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Entrevistas

“Música forja, forma e transforma as pessoas logo cedo”, diz Dado Villa-Lobos


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Ontem a noite teve luar e foi de casa cheia no Theatro Dom Pedro, que recebeu o show de Dado Villa-Lobos e sua banda como parte da programação do Festival de Inverno, promovido pela Dell’Arte.

Dado Villa-LobosAcompanhado por Lucas Vasconcellos (guitarra), Carlos Laufer (contrabaixo), Cris Caffarelli (teclado) e Lourenço Monteiro (bateria), para delírico do plateia, Dado abriu o show com “Tempo perdido”, dando o tom da apresentação. Depois do começo vieram mais sucessos da Legião Urbana alternados com canções do seu último trabalho, “O Passo do Colapso”, lançado em 2012. Na sequência, foi a vez de “Teorema”, “Maader-Meinhof Blues”, “O Colapso”, que abre o seu último álbum; “Filho”, “Eu sei” e “Quando a casa cai”.

Dado então relembrou o período de gravação de “Brilho de gente que faz brilhar” e a dedicou a Rafael Mascarenhas, filho de Cissa Guimarães morto em 2010, que também era músico e participou da gravação. Depois veio “Há tempos” e Dado brincou dizendo que muitas pessoas perguntam o significado de “parece cocaína, mas é só tristeza” ou “lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa”, mas de acordo com ele não tem explicação, “é poesia”.

“Tudo que vai”, “O homem que calculava”, “Overdose Coração”, “Teatro dos Vampiros”, “A Dança” e “Índios” vieram antes do bis. Uma versão acústica de “Geração Coca-Cola”, um cover de “Satellite of Love”, de Lou Reed, e “Por Enquanto” encerraram o show, deixando um gostinho de quero mais.

A entrevista

Nascido em Bruxelas, na Bélgica e após ter passado um período em Belgrado (atual Sérvia) e Montevidéu, no Uruguai, Dado Villa-Lobos veio morar no Brasil ainda jovem. Em 1983, passou a fazer parte da Legião Urbana como guitarrista. Assinou a produção dos últimos discos do grupo: “A Tempestade”, “Uma Outra Estação” e “Como é que Se Diz Eu Te Amo”. É de sua autoria as trilhas sonoras dos filmes “O Homem do Ano”, de José Henrique Fonseca; “Bufo & Spallanzanni”, de Flávio Tambellini; e “Pro Dia Nascer Feliz”, de João Jardim. Por conta do trabalho no filme de Flávio Tambellini recebeu o prêmio de Melhor Trilha Sonora no Festival do Cinema Brasileiro, em Miami.

Em 2005 lançou seu primeiro álbum solo, “Jardim de Cactus” e sete anos depois, “O Passo do Colapso”. Em 2015 lançou o livro “Memórias de um legionário”, onde relembra a sua própria trajetória como o guitarrista da Legião Urbana.

Músico, produtor, compositor, seu currículo é notável, e mesmo aparentando toda calma e serenidade, Dado Villa-Lobos não para. Há três anos, ao lado de Charles Gavin, Toni Platão e Dé Palmeira, apresentou-se no Quitandinha com a banda Panamericana. Atualmente, viaja pelo país não só com seu projeto solo, mas também com a turnê comemorativa de trinta anos do lançamento do primeiro CD da Legião Urbana, e ainda se prepara para entrar em estúdio.

Neste último domingo (9), ele esteve em Petrópolis e atendeu a imprensa horas antes do show. Confira abaixo o nosso bate-papo:

Dado Villa-LobosAeP: A que tipo de colapso você se refere neste álbum?

Dado: A todos os colapsos… Na verdade, a música “O Colapso”, que abre o disco, fala o verso “vou derreter o chão / descer o morro” e está falando aqui do que aconteceu em 2011 em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo [referência à tragédia das chuvas que abalaram a Região Serrana em janeiro de 2011, considerada como o maior desastre climático da história do país] e a partir dessa ideia, de quando você vai chegando perto dos 50 anos, vendo as transformações do país, tudo o que a gente passou e vem passando ainda; a impressão de que realmente a gente chegou no limite e que, de repente, a partir de agora, a tendência é as coisas se reformularem, se estabelecerem; uma nova forma de viver.

Mas fala do colapso mesmo na vida, da vida na cidade… O colapso interno de estar vivendo aquilo a cada dia, de abrir o jornal e ver que um menino abriu uma granada e explodiu o braço dele, enfim, essas coisas que acabam parecendo pequenas, mas que são bizarras e fundamentais nessa ligação das pessoas morando numa mesma cidade. Enfim, na verdade é uma ideia universal, não é um privilégio nosso viver esse momento, acho que o mundo passa por uma questão de se reavaliar e de pensar aonde a gente está indo, o que a gente está fazendo.

