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Educação

Petropolitana é convidada a apresentar dissertação sobre as cartas de Machado de Assis em Portugal

“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”. “Ao vencedor as batatas!”. “Olhos de cigana oblíqua e dissimulada.”

 

Você certamente já ouviu essas frases. Provavelmente algum professor de literatura já até pediu para interpretá-las numa prova, e elas ficaram com você.

São poucos os autores que conseguem fazer com que diferentes obras penetrem o coração e a memória de seus leitores, mas Machado de Assis conseguiu. “Memórias Póstumas de Brás Cubas”; “Quincas Borba” e “Dom Casmurro” são apenas alguns exemplos de obras que tem lugar cativo nas nossas estantes e são leituras obrigatórias nas escolas até hoje.

Jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, Machado de Assis passeou por diversos gêneros literários, destacando-se ao dialogar com o público em seus contos e romances, na forma de descrever seus personagens e seus diálogos, que às vezes nem precisavam de palavras, além de ter semeado a dúvida que suscita debates acalorados até hoje: afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho?

Fascinada pelo autor, a petropolitana Sandra Brito o escolheu como tema de sua dissertação e foi convidada pela Universidade Aberta de Lisboa, onde faz seu doutorado, para apresentá-la no dia 26 de julho. “Recebi o convite também de outras universidades (em Coimbra, Porto, Madri e Barcelona) as quais visitarei em breve, a fim de levar o nome de nossa Literatura para além-mar. Nossa intenção é de lançar, ainda este ano, o resultado da pesquisa sobre a epistolografia do mestre Machado aqui no Brasil”, comemora a professora, que leciona há dez anos no CIEP Cândido Portinari, em Itaipava, e que também já trabalhou no Educandário Menino Jesus, no mesmo distrito.

Sandra conta que seu interesse pelo autor surgiu durante o Mestrado. “Sempre que precisava falar de um grande autor brasileiro nas aulas de Literatura, citava nosso Mestre como referência. A história de vida e superação dele é surpreendente; sempre me motivou a buscar meus objetivos. Então resolvi estudar o homem Machado, através da pesquisa de 1200 cartas do autor. E o resultado foi uma dissertação de 271 páginas, de muita pesquisa”, explica. 

O trabalho “O tom confessional e autobiográfico na epistolografia de Machado de Assis” se baseou nas cartas trocadas entre o autor e amigos, autores, políticos e sua esposa. “Tenho especial apreço pelas únicas duas cartas que restaram destinadas à sua então noiva Carolina (todas as outras foram destruídas a pedido do autor, para que o amor dos dois fosse resguardado após a morte de sua esposa, em 1906)”, revela Sandra.

Abaixo, segue um trechinho da Carta de Machado a Carolina, escrita em 02 de março de 1868:

“(…) tu não te pareces nada com as mulheres vulgares que tenho conhecido. Espírito e coração como os teus são prendas raras; alma tão boa e tão elevada, sensibilidade tão melindrosa, razão tão reta não são bens que a natureza espalhasse às mãos cheias pelo teu sexo. Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar. Como te não amaria eu? Além disso tens para mim um dote que realça o mais: sofreste. (…) A responsabilidade de fazer-te feliz é decerto melindrosa; mas eu aceito-a com alegria, estou que saberei desempenhar este agradável encargo. Olha, querida; também eu tenho pressentimento acerca da minha felicidade; mas que isto senão o justo receio de quem não foi ainda completamente feliz? Obrigado pela flor que me mandaste;dei-lhe duos beijos como se fosse em ti mesma, pois que apesar de seca e sem perfume, trouxe-me ela um pouco de tua alma. Sábado é o dia de minha ida ;faltam poucos dias e está tão longe! Mas o que fazer? A resignação é necessária para quem está à porta do paraíso; não afrontemos o destino que é tão bom conosco. (…)”

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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