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[Quebra-cabeças] Sobre a seleção de futebol, os jogos olímpicos e a prática profissional da psicologia

por Raphael Curioni

Não falta apenas um psicólogo, falta organização: sobre a seleção de futebol, os jogos olímpicos e a prática profissional da psicologia

Um elemento a ser levado em consideração atualmente se pauta na questão da presença/não presença de psicólogos atuando junto a atletas, fazendo parte do corpo ou staff técnico ligado a um desporto. Essa consideração levantada é facilmente percebida pelo quanto que tal temática vem sendo abordada em canais de televisão ou em meios de comunicação. Talvez essa “chama” possa estar mais inflamada pelo jogos olímpicos sediados aqui no país, também pelos sucessivos “7 a 1” que a seleção masculina de futebol vem colecionando.

No todo, aparece sempre a afirmação que repousa no psicólogo a “cura” para os problemas vivenciados no esporte, seja por precarização ou precariedade nos investimentos e no trabalho com esportes que não movimentam volume alto de dinheiro, ou pela obsolescência de modelo esportivo ou de estrutura esportiva (confederação, federações e ligas profissionais) com relação a países desenvolvidos e com alta estrutura de profissionalismo.

O que podemos pensar é que de fato pensar que a presença do psicólogo nesses espaços pode ser positiva e auxiliar em um processo de trabalho, algo contínuo e que foge da ideia do psicólogo de consultório. Outro ponto a se pensar é que mais uma vez é pautado no profissional dessa hora o “tom” ou finalidade de ser aquele que cura no que tange as emoções. Seria então o psicólogo aquele que lida com as emoções? Seria ele alguém que busca trazer cura para processos ansiogênicos, de desconforto, de má administração emocional?

É interessante pensar que a imagem do psicólogo parece continuar atrelado ao médico que te atende e busca cura para as questões da “alma”, as questões em que se busca mediar os processos emocionais e dar razão, dar luz, dar caminho. O papel do psicólogo vai além. É preciso pensar que antes de se pensar na atuação do psicólogo junto ao desposto ou do atleta se inicia pela ideia de ser um membro da equipe técnica capacitada, ou seja, há de se pensar em um trabalho multiprofissional, interdisciplinar. O psicólogo atua junto ao médico, ao fisioterapeuta, ao nutricionista, ao preparador físico, aos olheiros técnicos, sempre interligado ao corpo de treinadores. É preciso pensar de forma que cada especialidade possa auxiliar a traçar um plano ou um trabalho que contemple o atleta, o seu treino, sua competência técnica ou habilidade específica, condicionamento físico, momento pessoal, capacidade de decisão, perfil de competência física, perfil de competência muscular, e assim vai. Pensar na presença de um psicólogo contempla a gestão de pessoas, assim como outras atuações que vão sendo colocadas em prática em conjunto com essa equipe ou staff técnico. É trabalhado ali aspectos da coletividade, daquele grupo no caso do futebol. As performances são debatidas e pensadas, assim como os locais aonde o atleta ou atletas irão competir, tanto quanto quem são os adversários. Esse trabalho em conjunto ajuda a deixar o atleta melhor preparado. É como se os atletas sem um corpo técnico por trás fossem aqueles alunos que vão para a prova sem estudar na véspera, e que mesmo que sejam os mais inteligentes, podem se deparar com uma situação que seja mais complicada para resolver. Daí vamos pensar em resolução de problemas, e para isso é preciso pensar que cada um tem certas ferramentas para isso, e nesse ponto as caractérisicas físicas e psicológicas estão em pauta. Como pensar em falar para um atleta como Usain Bolt para melhorar sua largada se sua marca registrada é a recuperação e manutenção até o final da prova? É preciso conhecer o perfil físico, muscular, respiratório, as lesões já sofridas e outras coisas para poder pensar no melhor preparo.

Não podemos dizer que é a falta do psicólogo, mas sim o fato de se pensar em formar um trabalho sem integrar um profissional dessa área na equipe de técnicos que irão preparar, acompanhar e auxiliar durante as competições. Ou seja, pensar em um esporte que não utiliza um psicólogo é pensar que há muitas falhas organizacionais, há falhas na maneira de se pensar o esporte e em como é possível preparar de forma efetiva. Estudos estão por aí e não é por falta deles que se pensa de uma maneira a não organizar um serviço, creio (aqui em fórum particular) que essa questão traz lacunas e não são elas que estão também por aí na política? Elas tem um motivo e enquanto isso existir não será nada interessante pensar em uma equipe organizada, em um serviço organizado.

*O autor acreditou que ao falar em psicólogos ele se dirige a todos aqueles profissionais da psicologia, pautando a maioria das profissionais do sexo feminino e a menor parcela do sexo masculino. Em caso de não concordância, fica aberta a possibilidade para o leitor inserir a melhor forma que acreditar ser boa para se dirigir ao profissional formado nessa área.

 

raphael curioniRaphael Curioni é um ser humano, como qualquer outro, que seguiu a vida da música e da psicologia.  Fala, ouve, escuta, faz, não faz, acerta e erra, como qualquer um. Na parte da carreira psi: Psicólogo graduado na UCP, residente em Psicologia pelo programa de residência multiprofissional FASE/FMP, e Conselheiro Municipal de Saúde representando o Conselho Regional de Psicologia. Profundo amante da escrita e da música. Vocalista da banda Sob Efeito. Gravou a música de um comercial, mas não usa os serviços dessa empresa de telefonia. Gosta de vermelho e de pizza, não gosta de laranja e da língua espanhola. Não gosta quando tem peixe em casa e nem quando ouve especialistas ignorando a especificidade de cada caso. Futuro professor/acadêmico. 

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