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[Na mente de um Strudel] Pensacelerado

por Rafael Studart

Para! Para! Só um instantinho, para! Segura esse pensamento aí. Não deixa ele… droga! Escapou de novo. Sumiu… Pera. Olha ele ali de novo. Vai lá! Corre para pegá-lo!

Costumava achar que tinha um milhão de coisas passando pela minha cabeça, mas atualmente penso que esse número fez sexo com outro milhão e tá cheio de milhãozinho se esbarrando pelos labirintos da minha mente.

Meu cérebro não cresceu. Meus neurônios continuam os mesmos, muitos até já faleceram. Mas os pensamentos se multiplicaram. Vivo carregando um Carandiru deles em cima do pescoço.

Tanto pensamento. Fica fácil perder um. Como acompanhá-los? Sinto-me levando uma matilha de cães pra passear por dunas de cocaína. Eu, sozinho, na outra ponta das coleiras dos pensamentos, sofrendo puxões constantes provocados por cada um deles. Todos querendo fugir pra um canto diferente desse palheiro de neurônios. Alguém domestica essa eletroquímica para mim, por favor!

Lembra quando você não tinha smartphone? E redes sociais? Lembra quando elas surgiram? Jogar videogame era algo que já fazia parte da sociedade quando vim ao mundo. Da TV ao WhatsApp, cada inovação trouxe de brinde uma velocidade nova para “Dança do Créu” dos pensamentos.

Tecnologias são ótimas, mas saber lidar é o problema. Não como tiozão, e sim no sentido cracudo da Avenida Brasil. Ansiava pelo futuro desde sempre, mas nunca pensei que ele fosse me tornar tão ansioso; ainda mais como presente. Um presente que me fez querer mais o futuro, mas daqueles do pretérito.

Já. Já desativei as notificações dos meus dispositivos. Parecia uma boa ideia. Mas cadê o cérebro se acalmando e não conferindo o celular sempre que pode? Para complicar, o jardim de ansiedades regado pelas tecnologias resolveu ter na procrastinação o seu costumaz jardineiro.

Tô cansado de perguntar o que a pessoa que tá do meu lado falou depois dela ter acabado de me falar o que me falou, pela terceira vez. Tim Maia, eu quero sossego, mas preciso do meu celular e preciso da minha Internet. Quero ser 78 RPM, não um CD, muito menos um stream. Não quero viralizar meus pensamentos! Quero uma facecura dessa frescura de notícias fresquinhas de gente mesquinha que ninguém se importa, onde todo mundo escancara a porta de suas vidas nesses nossos tempos eternamente modernos.

studartRafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7

 

 

 

 

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