AeP: “O Passo do Colapso” contou com a participação de Nenung, Mallu Magalhães, Fausto Fawcett e até do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Como veio a ideia de incluir o poema “El parto” em uma das músicas?

Dado: Eu tenho um amigo uruguaio, o Carlos Tarán, que era amigo do Galeano. Então, a história toda do disco que começa com “O Colapso” finaliza com essa história do Galeano que é “O Parto”.

O processo de parto no campo em que a mulher já está há três dias em trabalho de parto e quando finalmente chega o médico, ele vê a situação e já acha que está tudo perdido. Quando ele passa pela vagina da mulher e vê uma mãozinha, a mãozinha do bebê mexe, estava viva, pega na mão dele, e então ele arregaça as mangas e faz o trabalho. É a ideia de que depois de um colapso, depois de uma tragédia, as coisas mudam e a vida vem de novo à tona.

AeP: Esse trabalho foi o primeiro álbum que você lançou em formato digital.

Dado: Os discos físicos pararam de vender, as lojas quase todas fecharam, o disco virou quase que um brinde, um souvenir…  Começou com o iTunes entrando no Brasil, então eu coloquei lá o single e foi bacana, de certa forma deu uma movimentada nessa questão. Agora entra o streaming direto, que estão pagando muito mal, mas acredito que as coisas vão se resolver em algum momento para melhor. Acho que o caminho é esse, é irreversível. Ninguém mais ouve disco, a gente ouve música no telefone, Spotify…

AeP: No ano passado teve o início da turnê “Legião Urbana – 30 anos”. Como tem sido essa experiência?

Dado: Estamos tendo um grande reencontro com o público e a gente toca o primeiro disco na íntegra, é a nossa história, como tudo aconteceu… Saiu uma versão comemorativa que tem o disco remasterizado e um segundo com faixas extras, bônus, demos do Rio, de Brasília, coisas ao vivo, dois remixes de “O Reggae” e “A Dança”, e ali você vê como tudo aconteceu e porque aconteceu daquele jeito, a história de tudo, daquela semente germinando ali que deu o primeiro disco e nos levou aonde chegamos.

Então, estamos em turnê comemorando justamente isso e somente isso que são as nossas vidas dentro daquelas canções e, para de repente as pessoas não esquecerem como é um show de rock. E é um grande show de rock! Como é, como se faz é simples: é a energia, a atitude e boas canções, é isso que estamos fazendo.

Tem sido muito emocionante, as pessoas vão muito vibrantes e cantam muito, estão lá sempre muito intensamente com a gente.

AeP: Como é saber que a Legião até hoje consegue conquistar novos fãs pelas letras potentes que continuam atuais e saber que essa energia transforma o público?

Dado: Essa magia da música… Eu lembro que quando era criança fui transformado por uma série de canções, artistas e discos. Posso falar alguns aqui, como o “Help!” e o “Beatles for Sale”, Secos e Molhados, Novos Baianos, o primeiro disco do Caetano que eu ouvia com o meu avô quando tinha cinco anos… Isso é para sempre. Música forja, forma e transforma as pessoas logo cedo. Quando a música entra realmente pelos dois ouvidos, ela fica. Como explicar isso eu não sei, isso é magia, intuição… Mas é fabuloso o que a gente conseguiu e eu percebo isso até hoje, a gente vê desde crianças de 8, 9, 10 anos que estão ali vibrando com aquelas canções que não são fáceis e estão cantando. É muito incrível, é a realização, de fato, de um sonho de 30 anos atrás, de quando você é jovem, moleque, monta uma banda de rock e só está pensando em chegar com a sua música, já transformando e forjando caráter, em ter essa conexão.

AeP: Quais são seus próximos projetos?

Dado: Tenho meia dúzia de canções já encaminhadas para entrar no estúdio nas próximas semanas e dar o pontapé inicial na ideia de um novo disco. Reativamos o nosso selo, a Rockit, agora só no digital, e já lançamos alguns artistas como o Marcelo Calado, um grupo chamado Meia Banda, a 2600 que é banda do nosso baterista Lourenço. Vamos lançar agora a Opala, da filha do Tom Jobim, a Maria Luiza Jobim, que é uma dupla e eles cantam música eletrônica pop.

A ideia é ter em estúdio novos artistas, semear ideias novas em termo de comportamento, paradigmas dentro da música e tentar arriscar um pouco mais, um pouco além da chatice da música popular brasileira de hoje.


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Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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