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[Coluna] Os afrodescendentes e a religião Bantu

(Foto: reprodução)

por Penha Almeida

O Brasil recebeu levas e levas de escravos provenientes de Angola e da Bacia do Congo na África. O tráfico negreiro era o que proporcionava mais recursos para a metrópole, ou seja, Portugal, desde o século XVII. Antes de embarcarem nos navios negreiros, os Bantus enviados eram batizados com nomes lusos e assim, um “Rei” virava escravo, pois as tribos rivais na África guerreavam entre si, mandavam e vendiam os prisioneiros capturados ou derrotados como escravos. Os “Estados Africanos “, no século XIX, foram tomados à força por nações europeias industrializadas, como Inglaterra, França, Bélgica e Alemanha.

Com o pretexto de combate ao tráfico “ilegal” de escravos, franceses e ingleses dominaram cidades e portos na África depondo os chefes tradicionais. O nome Bantu significa a essência de tudo que existe, seria o ser humano, a pessoa, corpo e mente. Na cultura africana a palavra tem grande importância, pois a língua reflete a coletividade e a relação dos seres com a natureza e o universo. A transmissão de conhecimentos se dá através da palavra falada, do som de tambores e agogôs e do respeito aos ancestrais – àqueles que conhecem a história.

Na religião Bantu, na morte o corpo físico se separa do que se chama “inteligência viva”, aquela onde o corpo renasce e se prolonga na vida dos descendentes em uma reencarnação infinita. O único Deus é Olorum, o criador e os seres humanos nascem para o grupo não como indivíduos, toda finalidade é comunitária e coletiva.

Os angolanos adoram o comércio e o artesanato, por isso, em muitos países africanos existem feiras livres e mercados. O clima de trabalho entre os Bantus é de solidariedade e amizade. Eles acreditam que o sorriso é um ato de energia intrínseca, pois cativa, liberta e enriquece.

Para todos os africanos, o processo de imperialismo europeu na África significou sangue, morte e destruição, porque para o povo Bantu, uma terra não pode ter dono particular, ela é invendável, não tem preço , é como o ar que se respira.

O colonialismo na África trouxe, além da escravidão para os povos Bantus e outras etnias minoritárias, a perda de seu território imemorial, de suas riquezas, como o ouro, a platina, o petróleo, as pedras preciosas, como os diamantes. Na verdade, os escravos que vieram para o Brasil eram quase 90% de origem Bantu, ou seja, eles trabalharam a princípio nas usinas açucareiras do nordeste e, em um segundo momento, na mineração nas Minas Gerais. Depois, nos cafezais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A abolição da escravatura não foi um ato humanitário, ao contrário, com a revolução industrial, as grandes potencias mundiais, necessitavam de mão de obra assalariada para consumir produtos industriais de vários tipos. Quando a abolição chegou no Brasil, já havia a Lei do Ventre Livre e dos Sexagenários, no qual bebês e velhos não poderiam trabalhar e representavam um custo adicional aos senhores cheios de dívidas com os traficantes clandestinos de escravos. Na verdade, a Lei Áurea chegou tendo senzalas vazias e milhares de imigrantes italianos e alemães no Brasil trabalhando nas lavouras, criações de gado, porcos, substituindo o braço escravo.

Os afrodescendentes de hoje, sofreram e sofrem discriminação em todos os lugares e estados brasileiros, na verdade, esta dívida existe e persiste e a igualdade está longe de acontecer de fato e de verdade. Não existe pior racismo que o velado, o não exposto, o consentido em entrelinhas.

Angola era a terra da Rainha Ginga que lutou contra a colonização portuguesa por anos, a princípio se aliando aos holandeses e depois, tentando se converter ao catolicismo, para convencer os portugueses de que era uma aliada e não inimiga. Assim, ela enganou vários governadores portugueses e se manteve rainha por anos.

Os escravos Bantus eram comprados no litoral não com dinheiro, mas na maior parte das vezes trocados por aguardente, miçangas e fumo. Há quatrocentos anos existia um Reino Bantu na Bacia do Congo governado pelo Soba MwenwKongo. Seu exército praticava uma luta com dança chamada capoeira. A Rainha Ginga chefiava o Reino de N’Dongo, ou Angola, e resistiu bravamente aos portugueses chefiados por Diogo Cão durante quase sete anos.

Assim, devemos saber que muitos de nossos afrodescendentes são de origem Bantu e esta cultura não deve ser esquecida, pelo contrário, deveria fazer parte dos currículos escolares.

Penha AlmeidaPenha Almeida é antropóloga, socióloga e Mestre em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP).  No currículo, também coleciona a carreira de escritora. Recentemente, lançou o livro “Os Fidalgos”, que conta a história da queda da monarquia após a guerra do Paraguai.

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