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[Para & Pensa] As estações

por Daniel Martinez de Oliveira

Quando pensamos no inverno, vêm logo à nossa mente ideias associadas às árvores desfolhadas, o frio e o vento, céu azul ou dias nublados e úmidos. Enfim, uma quantidade de imagens que nos fazem pensar em locais acolhedores e alimentos bem quentinhos. Pelo menos é assim que imagino que grande parte das pessoas pense.

As sociedades ditas modernas perderam, em grande parte, a noção da marcação do fluxo temporal e da passagem do tempo com base nos fenômenos naturais. Ainda que calculemos os dias por meio da rotação da Terra e os anos pelo seu movimento de translação, a transitoriedade dos ciclos naturais já não influencia tanto a nossa vida como antes. Ou ao menos assim o consideramos.

Nas chamadas sociedades de pequena escala, pré-modernas, tradicionais ou arcaicas – na falta de melhores termos, todos externos a elas –, os ciclos da natureza sempre tiveram um papel fundamental em sua organização e na forma como operavam a sua cultura. Calendários que seguiam as fases da Lua ou as estações do ano eram estabelecidos em consonância com uma preocupação diante dos fatos imprevisíveis para a sustentação da vida.

Ao contrário de nós, naquelas sociedades o risco iminente de algo sair do planejado ou ocorrer de forma inesperada levava à necessidade de elaboração de grandes cerimônias rituais e até de sacrifícios. Fossem para agradecer, fossem para pedir que os deuses interviessem de forma eficaz na manutenção do mundo.

Da mesma forma que nós, todas essas sociedades mediam (ou medem) o tempo, cada qual fazendo uso de método próprio e específico. E todas levaram em consideração os ciclos naturais do universo. A diferença é que, enquanto “nós” nos sentamos em sofás para apreciar um chocolate quente no inverno, “eles” trabalham intensamente com forças astronômicas, a fim de garantir que os deuses que controlam os elementos naturais possam consentir que o verão novamente nos ilumine.

Daniel Martinez de OliveiraDaniel Martinez de Oliveira é graduado em história e mestre em antropologia pela UFF, onde também faz seu doutorado. Realizou pesquisas sobre a Umbanda, o Santo Daime e o Caminho de Santiago. É antropólogo e historiador do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e administrador substituto do Palácio Rio Negro (Petrópolis). Além de ser professor universitário, deu aulas de espanhol por mais de dez anos. Nascido e criado em Nova Friburgo, após três anos de trabalho no Museu de Arqueologia de Itaipu, em Niterói, adotou Petrópolis para trabalhar e viver com a família. É mochileiro de carteirinha e adora ler e escrever poesias.

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