ficando aflita. Seu hipotálamo e todo o resto do seu cérebro entra em estado de alerta. Procura em ritmo frenético, caçando qualquer tripa de diálogo dando sopa pra ser expulso pelos seus portões vocais.

Essa agonia vai tomando conta de ambos, como se estivessem tateando por oxigênio em meio ao vácuo mortal de palavras. 11%, 10%, 9%… em breve, os tanques reserva vão acabar e tudo que restará é a constatação de que não há mais nada a ser dito. O silêncio constrangedor ficará registrado em ata e ambos perceberão que há algo de errado na relação.

Ele e ela, cada um seguindo o seu próprio labirinto em meio à biblioteca mental de assuntos a serem escolhidos. O desespero já é tão grande que começam a intensificar ainda mais a busca. Despejam os assuntos por todo o canto do cérebro. Vão ficando descuidados, desatentos, o critério com que selecionam o que será dito vai diminuindo e… “Quando era mais novo, colocava a roupa da minha mãe, passava batom e ficava me admirando no espelho.”

Essa é a história de um dentre muitos daqueles silêncios que são mortos ainda pequenos e não conseguem ter a chance de crescer e seguir uma vida pacífica e tranquila em bibliotecas, hospitais, templos budistas e igrejas. Evite o silenciocídio. Saia da conversa antes que seja tarde demais. Quem ama cala e quem cala é consciente.

studartRafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7

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