por Rafael Studart
De dentro de seu cárcere, contemplava uma árvore. Engenheiro, mestre de obras e pedreiro de sua própria prisão, forjou cada uma das barras que o detinham sem opção.
Era jovem quando seu projeto começou. Uma tatoo em seu corpo o marcou. A paixão brotou e cedo se casou. O tempo passou, mulheres passaram, mas com a sua, se sua, ficou.
Conseguiu um belo emprego. Era estável, seguro, mas não lhe dava um sossego. Trabalho pesado. Era dia, era noite, às vezes, até feriado.
Com seu dinheiro suado e sua esposa ao seu lado conseguiram financiar o seu metro quadrado. E não era só um, eram quase 70, pagos em prestações, suaves 360.
Um belo dia de outono sua esposa o encara. Está grávida de gêmeos: um Pedro e outro Sara. Dobra o turno de trabalho, rala mais, come menos, sofre o malho.
Filhos que partem, pais que ficam. Quando o bater de asas não fica a contento, não tem como não quebrar umas vidraças com o vento.
Por mais perfeito que seja o peito, é difícil entender o amor direito. De divórcio assinado e casamento acabado, metade de sua vida foi deixada de lado.
O tempo chegou. O tempo passou. E no trem do tempo, ele embarcou. De coluna curvada e fralda encharcada, pensa consigo mesmo “Mas que vida levada.”
De cima de sua árvore, contemplava um cárcere. Jaz ali um prisioneiro abandonado com “Carpe Diem”, em seu corpo, tatuado. Mas não muito pensou. Bateu asas e voou.
Rafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7
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