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Coluna Literária

[Coluna literária] “A redoma de vidro” – Sylvia Plath

“Fiquei me perguntando em que ponto do espaço aquele azul besta e ilusório do céu ficava preto.”

As primeiras vezes são momentos marcantes na vida de qualquer pessoa e com a literatura, não teria porque ser diferente. O primeiro contato com aquele autor que vai mudar sua experiência como leitor, tornando-te ainda mais exigente em relação a outras obras; o impacto ao ler aquelas linhas, aquela história, pela primeira vez, absorvendo cada capítulo, cada diálogo. Aquele sentimento ambíguo onde você não vê a hora de saber como termina, mas ao mesmo tempo não quer que acabe. Essa é a experiência que se tem ao ler um grande autor. Pelo menos foi assim o meu primeiro contato com a obra de Sylvia Plath, algo que não sentia desde que descobri Clarice Lispector.

Originalmente publicado sob o pseudônimo Victoria Lucas, “A redoma de vidro” é o único romance da poetisa. Pode-se dizer que é uma obra semi autobiográfica, já que a narrativa é inspirada nos acontecimentos do verão de 1952, quando Sylvia tentou o suicídio e foi internada em uma clínica psiquiátrica.

Na história, a protagonista Esther Greenwood é uma jovem de 19 anos, pobre, que vive nos subúrbios de Boston, até o dia que consegue um trabalho numa revista em Nova York, onde ficará por um mês. A vida aparentemente interessante, cheia de eventos sociais badalados e a promessa de uma carreira promissora acabam sendo o gatilho de uma crise que mais tarde a levará para uma clínica psiquiátrica, após algumas tentativas de suicídio.

Ao retornar para sua cidade, Esther recebe a notícia de que não foi aceita para um curso de redação que queria muito fazer, então decide dedicar seu tempo a escrever um livro, mas não consegue se concentrar, não tem inspiração e nem experiência de vida suficiente para tal. Então começa a imaginar o que fará de sua vida depois que terminar a faculdade, mas as opções como casamento com um jovem promissor e tolo e uma vida profissional numa carreira de estereótipo feminino, como taquigrafia, não a agradam.

Fruto de uma geração pré-revolução sexual onde as mulheres ainda tinha que escolher entre priorizar a vida profissional ou a família, a falta de perspectivas em relação ao seu futuro começa a abatê-la e, progressivamente, Esther começa a se sentir deprimida, passando semanas sem conseguir dormir, acreditando que o suicídio era a única solução, até que sua mãe a interna numa clínica psiquiátrica.

“Vi os anos da minha vida se estendendo como postes telefônicos ao longo de uma estrada, ligados um ao outro através de fios. Contei um, dois, três… dezenove postes, os fios balançando no ar, e por mais que tentasse eu não conseguia ver poste algum depois do décimo nono.”

Só pela temática, já é de se esperar uma obra impactante, mas por ter tantos fatos relacionados à vida de Plath e por ela ter se matado pouco tempo após a publicação da obra, é impossível não pensar nos momentos finais da autora, seu estado de espírito e tudo que ela passou. Não é um livro triste, inclusive o final é aberto a mais de uma interpretação, mas é, sem dúvidas, arrebatador.

É uma experiência literária que todos deveriam ter.

 

 

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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