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[Coluna de opinião] Quais são as reivindicações?

por Fernanda Almeida

O Brasil está nas ruas, mais uma vez. Mas qual é a pauta, qual a razão? Os manifestantes querem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mesmo não havendo bases nem razões jurídicas para tal processo, conforme opiniões e declarações de diversos juristas. Os manifestantes se valem dos 13% de aprovação do governo Dilma. É consenso que o segundo mandato de Dilma Rousseff está muito aquém das expectativas, principalmente de quem votou nela. É exatamente nesse ponto onde se encontra o desenvolvimento da reivindicação. A quantidade de pessoas pedindo intervenção militar assusta. Poucos dias depois da Polícia Militar assassinar uma criança de 10 anos de idade no Complexo do Alemão, as pessoas vão às ruas querendo mais truculência. Tudo para conter o avanço da “ditadura comunista do PT”. Há uma institucionalização do ódio como mote para reivindicações sociais. E o ódio cega. O dia 12 de abril de 2015 entrou para a História, mas não pelas manifestações, mas pelo que aconteceu no Panamá. Lá, onde acontece a Cúpula das Américas, Barack Obama (presidente dos Estados Unidos) e Raúl Castro (presidente de Cuba) apertaram as mãos e iniciaram oficialmente o diálogo entre os países após 57 anos de isolamento. O discurso de Barack Obama é direto: “A Guerra Fria acabou”, disse ele. Como então levar a sério a “luta contra o comunismo” que se estabeleceu no Brasil? Vivemos a era onde as pessoas sabem das coisas sem saber, onde o ódio fomenta a agitação popular e onde troca-se Paulo Freire por Lobão. Somente a título de curiosidade: Paulo Freire é o autor brasileiro mais lido nas universidades norte-americanas e europeias hoje em dia.

O comunismo acabou em 1991 com a dissolução da URSS. O que leva então as pessoas acreditarem que isso ainda faz parte do cenário político mundial? Além do ódio estabelecido onde qualquer tentativa de debate se dilui, há um forte e profundo complexo de vira-latas. Integração latino-americana vem sido frequentemente confundido com comunismo. A aproximação com países vizinhos é vista como ameaça, quando deveria ser vista como um aspecto positivo de afirmação de identidade e fortalecimento das relações econômicas, sociais e culturais. No entanto, fica muito difícil falar em identidade quando um renomado curso de idiomas vem através das redes sociais afirmar que o segundo idioma oficial do Brasil deveria ser o inglês. A América Latina está aberta a tudo ao que se refere ao Brasil, mas nós viramos as costas para eles.

O exercício da política nunca será sem partidarismos, mas uma análise do que é o Brasil e principalmente do que pode ser o Brasil deve ser SEMPRE sem partidarismos. A tal integração latino-americana só tende a crescer. Olhar pra dentro não significa renegar o que vem de fora, culturalmente falando, significa deixar de ser refém do que vem de fora (falo estritamente no sentido econômico aqui). Barack Obama parece ter entendido o recado, num contexto de crise econômica norte-americana (que começou em 2008 e ainda não cessou). Esse trecho da matéria do Portal G1 mostra: “Durante seu discurso, Obama propôs US$ 1 bilhão para ajudar os países da América Central e anunciou que pretende impulsionar o intercâmbio entre estudantes da América Latina e a potência norte-americana”. Somos todos América.

Já temos dados suficientes de que a corrupção sempre existiu e mensurar “quem roubou mais e quem roubou menos” é absolutamente irrelevante. Os avanços dos governos FHC e Lula são inegáveis, mesmo botando na conta erros de ambos e corrupção nas suas respectivas gestões. O que não me isenta de continuar acreditando que o segundo mandato de Dilma está muito aquém do que pode e deve.

Retomando: o capitalismo venceu a Guerra Fria de forma incontestável, gostemos ou não. A luta agora no século XXI é para garantir direitos iguais para todos. Quem vive a Guerra Fria continua estacionado ideologicamente no pós-guerra. E só empobrece o debate político.

FernandaFernanda Almeida é videomaker, antropóloga e fotógrafa. Graduada em Cinema e Mestre em Antropologia, ambos pela PUC-Rio, atua também como editora de vídeo desde 2006, tendo passado por diversas produtoras na cidade do Rio de Janeiro. De volta à cidade natal, Petrópolis-RJ, fundou a Sete Cores Filmes, especializada em vídeos de curta duração. No ano de 2014, fez ainda três trabalhos como cinegrafista e assistente de edição para a BBC mundial, especificamente para o canal BBC Real Time, além de outros trabalhos freelancer.

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