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[Para & Pensa] Einstein, racismo e o século XXI


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por Daniel Martinez de Oliveira

 

No último mês, foram divulgados alguns diários de viagem de Albert Einstein, e estes têm servido de base para denúncias de preconceito, por parte da mídia. O cientista vem sendo acusado, por inúmeros meios, de não apresentar reserva em algumas posturas racistas e xenófobas.

Analisados dessa forma, entretanto, os diários soam anacrônicos, uma vez que pertencem à época de sua viagem pela Ásia, entre 1922 e 1923. Provavelmente, Einstein tenha mudado sua forma de ver os “outros” no decorrer mesmo da experiência de estranhamento por que passou ao longo dos anos, o que não ameniza, claro, que o racismo existisse à sua época.

O fato, porém, é que essa não era uma exclusividade deste ou daquele sujeito, mas uma unanimidade sobre a visão que os europeus tinham sobre o “resto” do mundo, sobretudo as consideradas periferias “atrasadas”. Leiam-se, para este propósito, os diários de Malinowski, para se chegar à conclusão de que nessa época era, no mínimo, complicado ceder com respeito à valorização do eurocentrismo e diante de visões eurocentradas sobre o exotismo d'”os outros”.

Esse efeito (de ceder e combater o preconceito) foi ocasionado pelo próprio trabalho de familiarizar-se com o “diferente” e relativizar o sentido das crenças, das práticas, dos modos de organização social etc. E veio como algo revolucionário, quando parte da antropologia ainda consistia em métodos antropométricos relacionados à variedade de raças e à “prisão”, na biologia, de traços psíquicos e culturais.

Em 1922-23, Einstein vivia em um mundo em que parte da ciência ainda apostava na desigualdade entre supostas raças, o que devia ser e vem sendo combatido desde então. Isso mostra, sim, que mesmo os gênios estão inseridos em um contexto sócio-histórico e cultural e que a ciência de uma época se relaciona à sua cultura e também sofre mudanças… de enfoques, de posturas, de paradigmas.

Diários pessoais são fontes para entender o pensamento e a vida emocional de um indivíduo, e também o contexto histórico em que viveu. Representam também processos mentais, a partir dos quais às vezes derramamos alguns pingos em papéis que – imaginamos – permanecerão íntimos. Neles podemos, sim, desabastecer nossa consciência dos preconceitos que nela habitam e raciocinar sobre eles, em forma de palavras. Após essa reflexão, expor ideias mais racionais, construídas sobre bases reflexivas.

Ninguém nasce xenófobo ou racista, mas ninguém nasce naturalmente livre de possibilidade de construir preconceitos ao longo da existência. Esse é um labor que devemos carregar pela vida: estranhando, aproximando, compreendendo e alicerçando o respeito com base na compreensão das diferenças. Não se trata de relativizar o racismo, obviamente, e sim o tempo histórico e as visões de mundo então predominantes.

Bem pior é a persistência do racismo (mascarado) em uma sociedade completamente miscigenada e em pleno século XXI, quando o tema científico da raça já caiu por terra faz tempo e em que a antropologia já mostrou que não há culturas superiores ou inferiores, nem razões genéticas e biológicas de pertencer a uma “forma” de cultura ou outra.

Ou seja, a persistência do racismo em uma sociedade como a brasileira atual, hipócrita na raiz.

 

Daniel é antropólogo e historiador. Trabalha como professor universitário e é servidor do Instituto Brasileiro de Museus. Atualmente coordena o Museu Palácio Rio Negro (IBRAM). Mora em Petrópolis desde 2014. Também escreve contos e poesias.

 

 

 

 

As opiniões contidas não representam a opinião do site; a responsabilidade é do autor da publicação.


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