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[Para & Pensa] Os farsantes

por Daniel Martinez de Oliveira

Vivemos tempos sombrios em que, mesmo à luz de toda a informação disponível, nos chocamos com quantidades absurdas de desinformação e distorção. Ao olhar para o passado, tenho a impressão de que as coisas se repetem, e me vem à mente a ideia, defendida por Nietzsche, do “eterno retorno”.

Após tantas décadas de sofrimento e luta pela construção de uma democracia no Brasil, eis que se anuncia a retirada – à força – da primeira mulher eleita presidente de nosso país. Para colocar em seu lugar, foi escolhido seu vice, um senhor de aspecto medonho e portador de concepções duvidosas de soberania nacional. Um condenado pela Justiça Eleitoral a oito anos de inelegibilidade e que, segundo informações vazadas pelo Wikileaks, vimos a descobrir que foi, durante anos, informante dos Estados Unidos, cujo intermediário era seu embaixador em Brasília.

Pelo ilegítimo governo, foi montado um gabinete de ministros dos mais bisonhos do mundo moderno. Advogado de organização criminosa para a Justiça; gerente de agronegócio para a Agricultura; braço direito de banqueiro para o Banco Central; serviçal dos investidores estrangeiros para as Relações Exteriores; apadrinhado de escolas privadas para a Educação; afilhado de rede de seguros médicos para a Saúde; entre outros possíveis exemplos.

Investigados por corrupção e outros crimes graves, tais ministros e o próprio mandatário se vangloriam da oportunidade que têm pela frente de “refazer” o país. Refazer, no sentido empregado por eles, é dar passos para trás, fazer crer que direitos dos pobres são privilégios, e que privilégios dos ricos são direitos. Significa voltar ao passado, colocar o Brasil em uma posição medíocre perante o mundo. E os pobres, negros, índios e mulheres em posição subalterna perante os ricos.

Significa repartir as riquezas da forma mais desigual que puderem. Frear as investigações que pairam sobre eles. Promover a rapinagem de nossas riquezas e entregá-las ao capital estrangeiro. Garantir um futuro com a face voltada para o passado.  E o pior, tudo isso feito com adesão de parcela significativa da sociedade.

Vivemos um tempo realmente obscuro, em que homens poderosos de meia-idade se voltam contra o povo e, em nome da moralidade, retiram do poder uma mulher eleita com 54 milhões de votos. Mas eles não dizem a que vieram de verdade, pois são todos uns farsantes.

 

daniel martinezDaniel Martinez de Oliveira é graduado em história e mestre em antropologia pela UFF. É servidor do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e administrador substituto do Palácio Rio Negro (Petrópolis). É professor universitário e de espanhol. Nascido em Nova Friburgo, coordenou por três anos o setor de pesquisa do Museu de Arqueologia de Itaipu, em Niterói. Em 2014, adotou Petrópolis para trabalhar e viver. Mochileiro, leitor compulsivo e autor de poesias em momentos de digressão.

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