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Colunas

[Para & Pensa] Somos todos migrantes

por Daniel Martinez de Oliveira

Nas últimas semanas, temos sido bombardeados por imagens e notícias sobre refugiados sírios que tentam chegar aos países mais ricos da Europa. A mais comovente entre elas foi a do menino de três anos de idade encontrado morto numa praia. Trata-se de uma situação inquietante, mas que não é novidade na história universal.

Nós, os seres humanos, somos migrantes por natureza. A história de nossa espécie nos conta que, desde tempos muito remotos, nossos antepassados perambularam, de geração em geração, até ocuparem todo o globo. A nossa espécie surgiu – e se diversificou – por meio deste constante ir e vir entre os continentes.

Apesar disso, a parcela mais recente da nossa longa história é representada pela fixação de grupos, que se tornaram maiores, principalmente devido à agricultura e à domesticação de animais, que favoreceram o surgimento das primeiras vilas, cidades e sociedades não nômades. Esses fatores possibilitaram a fixação dos seres humanos em localidades em que pudessem se sustentar, sem precisar estar sempre vagando em busca de recursos que um dia acabavam.

Mas, claro, nem todos os recursos são inesgotáveis. Nem toda água é potável. Nem toda terra é boa para plantar. Nem todo comércio é sustentável. Nem toda sociedade é um reino de paz. Em diversos momentos e por diversos motivos, grupos que se encontravam estabelecidos em determinada região precisaram se deslocar em busca de novas fontes, de novos recursos, de nova vida. Ora de um lado a outro, ora no sentido inverso, mesmo após o advento do “sedentarismo”, as migrações continuaram a ocorrer.

Quando vemos grupos enormes de pessoas deixando tudo e se arriscando em busca de outro lugar para se estabelecer, nem sempre temos a capacidade de conceber o imenso esforço que elas empregam para continuar a viver. É difícil imaginar a experiência de alguém que se lança ao mar, em botes abarrotados e sem segurança, com poucos pertences e muitas vezes com crianças pequenas. E de entrar porões de navios e caminhões frigoríficos, ou atravessar cercas sob saraivadas de tiros.

É difícil imaginar, mas não impossível de compreender, pois herdamos de nossos antepassados o apego pela vida. Ainda que isso represente o autossacrifício, a tentativa de chegar ao outro lado de um mar, a busca por novos recursos após abandonar todos os que se tinha, a procura de um novo lar, a tentativa de reiniciar uma vida. Porque, em certo sentido, somos todos migrantes.

 

 

Daniel Martinez de OliveiraDaniel Martinez de Oliveira é graduado em história e mestre em antropologia pela UFF, onde também faz seu doutorado. Realizou pesquisas sobre a Umbanda, o Santo Daime e o Caminho de Santiago. É antropólogo e historiador do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e administrador substituto do Palácio Rio Negro (Petrópolis). Além de ser professor universitário, deu aulas de espanhol por mais de dez anos. Nascido e criado em Nova Friburgo, após três anos de trabalho no Museu de Arqueologia de Itaipu, em Niterói, adotou Petrópolis para trabalhar e viver com a família. É mochileiro de carteirinha e adora ler e escrever poesias.

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