por Rafael Studart
Olho praquela pessoa: um corpo. Um corpo que ali fica. No canto da minha vida.
Sou infantil. Somos todos. Achamos que aquela pessoa terá sempre mil encantos. Mas seus truques vão se revelando, um a um, como lenços de uma caixa. No puxar do último lenço sobra uma caixa. Uma caixa ali no canto.
Será que a gente vai ser cruel com a caixa que sobrou? Há crueldade quando lidamos com caixas? Será que vamos lembrar dos lenços que ali estavam? Ou será que precisamos de mais lenços? De outras caixas?
Por quanto tempo, por quantas vezes, iremos usar os lenços alheios para chorar e assoar nossa doença? Zeram-se as pessoas como se zeram jogos.
Olhar pra caixa no canto e só enxergar o canto. Que diferença faz uma caixa de lenços sem lenços? Talvez aí esteja a maior crueldade com a caixa. Mas há crueldade quando lidamos com caixas? Afinal, ela é inanimada, não é? Não te anima mais como antes. Não te entretém mais como deveria.
O que te tranquiliza é a garantia de que a caixa no canto está e lá permanecerá. Quantos contos já despejou pra dentro dessa caixa? Alguns até mais de uma vez; garanto!
Onde está a gratidão com quem te deu um canto acolhedor? Olhe pro lado! Tem alguém? Pra trás! Alguém no seu passado? O tempo não deveria servir de habeas corpus pro maior crime de quem divide sua vida com outras pessoas. A convivência não poderia servir de desculpa para o desleixo com quem há de mais precioso em nossos hojes.
Pede desculpa! Pede! Mas pede muito! Mas não só peça não! Não somos peças! Acredite em cada uma delas quando estiver pedindo.
(Imagem: obra de Edward Hopper)
Rafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7
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[Na mente de um Strudel] Feliz Aniversário
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