Publicidade Concer: Sustentabilidade e economia
Publicidade Concer: Sustentabilidade e economia
História

MPF denuncia caseiro da “Casa da Morte” da ditadura militar

O Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro denunciou o caseiro do local que ficou conhecido como Casa da Morte, durante a ditadura militar. O ex-sargento do Exército conhecido como “Camarão” é acusado pelos crimes de estupro e sequestro da militante política Inês Etienne Romeu, em 1971. Na época, ela era dirigente das organizações Vanguarda Popular Revolucionária – VPR, VAR-Palmares e Polop.

Militares sequestraram Inês Etienne Romeu na cidade de São Paulo, mantendo a vítima em cativeiro, e a levaram no dia 8 de maio de 1971 para a “Casa da Morte”, um centro de prisão e tortura clandestino situado na Rua Arthur Barbosa, nº 668, em Petrópolis.

Entre 7 de julho e 11 de agosto de 1971, Camarão manteve a vítima contra sua vontade dentro do centro ilegal de detenção, ameaçando-a, afirmando que a mataria, e utilizando recursos que tornaram impossível a defesa da vítima.

“Em razão de sua militância estudantil e política, Inês Etienne Romeu tornou-se alvo do governo ditatorial brasileiro, tendo sido perseguida e monitorada por órgãos de inteligência, sequestrada, presa ilegalmente, torturada e estuprada conforme demonstram várias provas amealhadas na investigação”, relatam os procuradores da República Antonio Passo Cabral, Sergio Suiama e Vanessa Seguezzi.

O MPF conseguiu chegar ao caseiro da Casa da Morte graças a documentos coletados em busca e apreensão na casa do falecido Ten.Cel. É que a agenda do militar morto trazia a anotação “Camarão”, acompanhada de um telefone fixo. A partir daí se seguiram diversas diligências investigativas que culminaram com a identificação, localização (“Camarão” estava escondido do MPF no interior do Ceará) e a tomada do depoimento do acusado. Em suas declarações, “Camarão” admitiu ser o caseiro da Casa da Morte, mas disse que não houve tortura no local e nunca viu entrada e saída de presos. Os procuradores da República afirmam que a versão do acusado não faz sentido: “O que um militar da Brigada Paraquedista estaria fazendo em serviço em uma casa em Petrópolis, e não em uma unidade militar, como um quartel? Todas as provas dos autos, documental e testemunhal, com o próprio depoimento da vítima, o reconhecimento do acusado por foto, a confissão de Camarão de que realmente era o vigia da Casa da Morte, passando pelas quebras de sigilo, busca e apreensão e interceptação telefônica, tudo mostra que o acusado é culpado pelos crimes que lhe são imputados.”

“Além das torturas reconhecidamente aplicadas como padrão aos presos políticos no regime militar (choques elétricos, pau de arara, cadeira do dragão, espancamento), Inês ainda sofreu com a maldade de seus carcereiros, que a maltratavam apenas para seu divertimento. No inverno de Petrópolis, onde a temperatura podia chegar a menos de 10°C, era obrigada pelos carcereiros a deitar nua no cimento molhado”, narram os procuradores.

A condição psicológica da vítima levou-a a tentar tirar a própria vida por quatro vezes. Em seu relato, ela descreve: “Por não ter me suicidado, fui violentamente castigada: uma semana de choques elétricos, banhos gelados de madrugada, ‘telefones’, palmatórias. […] A qualquer hora do dia ou da noite sofria agressões físicas e morais. ‘Márcio’ invadia minha cela para ‘examinar’ meu ânus e verificar se ‘Camarão’ havia praticado sodomia comigo. Este mesmo ‘Márcio’ me obrigou a segurar em seu pênis enquanto se contorcia obscenamente. (…) Durante este período fui estuprada duas vezes por Camarão e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros.”

Após o período na Casa da Morte, Inês Etienne Romeu foi ainda presa em outros lugares. Seu encarceramento somente terminou em agosto de 1979. O MPF ouviu a vítima em 2013, ocasião em que Inês Etienne Romeu reconheceu, pela primeira vez, a foto do acusado.

Fonte: MPF-RJ

Botão Voltar ao topo
error: Favor não reproduzir o conteúdo do AeP sem autorização ([email protected]).