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[Para & Pensa] Humanos

por Daniel Martinez de Oliveira

Costumamos definir o que é ser humano a partir de certas características, como a inteligência, a capacidade de representação por meio de símbolos e o desenvolvimento de cultura. Mas será que algum dia essa concepção pode vir a ser revista?

Desde novo, sempre gostei de histórias que apresentavam androides que conviviam com seres humanos e ciborgues – mesclas entre pessoas e robôs. Esse tema sempre me encantou, e o ponto que mais me chamava atenção era, precisamente, a dificuldade em se diferenciar as pessoas reais das imitações. Bem como o fato recorrente de haver uma questão ética com que se preocupar.

Penso que, em pouco tempo, talvez tenhamos alcançado tamanho desenvolvimento tecnológico a ponto de não sermos mais os portadores exclusivos de mentes humanas. Com o avanço da inteligência artificial, isso pode se dar em até vinte anos. Mas como será nossa relação com essas inteligências? Como lidaremos com essa tecnologia? Como sobreviveremos a ela?

Em um primeiro momento, convido você a pensar na situação ambígua em que se encontra o androide. O fato de ser uma entidade física e imitar um ser humano, inclusive em sua capacidade “mental” de desenvolver pensamentos e raciocínios, talvez seja suficiente para que seja considerado um tipo de ser vivo. Será que amarão? Serão capazes de odiar? Talvez uma programação computacional não baste para conter a força de alguns elementos essenciais da existência viva, como o senso de autopreservação e a evolução. Após certo tempo, essas inteligências poderiam começar a se reprogramar e até mudar seu paradigma comportamental, e tornar-se uma ameaça.

Imaginemos, em um segundo momento, que um dia possamos encontrar uma civilização extraterrestre. E que essa civilização seja composta por indivíduos inteligentes e autoconscientes. Talvez até mesmo mais inteligentes que nós. Como classificaríamos esses seres em nossa maneira de enxergar a vida? Pensaríamos neles como humanos, como (xeno)humanos – ou humanos que vivem fora da Terra?

Em um terceiro momento, aceno para que você olhe não para o futuro, mas na direção do passado. Vejamos, por exemplo, a trilha seguida por nossos ancestrais, que remete a representantes de diversas espécies dentro do gênero Homo. Caso interessante é o dos Homo neanderthalensis. Os neandertais – as evidências o mostram – foram capazes de desenvolver ferramentas, enterrar seus mortos e adquirir linguagem. Já se sabe que chegaram, inclusive, a se miscigenar com os Homo sapiens. Hoje é certo dizer, portanto, que Sapiens e Neandertais coexistiram, como duas espécies humanas diferentes, que habitaram este planeta há dezenas de milhares de anos.

É interessante ver que, em nossa busca por entender essa questão, talvez seja necessário repensar a nossa condição autocentrada, erigida especificamente pelo pensamento moderno antropocêntrico. Pode ser que tenhamos de deixar de focalizar somente nossos umbigos e abrir um pouco mais nosso campo de visão, a fim de entendermos que não somos a única forma possível de ser “humano”.

daniel martinez

Daniel Martinez de Oliveira é graduado em história e mestre em antropologia pela UFF. É servidor do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e administrador substituto do Palácio Rio Negro (Petrópolis). É professor universitário e de espanhol. Nascido em Nova Friburgo, coordenou por três anos o setor de pesquisa do Museu de Arqueologia de Itaipu, em Niterói. Em 2014, adotou Petrópolis para trabalhar e viver. Mochileiro, leitor compulsivo e autor de poesias em momentos de digressão.

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