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[Africanidades e direitos humanos] Na África e no mundo

por Sergio Soares

Como um brasileiro residente na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde por dois anos, e morador das cidades da Beira e Chimoio em Moçambique por oito anos, além de Rio de Janeiro e Petrópolis, tenho observado as condições de vida das populações em espaços variados. Em cada um deles a situação de vulnerabilidade social se multiplica, e a busca por soluções para diminuir o sofrimento coletivo se fazem mais necessárias.

Neste contexto, foi adotada e proclamada a Resolução 217 da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, presenteando o mundo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que deve ser mais do que uma lei, mas um estilo de vida para a convivência harmoniosa entre as nações.

Em nossa experiência vivendo em Cabo Verde e Moçambique, e visitando eventualmente o Zimbábue (antiga Rodésia) e a África do Sul de Nelson Mandela, conhecemos culturas diferentes, a língua inglesa e outros idiomas, gastronomia variada e novas cosmovisões. Nestes dez anos subindo e descendo de aviões e barcos, passamos a compreender melhor o mundo, e na prática vivenciar que todas as pessoas são iguais.

O artigo número I da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação uma às outras com espírito de fraternidade”.

Quando o indivíduo compreender seu valor como sujeito construtor do bem e da cidadania, e saber respeitar os direitos e escolhas do seu semelhante, viveremos um mundo melhor. Afinal, ninguém é melhor do que ninguém, e todos devem ser respeitados.

O artigo número II define que “toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinções de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”.

A liberdade de opinião dever ser respeitada por todos, e cada indivíduo tem o direito de fazer as suas escolhas! Na maior nação negra do mundo, a Nigéria, encontramos um país africano divido ao meio pela religião. De um lado, os fundamentalistas islâmicos e do outro, a população cristã de católicos e protestantes que sofrem constantemente  atentados terroristas com dezenas, centenas ou milhares de mortos nas horas sagradas da missa ou do culto. E, pasmem, estes grupos fundamentalistas islâmicos na África e em outras partes do mundo explodem não só os cristãos, mas os próprios seguidores do Islamismo que são de outra facção, como na eterna guerra entre os Sunitas e os Xiitas. E, claro, qualquer pessoas de qualquer outra religião não Muçulmana corre risco de vida nas mãos dos fundamentalistas de grupos como o Estado Islâmico, Boko Haram, Al- Qaeda, entre outras células terroristas.

O artigo III define que toda pessoa tem o direito à vida, a liberdade e à segurança pessoal.

No passado Madre Tereza de Calcutá realizou um lindo trabalho humanitário na Índia, socorrendo as crianças e todos os que estavam abandonados e sofrendo nas ruas esperando a morte chegar. Como precisamos no mundo de hoje de bons exemplos, de vidas que se disponham a serem agentes do bem, da paz e do amor entre os homens. Sou admirador destes que mudam o mundo para melhor, como fez o pastor Martin Luther King Jr nos Estados Unidos lutando contra o racismo e defendendo os direitos civis do negros de então. No Brasil, Abdias do Nascimento, político e líder do Movimento Negro e fundador do Teatro Experimental do Negro. Na África do Sul, Nelson Mandela, que, comparado à figura bíblica de José no Egito, prosperou de escravo a Presidente da República.

Devemos todos incentivar e apoiar as iniciativas que contribuam para a liberdade e a segurança pessoal, e as organizações que trabalham de maneira altruísta para o bem de todos, como os Médicos sem Fronteiras e todos os voluntários do bem neste mundo tenebroso.

Pena que ao agirmos nas causas espirituais e sociais, o reconhecimento da sociedade seja tão pequeno, comparado com a audiência  e destaque que os criminosos possuem. Como cidadão brasileiro afrodescendente e militante do Movimento Negro em Petrópolis vejo que quando um de nós entra nos descaminhos da vida isto rende matérias negativas na imprensa, mas quando somos super-heróis do bem, o silêncio se instala.

Apesar disto, minha família e eu continuaremos sempre trabalhando para que seja em Cabo Verde, Moçambique, Zimbábue, África do Sul, Brasil e em todo o mundo, cumpramos sempre nossa missão de contribuir para o bem das africanos, quilombolas, afrodescendentes e todas as pessoas que precisam de ajuda e suporte para vencerem o preconceito racial, superarem o racismo e vencerem as desigualdades sociais.

Depois de trabalharmos na África de 1996 a 2006, retornamos definitivamente para nossa casa em Petrópolis. Voltamos crendo que desenvolveríamos um novo trabalho no nordeste do Brasil, no estado do Ceará. Fizemos uma viagem missionária de uma semana para este estado, e viajamos de Fortaleza até Sobral (na divisa com o Piauí). Mas, os planos foram repentinamente mudados e voltamos para o Rio de Janeiro, e resolvemos aproveitar bem este tempo voltando aos estudos. Na casa dos 40 anos de idade aceitamos o desafio de novamente estudar e nos qualificar sócio-profissionalmente. Meu pré-vestibular foi estudar diariamente na Biblioteca Municipal de Petrópolis as matérias do ensino médio, e fiz o vestibular para Biologia no CEDERJ, mas fui reprovado. Não desanimei, estudei mais seis meses e tentei novo vestibular para Pedagogia, fui aprovado e quatro anos depois colei grau na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Como amante da África fui presenteado com uma bolsa para fazer minha Pós-Graduação em Educação e Relações Raciais no Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira – PENESB, da Universidade Federal Fluminense – UFF, em Niterói. Com toda esta bagagem cultural prestei vários concursos públicos e fui aprovado em alguns, e hoje, inserido no mercado de trabalho, continuo estudando e me qualificando para crescer cada vez mais academicamente e na pirâmide social. Aos 51 anos de idade planejo fazer um mestrado, e chegar à terceira idade como um professor Doutor em Educação. Quero escrever e publicar livros, ser membro das Academias Culturais de Petrópolis, e estar na TV defendendo o direito dos negros, pobres e desvalidos sociais. Jane minha esposa, afrodescendente carioca da comunidade do Parque Colúmbia, na Pavuna, Rio de Janeiro também se animou e voltou aos estudos e hoje é Turismóloga, formada pela UFRJ e busca recursos para concluir as faculdades de Análise de Sistemas e Pedagogia.

Temos muito para conquistar, as oportunidades no Brasil são para todos, você também pode ser um conquistador e vencedor!

sergio soaresSergio Soares ([email protected]) é pedagogo formado pela UERJ, pós-Graduado em Educação e Relações Raciais pelo PENESB (Programa de Wducação sobre o Negro na Sociedade Brasileira), na UFF; bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Evangélico Peniel – STEP. Conferencista e militante do Movimento Negro em Petrópolis, também foi missionário em Cabo Verde, na cidade do Mindelo, Ilha de São Vicente de 1996 a 1998, e em Moçambique, com sua esposa Jane e seu filho Kevin por 8 anos. Atualmente cursa Licenciatura em Geografia, na UERJ, e mora em Petrópolis.

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