por Rafael Studart
“Fulano come algo”. Sujeito e predicado populando nossas timelines. Fotos e vídeos de comidas vazadas invadindo nossos whatsapps e as intimidades de quem os fez.
Ironia esse emaranhado de eu’s incapaz de formar sequer um punhado de nós. Todos se acotovelando; buscando luz, câmera e só. Tão só que não sobra um “s” sequer pro socorro.
Entre polegares e compartilhadas segue o protesto de quem tem a vaidade bem enquadrada graças a um pedaço de pau.
Pau que bate foto, pau que bate forte, pau que ergue alto opiniões retweetadas de caras filtradas com tinta do Insta.
Tempo que esvai com o que se quer parecer, cem vezes o tempo que se gasta para ser; para num estalo tudo desaparecer.
Coração pra todo lado entre fotos num quadrado, coração fragmentado de um gostar mecanizado.
Gourmetizamos a nós mesmos, torcendo por mordidas em vidas recheadas com desespero de pequenos eu’s.
Rafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7
Leia outras colunas de Rafael Studart:
[Na mente de um Strudel] Teoria do Scrotum
[Na mente de um Strudel] Habemus Speculum
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