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Coluna Literária

[Coluna literária] “A rainha da neve” – Michael Cunningham

Em novembro de 2004, ao atravessar o Central Park, Barrett Meeks se depara com uma luz misteriosa. É algo diferente de tudo que já vira até então, como se fosse obra do divino, inexplicável. Embora não acredite em visões, ou em Deus, o episódio não sai de sua cabeça. Não há como negar o que viu.

Ao mesmo tempo, seu irmão Tyler, viciado em drogas, luta para escrever uma canção para sua noiva Beth, que está morrendo de câncer e encara a morte com coragem. Já sua amiga Liz, uma mulher mais velha e cínica, vive de uma forma mais desapegada, se relacionando com homens mais novos, mas sem criar laços verdadeiros. E assim vamos acompanhando a trajetória desses personagens incompletos em busca de um sentido para suas vidas, um rumo, a luz no fim do túnel.

O livro é narrado lindamente, como se cada diálogo tivesse sido escrito minuciosamente para nos impactar e nos fazer refletir, porém, deixa a sensação de que falta algo para se tornar inesquecível. É como se fossem vários pensamentos mundanos, escritos de uma forma lírica, e só. Talvez seja pelo tema em si, pela falta de um clímax… mas o livro não prende a atenção do leitor como deveria. É uma obra bem escrita, sem dúvidas, com belas passagens, mas que deixa a desejar nesse sentido.

Contudo, como fala da vida, da ação do tempo, não há como não se identificar em muitas partes. Os personagens nos fazem lembrar de nossas escolhas e de como as pessoas que passam pelas nossas vidas nos impactam, deixam um pouco de si e, consequentemente, também levam um pouco de nós; além de nos fazerem refletir sobre essa eterna busca por algo a mais, uma plenitude meramente ilusória que nunca chega.

“Nada disso jamais soou predeterminado. Foi sequencial, mas não exatamente ordenado. Tudo se deve a ir a uma festa e não a outra, a encontrar casualmente alguém que conhece alguém que, no final da noite, transa com a gente na soleira de uma porta na Tenth Avenue ou nos beija pela primeira vez ou diz alguma coisa chocantemente gentil sem qualquer motivo e depois se vai para sempre, prometendo telefonar, ou, de alguma forma igualmente acidental, por acaso encontrar alguém que há de mudar tudo, para sempre”.

Enfim, este foi o meu primeiro contato com a obra de Cunningham, que ganhou o Pulitzer na categoria de ficção com “As Horas”, cuja adaptação para o cinema rendeu o Oscar de Melhor Atriz à Nicole Kidman (e se tornou um dos meus filmes preferidos). Embora não tenha amado “A rainha da neve”, fiquei instigada o suficiente para ler outros títulos do autor futuramente.

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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