O choque térmico na boca pode ter consequências desagradáveis como a quebra do esmalte, camada externa do dente. Quando exposta a temperaturas extremamente baixas ou altas, a estrutura passa pelo processo de expansão e contração, o que causa micro fissuras ao longo do tempo. Os dentes da frente são os que sofrem o maior impacto, absorvendo a temperatura de alimentos como uma sopa, que pode chegar a 80º C, seguida de um gole de chope gelado a 4º C.
O resultado, muitas vezes, sequer é atribuído a sua real causa. Um exemplo é o relato comum nos consultórios dentários de que o dente quebrou “de repente” enquanto a pessoa mastigava. “As pessoas dizem que estavam comendo algo macio quando perceberam que uma lasca havia se soltado. Ao contrário do que se pensa, o ‘acidente’ não ocorreu de repente ou ‘do nada’. Aquele dente certamente já estava trincado e o processo de expansão e contração foi progredindo”, explica o cirurgião dentista do Instituto Rio, Márcio Marques.
O especialista esclarece que o esmalte é uma estrutura cristalina semelhante ao vidro. “A expansão e contração repentinas são capazes de produzir trincas no esmalte. Elas podem ser tão discretas que apenas o dentista consegue identificá-las”, diz Márcio. As pequenas rachaduras afetam apenas a camada externa, já que a dentina, que forma o corpo do dente, é mais resistente. Dessa forma, o esmalte racha, mas ainda continua preso à estrutura interna. O problema se torna visível e incômodo quando a “lasca” de dente se desprende e cai.
O hábito de expor a boca a grandes variações de temperaturas foi incorporado à cultura dos brasileiros, visto que é comum estabelecimentos servirem o tão apreciado cafezinho acompanhado de um copo d’água. “Esta ingestão de quente e frio simultânea afeta, inclusive, o processo de digestão e o funcionamento do organismo”, alerta o dentista, ressaltando que é preciso repensar este costume aparentemente inofensivo.
