“Ela não era flor que se cheirasse”, “Ficou na rua até tarde”, “Não se cuidou” são algumas das frases dilaceradas pela Dona Narjara a respeito do que aconteceu com a jovem Catarina, ambas personagens da peça “Cadeira Vazia”. Isso é apenas uma forma de percepção, mas que aparentemente diz respeito à crença de um terço dos brasileiros que culpam a vítima por um estupro, conforme dado divulgado este ano pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. As justificativas são as mais diversas: estava sozinha na rua até tarde, usava roupas curtas, comportamento provocante, etc.
Mas este não é o único ponto de vista abordado na peça. A delegada Olívia rebate furiosamente qualquer tipo de abuso a ponto de extrapolar seus direitos e diminuir enfaticamente o diretor da escola de onde a sua filha estuda. Amanda oferece os benefícios de seu curso de Como se Transformar em uma Princesa”. Cecília recebe uma notícia devastadora na sua festa de despedida de solteira que mexe estruturalmente com o seu projeto de vida. Dominic tenta fazer o melhor trabalho possível sendo apresentadora de um canal de carne online apesar dos abusos verbais do seu diretor. Lara, uma jovem que possui uma deficiência verbal, é testemunha ocular do que acontece com Catarina, mas não consegue ajudá-la.
As vidas de todas as personagens estão interligadas e tem como pano de fundo o estupro de Catarina. A peça é recheada de humor negro e ironia, e tenta mostrar, através de estereótipos, que não há inocentes quando o crime em si não é falado.
Escrita e dirigida pela atriz Ju Ferraz, a peça tem o intuito de desconstruir o famoso paradigma que ainda recai sobre a mulher: aquela que serve para casar e aquela que serve para ir para cama.
Cadeira Vazia” é a primeira peça do grupo Kanak e estreia no Theatro Dom Pedro no dia 27 de novembro, às 18h.
Serviço
Local: Theatro Dom Pedro
Data: 27 de novembro (domingo)
Horário: 18h
Ingressos R$ 20,00 (inteira) / R$ 10,00 (meia-entrada)
