Publicidade Concer: Resposta às chuvas em Petrópolis
Publicidade Concer: Resposta às chuvas em Petrópolis
Coluna Literária

[Coluna literária] “A sangue frio” – Truman Capote

No dia 15 de novembro de 1959, a família Clutter foi brutalmente assassinada em Holcomb, uma cidadezinha do Kansas, nos Estados Unidos. Ao ler o caso no The New York Times, Truman Capote percebeu que o ocorrido poderia dar um bom livro sobre crime e foi atrás dessa história com a sua amiga Harper Lee (que ganhou o Pulitzer com O Sol é para todos). O trabalho de seis anos resultou na obra “A sangue frio”, inaugurando, de acordo com ele, o gênero que chamou de “romance de não-ficção” (ou “sem ficção”).

A família Clutter
A família Clutter

O livro é o resultado de incontáveis entrevistas que Capote fez com moradores da cidade, investigadores, familiares dos envolvidos e os assassinos Richard Hickock (conhecido como Dick) e Perry Smith, com quem acabou desenvolvendo uma espécie de amizade ao longo dos anos.

Capote consegue traçar um perfil bastante aprofundado dos assassinos, capturando traços de suas personalidades que os humanizam, fazendo com que, em muitos momentos, o leitor sinta até uma certa empatia por esses dois homens que eram culpados, mas que no fundo não tinham um motivo para assassinar o casal Cuttler e seus dois filhos. Não há julgamento em sua narrativa, ele consegue mostrar quem Perry e Dick eram além da imagem de assassinos frios.

Truman também não se insere na história e dá uma visão neutra de todo o ocorrido, desde a concepção do plano, a descoberta dos corpos, até o julgamento, a execução, o dia a dia dos condenados e dos moradores de Holcomb, as paisagens que avistou ao refazer os passos da dupla de criminosos… Nada escapou ao seu olhar aguçado, a seus ouvidos apurados e a sua boa memória, já que não usava nem gravadores nem blocos de notas para que o entrevistado não se sentisse intimidado.

Embora seja considerada uma obra-prima do jornalismo literário, “A sangue frio” também teve reações negativas quando foi publicado. A primeira porque Truman disse que inaugurou um novo gênero, o de “romance de não-ficção”, entretanto, muitos livros, revistas e jornais provaram que longe de ser um inventor, Capote deu continuidade a um gênero com ampla tradição nas letras anglo-saxônicas.

Perry Smith e Truman Capote
Perry Smith e Truman Capote

A segunda polêmica foi relacionada a uma questão moral, pois alguns críticos achavam que Capote, ao longo dos anos cobrindo os desdobramentos legais do crime, teria tempo, dinheiro e influência suficiente para provar a insanidade mental de Smith e Hickcock, evitando, assim, a pena de morte.

Já a terceira foi em relação à veracidade dos fatos, levantando uma discussão do que era jornalismo e o que era ficção na obra, já que muitos personagens questionaram a falta de precisão nas transcrições dos depoimentos e na descrição do envolvimento deles nos fatos. Segundo o autor Philip K., em seu artigo “In cold fact“, Capote pôs suas próprias observações na boca e na cabeça dos personagens. Contudo, como a revista The New Yorker tinha um cuidado especial com a veracidade dos fatos, enviou um checador veterano para o Kansas que afirmou nunca ter visto um autor tão preciso nas suas apurações. Houve também quem dissesse que a relação de Perry Smith e Truman Capote ia além da amizade…

Mas independente do que tenha (ou não) ocorrido durante esses anos de trabalho, é inegável a qualidade de “A sangue frio” e sua importância para o jornalismo literário e para a literatura norte-americana do século XX.

Além do livro, recomendo também o filme “Capote”, que rendeu o Oscar de Melhor Ator a Philip Seymour Hoffman, que interpreta o autor. A história mostra o processo de escrita da obra, focando em seu envolvimento com os personagens… É bem interessante!

Se você gosta de histórias baseadas em homicídios que tiveram grande repercussão, pode ser que também goste de:

[Coluna literária] “A Estrela” – Jennifer Dubois

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
Botão Voltar ao topo
error: Favor não reproduzir o conteúdo do AeP sem autorização ([email protected]).