por Daniel Martinez de Oliveira
Chegamos ao início de mais um ano, um intervalo que nossos antepassados criaram com base nos movimentos acima de suas cabeças. Apesar de diferentes medidas e diferentes relações com o tempo, todas as sociedades têm formas semelhantes de medi-lo, priorizando os ciclos, algo que parece comum à mente humana.
O nosso ano, que se estendeu ao redor do mundo e se tornou hegemônico na maior parte dele, representa para nós, assim como outros ciclos, um fechamento acompanhado de uma abertura. A virada do ano é, portanto, um marco que define o que passou e o que está por vir. Por isto mesmo é que o tratamos como um rito de passagem.
É no fim desse ciclo que costumamos fazer uma retrospectiva, que analisamos e avaliamos nossas perdas e nossas conquistas. Bem como refazemos nossos planos e sentimos o respiro de uma nova fase; e abrimos a porta para novas oportunidades, novas chances, nova vida. É o momento em que mais nos assentamos entre o passado e o futuro.
O de 2015 foi, para muitos, um ano bem difícil. Perdemos muitas pessoas, vimos muita violência, intolerância, crises econômicas e políticas. Fomos bombardeados por informações e notícias que nos fizeram crer que o mundo está turbulento. Fomos forçados a pensar em nós mesmos e no nosso planeta. Sentimos a manifestação maligna do fanatismo e da destruição ambiental. Pensando bem, foi realmente um ano espinhoso.
Mas e agora? O que fazer?
Após um ano de lembranças ruins, entre outras melhores, por que não pensá-las como manifestação dos erros humanos e das vulnerabilidades de nosso planeta? Por que não abraçar a memória, embalá-la, chorá-la e domá-la? Domesticar nossos sentidos em prol de nós mesmos e de nossa morada.
Gostaria que 2016 fosse o ano da mudança, o ano “da virada”, o ano da paz, o começo da volta por cima. Difícil, não? Eu o acho. Mas isso não retira de cada um de nós a responsabilidade por tentar melhorar nossas vidas e nosso mundo.
Daniel Martinez de Oliveira é graduado em história e mestre em antropologia pela UFF, onde também faz seu doutorado. Realizou pesquisas sobre a Umbanda, o Santo Daime e o Caminho de Santiago. É antropólogo e historiador do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e administrador substituto do Palácio Rio Negro (Petrópolis). Além de ser professor universitário, deu aulas de espanhol por mais de dez anos. Nascido e criado em Nova Friburgo, após três anos de trabalho no Museu de Arqueologia de Itaipu, em Niterói, adotou Petrópolis para trabalhar e viver com a família. É mochileiro de carteirinha e adora ler e escrever poesias.
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