Que Luiz Fernando Veríssimo é brilhante e tem um humor único, isso a gente já sabe. Aliás, ele é tão bom que inclusive várias citações que circulam pela internet que nem são dele ainda assim lhe são atribuídas. Por isso, já estava mais do que na hora de reunirem suas melhores sacadas e desenhos num só livro, como se fosse um “dicionário” do autor.
Confira abaixo algumas de suas máximas:
Anteontem – estou na idade em que trinta anos atrás é anteontem.
Aposentado – aposentado é o vagabundo sem culpa e com renda. Embora, no Brasil, renda insuficiente.
Bichos – o que separa o homem dos bichos é que o homem sabe que é irracional.
Bobagens – o homem enche a cabeça de bobagens porque não suportaria a única ideia que traz no fundo, a de que vai morrer um dia.
Búzios – os búzios e os astros e as teorias e as receitas estão sempre certos, as pessoas é que nem sempre fazem o previsto.
Calor – fazia um calor brasileiro, como dizem no Senegal.
Carpe Diem – viva todos os dias como se fosse o último. Um dia você acerta.
Ceticismo – sou um cético total, mas aberto a revelações.
Democracia – toda a história da democracia no Brasil é a história da educação da nossa elite na arte de não mudar nada, ou só mudar o suficiente para não perder o controle.
Diálogo – não duvido que São Francisco de Assis conversava com os pássaros, eu só me admiro de eles terem tido assunto.
Elites – o Brasil é governado por minoria esmagadora.
Epitáfio – meu epitáfio: “Por favor, deem outra sacudida!”
Escolhas – todo homem é a soma não das suas decisões, mas das suas hesitações, ou do que, pensando melhor, decidiu não fazer.
Futuro – o futuro era muito melhor antigamente.
Masoquistas – os masoquistas põem a mão no fogo por qualquer um.
Permanência – nós vivemos talvez a última época do mundo em que as coisas permaneciam. Hoje estamos na era da obsolescência de dois dias.
Pois é – “Pois é”: uma maneira tipicamente brasileira de não ficar quieto e ao mesmo tempo não dizer nada.
Religião – meu único sentimento com relação às pessoas religiosas é o de inveja: quem me dera um Universo arrumado assim, com uma explicação e um centro. O meu é uma bagunça.
Resoluções – resoluções são promessas que fazemos à nossa consciência que nem a consciência acredita mais.
Siglas – fazer siglas é a terceira paixão do brasileiro, depois do futebol e do boato.
Velhice – estou na terceira idade do Homem. Depois da mocidade e da maturidade, a indignidade…
Vizinhas – todas as histórias de vizinhas da frente são mentirosas.
